Agricultura reúne especialistas na comemoração dos 115 anos do Instituto de Zootecnia

Evento aborda transferência de tecnologia às cadeias produtivas da carne, leite, aves e ovos com inovação e sustentabilidade

seg, 20/07/2020 - 20h17 | Do Portal do Governo
DownloadDivulgação/Secretaria de Agricultura e Abastecimento

O Instituto de Zootecnia (IZ), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, completou 115 anos de atuação ininterrupta no dia 15 de julho de 2020. A instituição é referência nacional e internacional em pesquisas científicas nas áreas de produção animal e pastagens. Para celebrar a data, o IZ realizou na última quarta-feira (15) uma transmissão ao vivo com o tema “Como o IZ chega à sua mesa”.

O evento online contou com a participação do secretário de Agricultura e Abastecimento, Gustavo Junqueira, do diretor do Instituto, Luiz Ayroza, de pesquisadores e parceiros do mercado agropecuário. A comemoração do aniversário do Instituto seguiu até sexta-feira (17), com webinários em parceria com a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag).

Os eventos podem ser assistidos em: https://www.youtube.com/watch?v=rSZC_clwqsA e https://www.youtube.com/channel/UCFEJHmywPOirC1xO0e6aaXA. O objetivo da live foi abordar a presença do IZ no cotidiano da população por meio das três cadeias de produção trabalhadas no instituto: carne, leite, aves e ovos.

O secretário de Agricultura iniciou agradecendo o engajamento de todos, a participação dos convidados e parabenizou a Instituição pela trajetória de sucesso, e disse que se “sentiu muito feliz em ter a oportunidade de ser o Secretário neste aniversário de 115 anos do IZ” e a todo tempo enfatizou a integração dos elos de todas as cadeias produtivas.

Luiz Ayroza abriu o evento destacando a trajetória histórica do Instituto e sobre as diversas tecnologias e atividades geradas, que estão no dia a dia da população, seja no campo ou na cidade, por meio de acesso a novas formas de produção e alimentos saudáveis.

O reflexo desses trabalhos também está no mercado internacional, já que os resultados ultrapassam as fronteiras com a exportação de produtos e tecnologias agropecuárias.

Mercado

De início, o secretário Gustavo Junqueira lançou uma pergunta descontraída sobre preço da arroba do boi ao presidente do Grupo Pecuária Brasil (GPB) e proprietário da Fazenda Morada do Sol – Agropecuária OFJ, pecuarista Oswaldo Furlan Junior, que comentou que o mercado vem firme para a pecuária de corte e as exportações em ascendência.

Apesar de ter ocorrido uma queda no mercado interno, ela não atrapalhou economicamente a produção dos alimentos, ressaltando ainda “a capacidade do pecuarista em ter a produção de carne à disposição do consumidor e a garantia de que não faltará o produto de qualidade neste ano”.

O secretário também destacou o Dia do Pecuarista, celebrado em 15 de julho, e enfatizou o papel fundamental do GPB na disponibilização das informações digitalizadas de forma uniforme e exclusiva ao produtor, focadas em custos, manejo, e gestão, que garantem expressivo ganho de produtividade.

Furlan, que representou os pecuaristas, destacou o trabalho do GPB que iniciou em 2014 e a importância das redes sociais que agregou ao produtor informação de qualidade na palma da mão.

“O Grupo veio com o conceito de trazer a informação, a troca de experiência, e levar ao mercado o preço da arroba do boi em tempo real, por meio do balizador GBP, que em breve se tornará um índice oficial”, disse.

Ciência

Furlan considerou que a contribuição da ciência na indústria de proteína animal é importante para melhorar a rentabilidade do produtor rural. O pecuarista tem uma instituição de pesquisa agropecuária centenária, que oferece o que há de melhor em genética, com profissionais especialistas na área.

“Hoje temos a parceria com o IZ, vários grupos de WhatsApp do GPB. Vejo que o produtor tem que sair da porteira e procurar o que a ciência tem a oferecer de melhor para aumentar a rentabilidade de sua produção”, completou.

Karla Camargo, diretora de Relações Governamentais da Boehriger Ingelheim Saúde Animal, comentou como melhorar a cadeia produtiva partindo da experiência da indústria, que também é uma empresa com 135 anos, que promove a saúde e inovação, com grande foco em pesquisa.

“O desenvolvimento do setor acontece a partir de associações e integração com institutos de pesquisa, com organizações que promovem o desenvolvimento e o conhecimento. Trabalhamos com cerca de 30 organizações no mundo”, disse a gestora.

Segundo Karla, o investimento da empresa em pesquisa gira em torno de 10% do faturamento. “No ano passado, investimos 3,5 bilhões de euros em pesquisa, é um investimento substancial, para chegar ao produtor com as melhores tecnologias, garantindo rentabilidade, produtividade e segurança para o consumidor”, salientou.

Joslaine Cyrillo, pesquisadora e diretora do Centro Avançado de Pesquisa de Bovinos de Corte do IZ, destacou que como em toda ciência os fatores são multidisciplinares, e o objetivo final é a produção animal com alta qualidade.

Para a diretora, que trabalha com melhoramento genético, não tem como trabalhar sem a integração com a nutrição, sanidade e bem-estar animal. “Estamos passando por uma fase muito produtiva, tivemos nos últimos três anos um investimento robusto, e conseguimos construir um parque tecnológico que contempla todas as disciplinas na cadeia produtiva da bovinocultura de corte, considerando desde a estrutura básica, os modelos animais e equipamentos laboratoriais”, pontuou.

Leite

Ao abordar a cadeia produtiva do leite, o secretário Gustavo Junqueira lembrou que a atividade leiteira é a mais efetiva no agro brasileiro, está em grande parte das propriedades rurais brasileiras e é um setor muito heterogêneo que necessita de ações na gestão sanitária e financeira, para maior rentabilidade do produtor. Ele ainda destacou que é o setor com maior eficiência privada da economia brasileira, com pouca interferência do Estado.

O diretor do Centro de Bovinos de Leite, Luiz Carlos Roma Júnior, falou da pesquisa e comentou o que pode ser feito para conquistar o mercado internacional. “Leite é um desafio constante e o instituto tem total capacidade de colaborar com os produtores com pesquisas focadas na integração de todos os elos, visando a melhoria da qualidade do leite”, ressaltou.

“A palavra hoje é sustentabilidade, usando todos os recursos da propriedade para melhorar a qualidade do leite e atender as exigências para exportação. Hoje, temos a parceria com a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável [CDRS] com trabalhos de melhoria da qualidade do leite em todo o Estado de São Paulo, por meio do laboratório móvel para análises, e atendendo ao produtor com transferência de conhecimento e tecnologia”, enfatizou Roma.

Também foram citados os estudos relevantes para a história do IZ, com parcerias para o desenvolvimento de pesquisas com leite orgânico e com leite A2.

Aves e ovos

Na cadeia produtiva de aves e ovos, José Evandro de Moraes, pesquisador do Centro de Zootecnia Diversificada, falou como o IZ tem desenvolvido as pesquisas na área e destacou a importância de momentos como este para tratar do assunto.

Segundo Evandro, o instituto é um dos únicos laboratórios do país que faz avaliação de qualidade de ovos, recebendo amostras de diversos Estados brasileiros e Centros de Pesquisas que utilizam deste importante serviço. “Há muitas perguntas que só a pesquisa poderá responder, e há uma alta demanda para produtos orgânicos e livres de antibióticos”, disse.

“Recentemente, tivemos a grande surpresa pelo aumento de 30% na procura por ovos orgânicos dentro do estado de São Paulo, e para atender essa demanda a equipe está investindo em sistemas de produção, que irão avaliar o uso dos manejos sem os antibióticos, com apoio ainda do melhoramento genético em parceira com a Esalq-USP e as Casas Genéticas Internacionais de aves especificas para a criação solta – livres de gaiola”, detalhou Evandro.

Segundo Evandro, as linhas de pesquisa são relevantes e terão grande retorno. “Há uma previsão de aumento de 40% na produção atual de ovos para os próximos dez anos, e a população quer esse ovo de qualidade oriundo de sistemas orgânicos ou livre de antibióticos.

Oportunidades

Os participantes encerraram a live falando das expectativas e oportunidades, destacando para o futuro os benefícios da pesquisa científica, o associativismo e a integração dos elos das cadeias. Além de pensar no consumidor, que está mais exigente por produtos saudáveis.

Ainda destacaram a busca da integração de diferentes tecnologias para entregar soluções preditivas aos produtores, para que possam se antecipar de forma mais assertiva diante das demandas de cada cadeia, para aumentar a produtividade e diminuir os custos operacionais.

O secretário destacou o trabalho do coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Antonio Batista Filho, que tem feito a reorientação das pesquisas no Estado de São Paulo ao selecionar as mais relevantes, que trarão benefícios à produção agropecuária.

A tecnologia está cada dia mais complexa e ao mesmo tempo necessária, exigindo dos pesquisadores uma visão de trabalho multidisciplinar e sistêmico. “A palavra-chave é a integração, com a aproximação das Coordenadorias da Secretaria para se ter maior conhecimento sobre as demandas do setor produtivo e as exigências do consumidor”, finalizou Ayroza.

História do IZ

Referência nacional e internacional por suas pesquisas científicas nas áreas de produção animal e pastagens, desde 1909, o Instituto já realizava as primeiras seleções de Gado Caracu, na Fazenda de Seleção do Gado Nacional, em Nova Odessa, no interior de São Paulo.

Foi com a contribuição extremamente marcante e eficaz do doutor Carlos Botelho, que ocupava o cargo de secretário de Agricultura, que em 15 de julho de 1905, foi criado, na Mooca, em São Paulo, o Posto Zootécnico Central. Permaneceu ali até 1929 e depois transferiu-se para o Parque da Água Branca, em São Paulo.

Em 1970, passou a ser denominado Instituto de Zootecnia, adaptando-o às necessidades exigidas pela grande expansão que vinha alcançando a produção animal nas últimas décadas. De 1970 a 1975, a sede permaneceu no Parque da Água Branca, transferindo-se então para a cidade de Nova Odessa.

A unidade compreende os Centros de Pesquisa de Bovinos de Leite, de Nutrição Animal e Pastagens, de Genética e Reprodução Animal e de Zootecnia Diversificada; em Sertãozinho, está o Centro Avançado de Pesquisa de Bovinos de Corte; e cinco Unidades de Pesquisa e Desenvolvimento nos municípios de Registro, Tanquinho, Itapeva, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, municípios do interior do estado.

Com unidades localizadas em áreas estratégicas do Estado de São Paulo, o IZ conta com 156 funcionários, sendo 44 pesquisadores científicos com mestrado, doutorado e pós-doutorado, e 112 servidores, dentre assistentes, técnicos auxiliares e oficiais de apoio à pesquisa científica e tecnológica. Atualmente, mantém mais de 30 parceiros entre empresas, indústrias, frigoríficos e produtores. Tem em estudo 61 projetos de pesquisas, com diversos artigos publicados em revistas científicas de excelência. E é essa pesquisa e inovação que está à disposição do produtor rural, integrando mercado e indústria.

Para diminuir a distância entre a pesquisa, o produtor e a sociedade, cumprindo as diretrizes do Governo do Estado de São Paulo, o IZ mantém as portas abertas para a sociedade, principalmente aos estudantes, grandes formadores de opinião. Ainda conta com atividades para estagiários por meio de contratos com Universidades.

O IZ também mantém, desde 2009, o programa de pós-graduação em “Produção Animal Sustentável”, nível mestrado, reconhecido pela CAPES. O programa tem como objetivo capacitar e formar profissionais da área com enfoque em produção animal eficiente, qualidade de produto animal e redução de impactos ambientais provocados pelas atividades de produção.

Desde 1941, o IZ também publica o Boletim de Indústria Animal, de acesso livre, com resultados científicos do instituto e de outras instituições.