Agricultura: Pesquisas IAC contribuem para conservação do solo

Estudo mostra como a saúde do solo influi na qualidade dos produtos, no sucesso do campo e no cotidiano da população

qui, 13/04/2006 - 15h40 | Do Portal do Governo

A população percebe os reflexos de desequilíbrios da natureza no dia-a-dia. Uma caminhada pelos supermercados, varejões ou feiras e as pessoas notam a variação dos preços, a alteração na qualidade de frutas e hortaliças ou ainda a escassez de um ou outro produto. Mas o consumidor nem sempre relaciona esses problemas com o início da cadeia produtiva, lá no campo. Ou melhor, no solo, que acolhe as culturas e as fazem germinar e desenvolver.

Dia 15 de abril é Dia da Conservação do Solo e, embora, existam conquistas a comemorar, a preocupação nessa área ainda é grande. “Por muito tempo, conservar o solo significou apenas controlar a erosão, que é a principal causa da degradação dos solos e da redução de sua capacidade produtiva. Atualmente, o conceito de conservação inclui também a manutenção da qualidade das propriedades do solo, inclusive a fertilidade, assegurando que ele cumpra sua função”, explica a pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC), Isabella Clerici De Maria. O solo – gerador de tantos produtos indispensáveis para a humanidade – vem sofrendo impactos desde o início da atividade agropecuária, da industrialização e pela urbanização desordenada. Na agricultura, a erosão e a poluição o maltratam pelo manejo inadequado. Embora os efeitos da erosão e a necessidade de conservação do solo sejam reconhecidos a longo tempo e por grande parte da população, a situação atual ainda está longe do ideal e muito ainda precisa ser feito para reduzir a erosão e seus efeitos.

No IAC, a pesquisa voltada para a conservação do solo começou em 1943. Com estudos e os avanços tecnológicos, problemas e soluções foram mudando ao longo do tempo, mas os desafios ainda persistem, segundo a pesquisadora. A preservação do solo e da água depende da incorporação de tecnologias e práticas conservacionistas aos sistemas de produção já instalados. É necessária a adoção de ferramentas que possam ter aplicação ampla na atividade agrícola de pequenos, médios e grandes agricultores. O mais interessante é que é possível obter significativos resultados com práticas simples e de baixo custo. “A manutenção de cobertura vegetal sobre o solo em maior quantidade e  maior tempo possível é a coisa mais simples e mais eficiente para se conservar o solo”, afirma Isabella.

A substituição do plantio convencional pelo sistema de plantio direto é  a principal orientação na busca pela agricultura sustentável. Trata-se da troca do uso de práticas mecânicas, como aração e gradagem, que movimentam excessivamente o solo e deixam a superfície descoberta, pelo método do plantio direto, que por meio da cobertura morta sobre o solo, valoriza suas características físicas, orgânicas e biológicas, preserva a água e evita a erosão.

Experimentos realizados pelo IAC sobre as relações entre a erosão do solo e sua produtividade mostraram que alterações no conteúdo de carbono orgânico e o pH puderam ser claramente atribuídas à erosão. “Por causa da erosão o solo ficou mais ácido e com menor conteúdo de matéria orgânica”, diz Isabella.  

O tempo é um fator importante na saúde do solo, que não chega a ficar inutilizável, mas perde sua capacidade produtiva dependendo do período que ficar sendo erodido e do grau de erosão. “Um solo razoavelmente resistente à erosão, sem práticas conservacionistas,  pode perder cerca de 10 cm em 15 anos. O solo pode perder cerca de 10 a 20% da capacidade produtiva, mas vai continuar produzindo por que o agricultor vai colocar insumos para superar essa perda”, avalia a pesquisadora do IAC.

Diante de processos visíveis, como sulcos, ravinamento e voçorocas, fenômenos que impactam diretamente a produção, prejudicam estradas e assoreiam reservatórios em períodos curtos, o produtor não tem outra alternativa a não ser adotar medidas de controle.  Mas já com problemas não visíveis, como erosão laminar, a maior responsável pelo arraste de sedimentos, os agricultores não costumam agir no combate.

O que o agricultor sempre percebe é o aumento dos custos de produção, causado pela falta de conservação do solo. “O produtor tem que consertar os problemas causados por erosão ou acaba tendo que gastar mais dinheiro para repor sementes e fertilizantes perdidos pela erosão”, diz Isabella.

Resultados IAC

O IAC vem dando suas contribuições para amenizar esse problema e uma das principais são os ensaios permanentes, que ficam por longo período no campo. Hoje, objetivo da pesquisa é o desenvolvimento tecnológico do sistema plantio direto, a fim de aumentar sua adoção pelos agricultores.  

As pesquisas no IAC são orientadas no sentido de decifrar o processo erosivo e os parâmetros que o controlam a fim de propor soluções. Esses estudos envolvem, por exemplo, compactação do solo, uso de chuva natural e de simulador de chuvas, além de modelos matemáticos que descrevem o processo erosivo. Com essas pesquisas é possível apontar a causa da erosão e onde ela está ocorrendo.  “O IAC teve grande contribuição na pesquisa em erosão. A maior parte dos dados existentes sobre perdas foi gerada aqui.”

Sociedade

Engana-se quem pensa que conservar o solo é problema de quem vive no campo. Os benefícios com conservação do solo e da água alcançam a sociedade em geral por proporcionar avanços quantitativos e qualitativos da oferta de água. A pesquisadora Isabella afirma que a falta de conservação provoca o assoreamento, a redução da capacidade de reter e conduzir água, gera enchentes, reduz o tempo de vida dos reservatórios, prejudicando a geração de energia elétrica ou reduzindo o volume de água para irrigação e abastecimento público.

Em áreas urbanas, a percepção da erosão é bastante restrita, apesar de a preocupação ambiental na sociedade ser crescente. Levantamento recente mostrou que a maior parte das grandes erosões no Estado de São Paulo está relacionada a estradas.  Na avaliação da pesquisadora, mais educação e treinamento em todos os níveis poderiam ajudar.

Os agricultores estão fazendo a sua parte. Segundo Isabella, cada vez mais eles têm consciência da necessidade de conservação do solo e para isso vêm adotando tecnologias nessa área. É o caso do crescimento da utilização do sistema plantio direto, o sistema mais conservacionista.

Da Assessora de Imprensa – IAC