Agricultura: Cientista do IAC integra grupo que estuda melhoria genética em citrus

Machado faz parte de equipe que foi aos Estados Unidos participar de eventos sobre genoma da laranja

ter, 16/01/2007 - 14h32 | Do Portal do Governo

Cientistas de várias instituições de pesquisa no Brasil já conseguiram mapear o seqüenciamento genético de aproximadamente 55 mil genes de frutas cítricas, sendo 32 mil só de laranjas. É o maior banco de dados deste tipo no mundo. O objetivo é gerar plantas resistentes a doenças da citricultura, atividade estratégica para a agricultura brasileira, que fatura US$ 1,5 bilhão a cada ano. O Instituto Agronômico de Campinas, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, é uma das principais entidades que participam na pesquisa genética dos citrus.

O estudo foi iniciado em 2001 e acompanhado pelo Instituto do Milênio de Integração de Melhoramento Genético, Genoma Funcional e Comparativo de Citros. A organização, formada por pesquisadores da USP, Embrapa, Unicamp, Unesp e universidades federais em Minas Gerais e Paraná, tem como coordenador de estudos o cientista Marcos Machado, do Instituto Agronômico.Além do banco de dados, informa Machado, a pesquisa gerou centenas de híbridos diferentes que estão sendo avaliados em condições de campo. “Montamos uma rede experimental para testar as plantas selecionadas por sua resistência a doenças”, explica.

O melhoramento genético de uma só espécie, garante Machado, já é suficiente para compensar os esforços de pesquisa. “Se um dos nossos híbridos for igual ou melhor do que, por exemplo, o tangor murcott (um dos melhores plantados no Brasil), já pagará todo o programa”, afirmou Machado. Ele se refere ao híbrido de tangerina e laranja, que tem atualmente 10 milhões de pés plantados apenas no Estado de São Paulo. A espécie é processada pela indústria e ainda serve para ser vendida como mexerica. Competição e cooperação – O próximo passo dos pesquisadores do Instituto Agronômico é a negociação com grupos norte-americanos para definir a participação brasileira no projeto de seqüenciamento completo do genoma da laranja. Uma equipe do Instituto do Milênio viajou em janeiro até o Joint Genome Institute, do Departamento de Energia dos Estados Unidos.

“Vamos trabalhar em conjunto com o Consórcio Internacional para Seqüenciamento do Genoma de Citrus, do qual somos membros fundadores”, explicou Marcos Machado, que faz parte do grupo que viajou aos Estados Unidos. Criado há quatro anos, o consórcio conta também com a participação de representantes do Japão, Espanha, Austrália, China, Israel, Itália e França.

O consórcio teve limitações, desde sua criação, principalmente por conta da intensa concorrência comercial entre o Estado de São Paulo e o da Flórida, os dois maiores produtores mundiais. Na concepção de trabalho dos norte-americanos, dados obtidos em projetos financiados com recursos públicos devem ser tornados públicos irrestrita e imediatamente. “Mas não é o nosso ponto de vista”, ressaltou o pesquisador do IAC. Apesar disso, os representantes buscam, na reunião dos Estados Unidos, o seqüenciamento total da laranja e do restante de sua família de frutos cítricos.

Machado conta que o modelo de exploração agrícola brasileiro para os citrus está esgotado, pois trabalha com pouca variedade, é muito extensivo, tem amplo uso de defensivos e alto custo de produção. “Ainda assim, nossas chances de liderar o mercado mundial são enormes.”

Ele diz que a citricultura na Flórida encontra-se debilitada. “Eles perderam o controle do cancro cítrico e de doenças como o greening. Os furacões também são problemas sérios para controle de doenças. Ainda existe no local pressão imobiliária violenta nas áreas de cultivo e custos muito altos de produção. O Brasil precisa aproveitar a oportunidade para se consolidar como maior produtor”, assegura Machado.

Bichos da laranja

A citricultura é a segunda atividade agrícola paulista depois da cana-de-açúcar. O Estado é o maior exportador mundial de suco de laranja e domina metade do mercado global. Por isso, é tão importante combater as pragas da laranja pela utilização de novos híbridos.

A doença que acarreta maiores prejuízos atualmente é a leprose, sustenta Machado. A citricultura paulista gasta cerca de US$ 100 milhões anualmente no controle químico do agente vetor, um ácaro que transmite o vírus da doença. A clorose variegada dos citros (CVC), conhecida como amarelinho, causada pela Xylella fastidiosa, atinge atualmente 47% das plantas em São Paulo. “Há estimativas de que sejam gastos quase R$ 100 milhões por ano no controle da CVC”, calcula Machado. O combate geralmente implica eliminação e poda das plantas doentes, com controle químico do vetor.

O fato de as plantas de cítricos ser perenes aumenta a dificuldade de controle das doenças. Uma das mais difíceis é a gomose. “Não há estimativa precisa sobre quanto ela traz de prejuízo, mas São Paulo produz 15 milhões de plantas por ano e a gomose mata 10%”, disse.

O greening é apontado como a mais terrível doença da laranjeira. “Foi detectado em 2004 e ainda não há dados estatísticos sobre o prejuízo. Mas, nas partes do mundo em que a doença chegou, a citricultura acabou”, disse Machado.

O greening, de acordo com o pesquisador, está presente em cerca de 110 municípios paulistas. “A única solução é eliminar a árvore. Normalmente, as doenças destas plantas não matam o pé, mas esse não é o caso do greening”, afirma. A doença é conhecida há cem anos, mas estava restrita à Ásia e à África do Sul.

“O cancro cítrico, causado pela Xanthomonas, é uma doença que não se vê muito, porém é uma das que causam mais prejuízos”, predisse Machado. Anualmente, conta ele, são gastos R$ 40 milhões em contenção do cancro, nas áreas em que ocorre.

“Uma vez que entre numa área, o cancro não sai mais. A luta é impedir o avanço. A doença não aparece muito, justamente porque se gasta muito nos programas de erradicação”, disse.

Da Agência Fapesp