Toninho da Farinheira, Toninho Vital, ou simplesmente Toninho. Chamado de várias formas, Antonio Vital, de 54 anos, é também um inventor plural. Projetou as várias máquinas que usa em sua agroindústria artesanal de farinha de mandioca, construída no lote 53 do Assentamento Esmeralda, na cidade de Pereira Barreto. Embora num primeiro momento não pareça, as duas características estão relacionadas. Toninho diz que as invenções o ajudam a produzir farinha de “altíssima qualidade”, conhecida em toda a região. “As das fábricas por aí custam R$ 39 a saca, enquanto a minha sai por R$ 80”, mas o pessoal sabe bem por que, afirma ele, que ganhou fama local e, em consequência, os apelidos.
Em 2001, plantava mandioca para uma indústria, quando resolveu montar, em um “barraquinho”, como define, uma pequena fábrica. Logo depois, desenvolveu a sua primeira ideia de equipamento para facilitar o próprio trabalho. Em pouco tempo, a prensa estava pronta e em atividade. “Conforme foi surgindo a necessidade, fui criando”, recorda com simplicidade. Feita com um macaco de levantar carro, a engenhoca tem melhor condição de manuseio do que as tradicionais, afirma. “As prensas costumam ser pesadas, duras de usar, e essa pode ser operada por uma mulher sem dificuldade”, assegura.
Na sequência, veio um ralador e, em 2003, a criação que lhe rendeu o terceiro lugar num concurso de inventores rurais promovido pelo Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp). A máquina premiada é o descascador de mandioca, que em três horas realiza o trabalho que seis homens demoram oito: descasca e lava 350 quilos da raiz. “Mas não tira o emprego de ninguém. Porque o que eu crio é para ser usado na agricultura familiar. A minha área é de industrializar, agregar valor ao produto da agricultura familiar”, garante.
Com isso em mente, não pensou duas vezes ao ouvir a recomendação do técnico do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) para que patenteasse os produtos. Com a ajuda do órgão, logo providenciou a documentação. “Tenho a patente de tudo que desenvolvi. Sou grato pelo apoio fundamental do instituto”.
A melhor
A última invenção de Vital é uma fornalha mecanizada, com quatro pás que se movem em revezamento. “Não precisa de ninguém para manuseá-la porque é mecanizada. Enquanto em um forno comum, com uma pessoa mexendo, pode ser torrada uma saca de farinha, na minha fornalha são torradas quatro”, comemora. O processo de criação para ele é tão automático que define seu talento de maneira simples: “Vejo algo que pode ser útil e logo imagino que dá para fazer melhor ou, conforme sinto necessidade, vou inventando”, conta.
As primeiras peças, ele confeccionou sozinho. As atuais, manda construir assim que define o projeto. Porém, seu objetivo maior é mesmo fazer a melhor farinha da região. “Isso eu garanto com a qualidade das mandiocas que utilizo e os cuidados no processamento”, afirma. As raízes, adquire a maior parte dos vizinhos, no Assentamento Esmeralda. Processa 20 sacos de 50 quilos de mandioca por mês, ou uma tonelada. Só usa produção própria quando não consegue comprar. “Planto a minha como garantia”, previne-se.
Criatividade exportada
Criatividade e eficiência atraíram atenção além-mar. Numa visita ao assentamento, um engenheiro que trabalha para uma indústria de Angola ficou impressionado com as máquinas de Antonio Vital. Levou fotos delas para lá, que renderam um contrato para a construção dos equipamentos e para a realização de serviços de capacitação. Ao embarcar, para ficar em Angola por alguns meses, Toninho já havia mandado as 12 máquinas encomendadas e definido novas metas para a sua fábrica, em plena expansão. Agora, pretende triplicar a produção, passando das atuais 50 sacas de farinha por mês para 150. “E mantendo a qualidade, pois só produzo por encomenda, não estoco, que é para ter o produto sempre fresquinho”. A clientela necessária para a produção ampliada ele tem certeza que já possui.
Da Agência Imprensa Oficial
