Adolfo Lutz detecta anabolizantes em suplementos vendidos a atletas

Levantamento indica que 85,6% das amostras analisadas não apresentaram informação de procedência

qua, 04/02/2009 - 13h08 | Do Portal do Governo

Um em cada quatro suplementos vitamínicos comercializados para atletas camuflam presença de esteróides anabolizantes, proibidos no Brasil. A informação divulgada pela Secretaria de Estado da Saúde baseia-se em relatório do Instituto Adolfo Lutz, que analisou 111 amostras do produto.

Os suplementos, vendidos em muitas academias de ginástica da capital e do interior do Estado de São Paulo, foram apreendidos pela polícia e serviços de vigilância sanitária locais em 2007.

A pesquisadora da seção de antibióticos do instituto, Maria Regina Koschtschak, diz que durante um ano o setor realizou testes para identificar a presença ou ausência de anabolizantes nas amostras de suplementos. Esta foi a primeira vez que os técnicos, farmacêuticos e bioquímicos analisaram o produto, por solicitação do Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado São Paulo.  

O levantamento também apontou que 85,6% dos suplementos não apresentavam informação de procedência. Nas demais amostras, 5,4% eram nacionais e 9%, importadas.

Regina recomenda ao atleta que desconfie de propaganda de suplemento que promete hipertrofia muscular: “O estudo revelou que é perigoso o praticante de atividade física tomar o produto sem saber a composição, já que a presença de anabolizante não era mencionada na fórmula”.

Sem mágica – Das 111 amostras verificadas, 33% eram comprimidos, 16% pó, e 41%, cápsulas, provavelmente, para facilitar a manipulação e a incorporação de outras substâncias farmacologicamente ativas, além dos nutrientes.

“Quem é saudável e pratica atividade física leve, duas ou três vezes por semana, não precisa ingerir suplementos”, afirma a pesquisadora. Já os atletas profissionais devem procurar o médico ou o nutricionista, que recomendará o produto mais adequado.

“O estudo foi realizado para evitar o consumo incorreto, que pode ser fatal”, alerta Regina. É possível que a ingestão de anabolizante sem orientação médica cause problemas, entre eles acne, oscilação de humor, irritabilidade, agressividade, hipertensão arterial, esterilidade, insônia, dor de cabeça, aumento de colesterol ruim, problemas cardíacos, câncer hepático e distúrbios testiculares e menstruais. Impotência sexual, calvície e desenvolvimento de mamas são alguns efeitos constatados nos homens. Nas mulheres, crescimento indevido de pelos, engrossamento da voz e alteração menstrual.

“A presença de substâncias proibidas em suplementos alimentares expõe os praticantes de atividades físicas em situação de risco. É importante ter em mente que não existem fórmulas mágicas para se entrar em forma. Todo produto que promete resultados milagrosos deve ser olhado com desconfiança”, diz a pesquisadora de microbiologia de medicamentos do Adolfo Lutz, Adriana Bugno.

Regulamentação – Regina informa que os efeitos dos anabolizantes são visíveis rapidamente ou depois de algum tempo, de acordo com a reação do organismo. “Ao consumir um produto, é necessário saber a procedência e seguir orientação médica ou de nutricionista”, aconselha a pesquisadora. Informações como nome do fabricante, endereço e contato serão úteis ao consumidor e profissional de saúde, caso identifiquem irregularidade.

A legislação brasileira que regulamenta os alimentos para atletas exclui produtos que contenham substâncias farmacológicas estimulantes, hormônios e outras consideradas como dopping pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), embora não haja menção direta aos suplementos nutricionais.

Os suplementos irregulares são interditados pelo CVS. Se há identificação do fabricante, as empresas são notificadas. Já as irregularidades encontradas em produtos importados ou sem identificação são relatadas ao importador e à Anvisa.

A seção de antibióticos do Instituto Adolfo Lutz é responsável rotineiramente pela análise de diversos medicamentos, como antibiótico, hormônio, antirretroviral, anticoncepcional e outros. Também recebe solicitação de análise da Vigilância Sanitária ou de programas para verificar a qualidade de remédios.

Viviane Gomes – Da Agência Imprensa Oficial