Acidentes com águas-vivas foram acima do normal, diz médico

Neste início de verão já foram registrados mais de 900 casos de queimaduras por caravelas

dom, 06/01/2008 - 14h09 | Do Portal do Governo

Neste início de verão já foram registrados mais de 900 casos de queimaduras por caravelas –espécie de água-viva- em banhistas de Praia Grande e Mongaguá, além de ocorrências esparsas em Peruíbe, Santos, São Vicente e Guarujá, municípios do Litoral Sul do Estado de São Paulo. “Trata-se de um perfil bem acima do que costuma ocorrer na região”, afirma o dermatologista Vidal Haddad Jr., docente da Faculdade de Medicina (FM) câmpus de Botucatu, especialista em acidentes com animas aquáticos.

Para entender a situação, após contato com a Secretaria de Saúde de Praia Grande e com o médico local Adriano Bechara, Haddad Jr. analisou 280 fichas médicas de pacientes atendidos no período. “Verifiquei, por exemplo, que após o surto dos dias 29 e 30 de dezembro, em conseqüência do grande número de animais trazidos às praias por correntes marítimas frias, não houve nenhum caso no dia 2 de janeiro”, comenta. “Isso não quer dizer que o problema esteja resolvido e que não deve se manifestar novamente”. Segundo o médico, há cerca de 15 anos aconteceu o mesmo no Guarujá, com um grande número de pessoas envenenadas e uma redução súbita do fluxo.

Diante do aumento de acidentes na região, a maior preocupação do médico, juntamente com a Secretaria de Saúde, foi padronizar o atendimento. “Baseado em meus dez anos de experiência na área, orientamos os banhistas a usar como primeiro socorro compressas de água do mar gelada, que tem efeito analgésico. Banhar o local afetado com vinagre também é útil”. O médico explica que urina, corticóide, álcool ou Coca-Cola, utilizados pela população para aliviar os sintomas, não têm comprovação científica e seus usos devem ser evitados, sob pena de agravamento do quadro.

Haddad Jr. lembra que tem adotado esses procedimentos com excelentes resultados. “Casos que apresentem hipotensão arterial e arritmias cardíacas devem ser encaminhados com urgência para um hospital”, recomenda o médico. A mesma providência deve ser tomada se a dor persistir após as medidas de primeiros socorros.

Com o auxílio de colaboradores de Ubatuba, São Sebastião e Caraguatatuba, além de Praia Grande, o dermatologista pretende fazer uma análise das ocorrências de caravelas na região. A idéia é manter a população informada, principalmente durante a período de 23 a 30 de janeiro, quando deverá aumentar o fluxo de pessoas, por ocasião da Universidade de Verão, a ser realizada na Praia Grande. “Atenderemos no estande número 3, na Praia do Boqueirão”, informa Haddad Jr.

Sobre os animais – Responsáveis por 25% dos acidentes por animais marinhos no Brasil, as caravelas são animais Cnidários, ou seja, com tentáculos portadores de pequenas cápsulas na epiderme, chamadas nematocistos, que são preenchidas com substâncias venenosas de ação neurotóxica e dermatonecrótica. Ao serem disparadas por contato, essas cápsulas liberam as substâncias, causando dor intensa imediatamente após o contato. Raramente as substâncias provocam dificuldade para respirar, mal estar, hipotensão arterial e arritmias cardíacas.

As classes de cnidários ligadas a acidentes em humanos são: Anthozoa (anêmonas e corais), Hidrozoa (caravelas e hidróides), Scyphozoa (as medusas ou águas-vivas verdadeiras) e Cubozoa (as cubomedusas, responsáveis pelos acidentes mais graves).

Da Unesp