A luta contra a violência no Morro do Samba

Levantamentos mostram que a violência está em queda em Diadema, há algum tempo.

sex, 16/02/2007 - 14h49 | Do Portal do Governo

Cleber Mata e Regina Amábile

Uma fita de vídeo apresentou à população brasileira o bairro de Morro do Samba, em Diadema, na Grande São Paulo. Eram imagens vergonhosas e inaceitáveis de uma festa ocorrida em dezembro de 2005, patrocinada por uma quadrilha de traficantes.     

A violência é real e preocupante no Morro do Samba. Não há muitos dados específicos sobre o lugar mas a maioria dos levantamentos mostra que a violência está em queda em Diadema, há algum tempo. Houve redução no número de homicídios. Os dados indicam que nos 12 meses de 2005 foram registrados 103 homicídios. Em 2006, foram 78 mortes. Segundo informações da polícia, é justamente o crime organizado o responsável pelo menos por 12 homicídios ocorridos no ano passado no bairro.     

O índice de latrocínios (roubo seguido de morte) foi reduzido em um terço: seis latrocínios registrados em 2005 contra dois registrados no ano seguinte. O balanço da Polícia indica também um aumento no número de prisões por tráfico de entorpecentes em Diadema. Foram 136 em 2005 contra 145 em 2006. O número de roubos foi praticamente inalterado (aproximadamente 3000 por ano). Os índices de furto indicam piora. Chegaram a 3.052 em 2006, cerca de 8% de acréscimo em relação a 2005. 

No ano passado, a Polícia Militar realizou uma “Operação Saturação” no lugar. Foram 51 dias de atividade, em julho e agosto, onde ocorreram mais de 17 mil buscas pessoais, 160 vistorias em estabelecimentos comerciais e busca em mais de cinco mil veículos. Foram capturadas cinco pessoas foragidas da Justiça e ocorreram 23 detenções. Cinco pessoas por receptação, uma por desacato, três por roubo, duas por roubo com retenção de vítima, cinco por porte de entorpecente, duas por uso de documento falso, duas por furto, uma por lesão corporal, duas por tráfico de entorpecente. Também foram apreendidos um quilo de crack, três armas de fogo e 167 munições de diversos calibres. Num local onde residem 3 000 pessoas, os policiais efetuaram 570 atendimentos odontológicos.

 Os moradores se dizem, até hoje, chocados com as imagens da festa dos criminosos, realizada em plena rua, sem que ninguém fosse incomodado. Para o delegado do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo) Ítallo Zaccaro Neto, o vídeo produz uma ilusão de ótica. Segundo o delegado, as cenas onde pessoas consomem drogas e exibem armas de fogo foram filmadas em locais específicos e escondidos, longe dos olhos da maioria de quem estava presente à festa, mas editados de forma a dar a impressão de que tudo aconteceu no meio da rua, à vista de todos. “Notamos que as imagens de elementos com drogas e armas são centralizadas. Isso pode ser um indício de que a polícia pode ter passado pela área no dia e não notado algo de estranho”, explica.   

A polícia civil e a PM tem um histórico de confronto com os bandidos da região. No ano passado, durante ataques da facção criminosa que atua nos presídios, 13 bandidos foram mortos. Cinco deles eram retratados num mural de rua que aparece no vídeo – e que ajudou a polícia a identificar o local do crime.

 “Foi a partir daquele muro que pudemos identificar a origem da fita,”  explica o delegado Italo. Segundo ele, o trabalho de investigação pretende identificar cada uma das pessoas que aparecem nas imagens. Elas podem ser indiciadas por apologia ao crime, formação de bando ou quadrilha e tráfico de drogas.  

Para os moradores do bairro, as imagens do vídeo não representam a vida cotidiana neste lugar onde, nos finais de semana, a população torce pelo Morro do Samba Futebol Clube, time formado por jovens da região que disputam a primeira divisão do Campeonato Municipal de Diadema.

“Quando tem jogo do MS é uma festa só”, explica Hélio Batista Silva, pai de três filhos, dono de uma mercearia. Uma das lideranças da comunidade, que costuma reunir os moradores uma vez por mês para discutir os problemas do local, a dona- de-casa Zenilda Oliveira diz que   o bairro é muito mais seguro do que se poderia imaginar. “Faço questão de deixar as janelas abertas, ainda mais nesse calor,” diz. Ali perto funciona o Hospital Estadual de Diadema que atende os moradores. O bairro tem uma escola estadual, onde a maioria das crianças está matriculada. Na rua, é possível encontrar crianças que jogam basquete, pulam cordas e jogam futebol. Na última quarta-feira, dia 14, adolescentes corriam atrás de pipas.