59% dos adolescentes gays não vão ao médico

Medo do preconceito inibe jovem de procurar assistência em locais apropriados, aponta pesquisa

dom, 29/06/2008 - 12h21 | Do Portal do Governo

O medo do preconceito e da discriminação faz com que os adolescentes gays de São Paulo se evitem ao máximo procurar unidades de saúde para acompanhamento médico. É o que aponta pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde realizada em maio com jovens que participaram da Parada do Orgulho GLBTT em São Paulo.

Foram entrevistados durante o evento 576 adolescentes menores de 20 anos, dos quais 527 se declararam lésbicas, gays, bissexuais, travestis ou transexuais. Desse total, apenas 41% disseram procurar assistência médica em locais considerados apropriados, como postos de saúde, clínicas ou hospitais. E a maioria dos que buscam assistência geralmente procuram os hospitais, normalmente para casos urgentes, não realizando acompanhamento regular.

Dos entrevistados, 82% disseram que gostariam de ser atendidos nos serviços de saúde sem preconceitos e com respeito, e avaliaram os serviços de saúde como inadequados e excludentes.

“Os adolescentes gays se sentem retraídos e resistem a buscar acompanhamento médico e psicológico em unidades de saúde. A rede de saúde precisa acolher esses  adolescentes, e não inibi-los, pois a vulnerabilidade pode fazer com que o jovem adote comportamentos de risco.”, afirma a coordenadora de Saúde do Adolescente da Secretaria, Albertina Duarte Takiuti.

A Secretaria está desenvolvendo programa específico para atendimento de adolescentes GLBTT em todo o Estado, estruturando a rede pública de saúde para lidar com esses jovens, sem quaisquer preconceitos, focando a prevenção de doenças e promoção de saúde. Será realizada uma ampla capacitação de profissionais de saúde em todo o Estado para o atendimento a esses jovens.

O objetivo da iniciativa é preparar a rede para abordar o adolescente de forma que ele não se sinta discriminado, para que fique à vontade para falar sobre sua conduta sexual ou afetiva, deixando de lado medos e vulnerabilidades que possam levá-lo a comportamentos de riscos à saúde, como o sexo sem preservativo ou abuso de drogas e álcool, por exemplo. A relação de confiança com os médicos também será fundamental para que o jovem também relate qualquer problema de saúde que possa estar ligado à opção sexual, evitando o agravamento da doença.

Na Casa do Adolescente de Pinheiros, serviço da Secretaria, os profissionais já são orientados a ter uma abordagem diferenciada para não intimidar o jovem. Em vez, por exemplo, de perguntar ao adolescente se ele tem namorado ou namorada, a recomendação é para que o questionamento seja se ele está saindo com alguém ou “como vão os amores”.

“Queremos trabalhar a auto-estima desse jovem, assim como as emoções e projetos pessoais, fatores determinantes do estilo de vida, que pode ser saudável ou não. O  adolescente gay normalmente já sofre discriminação no colégio e na família. No serviço de saúde isso não pode acontecer”, afirma Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente da Secretaria.

Levantamento informal realizado na Casa do Adolescente revela que 10% dos jovens atendidos mensalmente na unidade revelaram conduta GLBTT. Para Albertina o número pode ser ainda maior, pois muitos jovens ainda escondem esta informação, por medo do preconceito. Normalmente o adolescente assume sua condição após pelo menos três consultas.

Da Secretaria de Estado da Saúde

(M.C.)