2º Encontro de Museus-Casas em SP vai virar livro

Debates valorizaram importância da pesquisa, segurança nos museus e programas educativos

qui, 04/12/2008 - 8h12 | Do Portal do Governo

Quem participou do 2º Encontro de Museus-Casas em São Paulo se surpreendeu com a variedade de assuntos e novidades do seminário, que vai render diversas ações, entre as quais, a publicação de um livro em parceria com a Imprensa Oficial do Estado. O evento reuniu museólogos, diretores de museus, secretário de Estado, historiadores, pesquisadores e estudantes que vararam jornadas de até dez horas discutindo a função desses espaços.

Um tema que fascina e instiga ao mesmo tempo, na opinião dos palestrantes. Qual a diferença entre museus-casas e as casas históricas e no que estas se diferenciam dos museus, por exemplo? E quanto ao uso? Desta vez, a aposta foi na gestão desses patrimônios, valorização, sustentação e difusão desses bens, explica a curadora do Acervo dos Palácios, Ana Cristina Carvalho, à frente da organização da segunda edição do evento. Além disso, outros assuntos foram discutidos – a importância da pesquisa e novas tecnologias, a segurança nos museus, a valorização dos programas educativos e o impacto dos museus-casas nas comunidades em que estão instalados.

Segundo a curadora, a proposta é refletir sobre esses museus, que preservam e divulgam seus bens patrimoniais visando a encontrar novas possibilidades de apropriação da herança artístico-cultural, por meio dos recursos disponíveis para uma gestão eficaz. 

Conservar para usar – A partir dos anos 1990, essas instituições passaram a exigir novas práticas de gestão, comenta a curadora. “Não são apenas casas de memória que representam o passado, mas espaços vivos que requerem ações mais complexas e direcionadas para a comunicação com seus públicos, além de ocupar papel fundamental na vida social do homem contemporâneo”.

Ana compartilha da opinião da maioria dos palestrantes: as casas-museus constituem rico patrimônio que precisa ser gerido, debatido, não só do ponto de vista da classificação e categorização, mas, principalmente quanto ao seu uso. “Não faz sentido conservar se a gente não puder dar uso ao espaço, disponibilizar o acervo. Esse conhecimento tem de voltar ao público, à sociedade”.

O encontro que durou três dias – organizado pelo Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado – foi realizado, respectivamente, no Palácio dos Bandeirantes, com convidados ilustres, entre eles a palestrante Daniela Ball, presidente do Comitê Internacional dos Museus-Casas e Casas Históricas, do Conselho Internacional de Museus, da Suíça, no Horto Florestal e na Fazenda do Pinhal, em São Carlos. Em sua palestra, Ball explicou que os museus-casas têm muitos subtipos (palácio-museu, casa histórica, museu casa do escritor, casa do colecionador, casa modernista, além de outros). “É importante ter consciência dessa unidade museológica, definir sua função, porque, assim, fica mais fácil fazer planejamentos, criar focos, metas e atividades”.

Para ela, os museus-casas têm muito charme, são menores, portanto, com âmbito mais comunitário, enfim, uma referência social muito importante para a comunidade em que se acha inserido.

Discussão é tendência – Um exemplo é a Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, e uma das parceiras no encontro, juntamente com a Fazenda do Pinhal. A Casa de Rui é pioneira, há muitos anos, na discussão dos problemas que dizem respeito aos museus-casas, conta a museóloga, especialista na área de restauração e conservação de bens culturais, Jurema Seckler, chefe do Museu-Casa de Rui Barbosa. De olho no futuro, a Casa promove oficinas de museografia, eventos nacionais e internacionais de grande sucesso. “Juntamos nossas experiências e promovemos o 1º encontro no ano passado, com o tema Atrair e Encantar, com ênfase na fidelidade do público, uma maneira de poder atrair e encantar as pessoas. Esse tema também fará parte do livro a ser lançado. Neste ano, Ana Cristina pensou em algo mais para o dia-a-dia, mais chão, voltado para a importância da pesquisa no museu, da conservação preventiva, que é a nossa luta diária”. Jurema comenta que discutir os museus-casas é uma tendência hoje em dia, por permitir a troca de idéias. Em Portugal, participou de encontro semelhante, recentemente, e pôde ver como o Brasil tem pontos em comum com aquele país. “São as nossas origens, temos a mesma cultura, a mesma história, a mesma língua. Um encontro com eles seria enriquecedor”. 

Exposição e visitas – Ana Cristina comemora a repercussão do 2º encontro, que reuniu quase cem pessoas, mesmo número de público do ano passado, e com igual interesse. Destaca, ainda, a presença de instituições que embora não sejam consideradas museus, estão igualmente ligadas ao patrimônio, como os centros culturais do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, as associações de patrimônio e as instituições vinculadas às prefeituras. “Interessante perceber que esse diálogo entre as diversas esferas estadual, municipal e federal está acontecendo”.

O 2º encontro foi também uma oportunidade para os participantes apreciarem exposições de arte, uma delas, Pessoas Modernas, em cartaz no Palácio dos Bandeirantes, além de conferir o impacto das casas-museus nas comunidades, tendo como referência A Casa de Pedra no bairro de Paraisópolis. No segundo dia, no Horto, o visitante, de um posto privilegiado, sob o gazebo (pequena construção com teto e aberta dos lados, erguida em jardins ou parques) de cipestre, assistiu à série de palestras, para, em seguida, conhecer as dependências do Palácio, que exibe, no momento as obras de Gregório Gruber – Florestais e A Arte da Cerâmica Aqui e Lá. No encerramento, em meio à natureza, na centenária Fazenda do Pinhal, em São Carlos, a programação incluiu visita à fazenda, palestras sobre o turismo como instrumento e preservação do patrimônio e gestão de programas educativos. A apresentação do documentário Casas Bandeiristas, de Dalton Sala, que há anos pesquisa essas construções, complementou o evento. O filme, de 45 minutos, exibe 14 casas desse estilo, nas imediações dos rios de São Paulo.

Maria das Graças Leocádio

Da Agência Imprensa Oficial