Vale do Paraíba se destaca pela produção de arroz

Com apoio de pesquisas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, região tornou-se maior polo produtor de variedades especiais no Brasil

seg, 26/08/2019 - 16h36 | Do Portal do Governo

O Estado de São Paulo é o maior consumidor de arroz do país e há alta demanda por tipos especiais, como os usados na culinária internacional. Nas últimas décadas a pesquisa paulista viabilizou a agregação de valor ao desenvolver tipos diferentes do grão.

O Vale do Paraíba é a principal região produtora de arroz do Estado de São Paulo, e também se mostrou favorável ao plantio de tipos especiais (dentre eles o arroz preto, arroz para a culinária japonesa, aromático e arbóreo). A região tem condições climáticas adequadas para a produção, fazendo com que a qualidade de grãos seja equivalente aos produzidos nas principais regiões da Itália.

Desde 1992, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, por meio do Instituto Agronômico (IAC-APTA), pesquisa tipos especiais de arroz para nichos de mercado, quando iniciou um programa de melhoramento genético. Atualmente são cinco: IAC 300, IAC 400, IAC 500, IAC 600 e IAC 301.

A mudança no perfil dos rizicultores paulistas se deu pelo trabalho da Secretaria de Agricultura, que desenvolveu o arroz preto IAC 600. Com sabor e aroma acastanhados, o produto tem 20% a mais de proteínas do que o arroz agulhinha e alto valor agregado. Um quilo da iguaria custa, em média, 8 vezes mais que o arroz agulhinha.

A área em produção da cultura do arroz ocupa o 44º lugar no Valor da Produção Agropecuária do Estado de São Paulo, em 2018, com pouco mais de R$ 50,7 milhões. Os Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Guaratinguetá (54%), Pindamonhangaba (27%) e Registro (12%) respondem por quase a totalidade do arroz irrigado do Estado. Quanto ao arroz de sequeiro e várzea, Itapeva (55%) e Registro (31%) somados respondem por 86% do total produzido.

Parceria entre pesquisador e produtor

O rizicultor José Francisco Ruzene recebeu a tecnologia da Secretaria de Agricultura e resolveu mudar o perfil de sua plantação, em Guaratinguetá, interior paulista. Ele substituiu seus hectares de arroz agulhinha, pelo arroz preto, o IAC 600.

Até 2005, Chicão Ruzene, como é conhecido, era um pequeno produtor de arroz – como a maioria dos rizicultores do Vale do Paraíba. Muitas vezes, a produção de todos eles não chegava à quantidade produzida por apenas um produtor de Santa Catarina.

O resultado era lucro baixo ou até mesmo prejuízo. “O doutor Candinho [Cândido Ricardo Bastos, pesquisador da Secretaria de Agricultura já falecido], desenvolveu um projeto para plantarmos arrozes especiais, por estarmos próximos de São Paulo, um centro consumidor. Comecei então a produzir o arroz preto, mas ainda não havia mercado, foi preciso abri-lo”, conta Chicão.

A parceria entre pesquisador e produtor resultou na estratégia de levar o produto para vários chefs de cozinha. Chicão chegou ao Alex Atala, dono do D.O.M., restaurante de alta gastronomia, localizado na capital paulista. “O Alex sempre teve o perfil de valorizar o produtor rural e os produtos brasileiros. Quando mostrei o arroz preto ele ficou surpreso por São Paulo ter tecnologia para produzir e fez o possível para me ajudar a divulgar o produto e assim abrir o mercado”, explica.

Segundo Atala, um dos propósitos do Instituto Atá, do qual é um dos fundadores, é valorizar o ingrediente e seu entorno, a natureza, nunca esquecendo o homem como elemento vital nessa cadeia. “Meu interesse por produtos e ingredientes desconhecidos, disponíveis na extensa biodiversidade da cultura brasileira, tornou possível conhecer o arroz preto, um produto diferenciado, de alta qualidade, que permite diversas aplicações na cozinha. Sua utilização estimula o pequeno produtor a manter e expandir seu negócio”, afirma.

Atualmente, na Ruzene a maior parte do cultivo é de IAC 600 e os demais com 14 variedades de outros tipos especiais. Seu lucro com o arroz preto é 50% superior ao obtido com o agulhinha. A produção do IAC 600 vai para todo o País. “O que não se pode agora é deixar que a pesquisa pare de desenvolver produtos, daí a importância do investimento em novos pesquisadores e projetos para o Instituto continuar desenvolvendo variedades especiais”, diz o agricultor, que mudou sua história a partir de tecnologia da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.