USP: Projeto Envelhecimento Cerebral da Faculdade de Medicina é vanguarda mundial

O banco de encéfalos da unidade é um dos mais bem estruturados do mundo

sex, 11/08/2006 - 21h14 | Do Portal do Governo

“Tudo terá de ser transformado à medida que a sociedade envelhecer”. O jornalista alemão Frank Schirrmacher emprega essa frase em seu livro A Revolução dos Idosos, que trata do inevitável processo de envelhecimento mundial. A ONU estima que o número de pessoas com mais de 60 anos passe de 606 milhões para 1,97 bilhão em 50 anos. Essa realidade afeta, além da economia, a área da saúde. Pensando nisso, os Departamentos de Patologia, Neurologia e Geriatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) iniciaram em 2004 o Projeto Envelhecimento Cerebral (PEC).

Há vários profissionais e alunos envolvidos no estudo, que tem como coordenadores Wilson Jacob Filho e Ricardo Nitrini, ambos professores-associados da FMUSP. As pesquisas do projeto estão concentradas no envelhecimento normal e no patológico, ou seja, aquele causado por doenças como Mal de Parkinson, Alzheimer ou depressão.

Os objetivos do PEC são estudar as alterações nas atividades cerebrais de pessoas que tenham mais de 50 anos e correlacioná-las com as condições funcionais próximas do momento da morte. “Nós comparamos o cérebro afetado com aquele de indivíduos que têm a mesma idade e características sociais, mas que não apresentam a doença”, explica Wilson Jacob. Para o estudo ser possível, os pesquisadores montaram um banco de encéfalos ao mesmo tempo que começaram o projeto.

Outra vantagem do projeto é ter pesquisadores de várias áreas da medicina, realizando um estudo multidisciplinar. Por essas características e por sua estrutura de ponta, o estudo tem vários parceiros nacionais e internacionais. Por exemplo, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que vai analisar a influência de metais, como alumínio, nas demências. Outro parceiro é o Laboratório do Projeto Genoma Humano da USP, que será responsável pela constituição do Banco de DNA dos corpos.

“Além disso, pesquisadores de outros departamentos e até outras instituições e estados podem utilizar o banco sem se preocuparem com remuneração do trabalho”, explica Wilson Jacob. O interesse dos coordenadores do projeto é colocar a USP na vanguarda da neurociência e a serviço da comunidade.

Banco de Cérebros

Um dos grandes diferenciais desse projeto é a estrutura do banco de encéfalos montado. Em um ano, os pesquisadores conseguiram coletar cerca de mil cérebros. Essa é a quantidade apropriada para a realização de pesquisas. “Tivemos uma grande aceitação das famílias dos doadores logo no começo. E isso continua até hoje”, conta Jacob.

O projeto pode ser considerado de vanguarda mundial também por ter uma estrutura de captação de materiais como nenhum outro. Os órgãos vêm do Serviço de Verificação de Óbitos, que tem uma média de 1.300 necrópsias por ano.

Para serem armazenados, os cérebros são separados do corpo no momento da autópsia. O líquor (líquido do cérebro que tem substâncias importantes como proteínas) também é guardado. Os fragmentos que serão estudados são armazenados em formol, sendo que deles são feitas lâminas para pesquisas microscópicas.

O critério utilizado na inclusão dos cérebros na pesquisa é claro: pessoas que tenham morrido com 50 anos ou mais; que não tiveram lesões graves como derrame e traumatismo craniano; e que tenham um familiar ou responsável para autorizar e fornecer dos dados do morto.

Giulia Camillo

USP Online