USP faz mostra de filmes sobre o Centenário da Imigração Japonesa

Mostra 'Nikkeis no Brasil - Olhares sobre 100 anos de imigração' será exibida de 04 a 15 de agosto

sáb, 02/08/2008 - 13h31 | Do Portal do Governo

O pesquisador Alexandre Kishimoto se deparou com um problema sério quando começou a pesquisa para sua tese de mestrado, que tratava dos antigos cinemas japoneses no bairro da Liberdade, no Centro de São Paulo. A maioria dos filmes que ali eram exibidos estavam inacessíveis. Os motivos, diversos: má conservação, falta de equipamento adequado, ausência de tradução e de legendagem. Dessa dificuldade surgiu a motivação para o projeto O Cinema no Centenário da Imigração Japonesa, um trabalho paralelo ao seu mestrado. A missão era criar um grande acervo com a filmografia que passava naqueles cinemas, contando também com obras sobre a imigração japonesa para as Américas. O resultado, até agora, foi a substancial soma de aproximadamente 100 filmes. O mais antigo deles é de 1908, mesmo ano da chegada do Kasatu Maru, que trouxe os primeiros imigrantes do Japão.

Alguns dos frutos dessa pesquisa poderão ser conferidos na mostra Nikkeis no Brasil – Olhares sobre 100 anos de imigração (confira a programação abaixo), que será exibida entre os dias 4 e 15 de agosto no Cinema da USP (Cinusp). O evento está dividido em programas que abordam temas intimamente ligados à comunidade nipo-brasileira (como os dekasseguis e o bairro da Liberdade) e homenageiam cineastas cuja produção se destaca. Haverá também bate-papos com diretores e duas mesas-redondas, uma debatendo os curtas-metragens de ficção e outra discutindo a questão dos dekasseguis.

Hikoma Udihara é um dos cineastas que receberá um programa dedicado à sua obra. Ele é o mais prolífico dos realizadores nikkeis (denominação japonesa para nipo-descendentes), com cerca de 80 filmes catalogados. Udihara chegou aqui na década de 1920 e ganhava a vida como corretor de terras, vendendo lotes para os imigrantes japoneses. Por isso, sua produção não é considerada pelos especialistas como um mero passatempo, mas sim uma ferramenta aos japoneses que se estabeleciam aqui: “ele não só documentava essa questão da imigração, mas foi também um agenciador da colonização. Udihara fazia esses filmes não só para serem exibidos como entretenimento, mas como um instrumento de persuasão nesse processo de venda de terras”, diz Kishimoto.

Dekasseguis

A intensificação da ida de nipo-descendentes para o Japão, principalmente após 1990, quando o país abrandou suas leis de imigração, se refletiu nas telas. “Há uma nova geração de realizadores que começou a produzir filmes abordando a questão da imigração, porém já na perspectiva da terceira geração. E o que se colocava para essa geração era a questão dos dekasseguis”, afirma Kishimoto.

Na mostra serão exibidos dois programas dedicados exclusivamente ao tema, compostos por três documentários. Do Brasil ao Japão, de Aaron Litvin e Ana Paula Hirano, fará sua estréia dentro da mostra. Os diretores acompanharam, por dois anos, a vida de seis famílias brasileiras no Japão. Dekassegui, de Roberto Maxwell, é um curta que contém elementos de ficção. Permanência, dirigido por Hélio Ishii, volta o seu olhar para os brasileiros e filhos de brasileiros que estudam em solo japonês.

Permanência é o segundo filme de Ishii a se debruçar sobra a questão. Cartas, seu primeiro longa, exibe os relatos de três mulheres que viveram a experiência. O próprio diretor foi dekassegui no início da década de 90. “A gente fica numa ilha, a ilha dos brasileiros. Você não vive na sociedade japonesa”, diz. Situação que é totalmente diferente dos que têm que estudar ali, convivendo com a imagem negativa associada aos imigrantes. “Qual é a imagem que o brasileiro tem no Japão? Terceiro mundista pobre, que está lá pra ganhar algum dinheiro e cair fora. E como é que os que trabalham convivem com isso? Não convivem, porque não precisam participar da sociedade. Trabalham dez horas na fábrica, pegam sua grana, voltam pra casa, dormem e fazem compras no final de semana. Agora, os filhos desses caras, não. Se estão na escola japonesa, é outra história”.

Pioneiro em terra estranha

O issei (nascido no japão) Yppe Nakashima, um dos pioneiros do desenho animado no Brasil, é outro homenageado com um programa próprio. Seu único filme, Piconzé, lançado em 1972, foi o primeiro longa de animação colorido feito no país. O mote do filme são algumas lendas folclóricas brasileiras. Realmente impressionante é a trajetória pessoal do desenhista, que chegou ao país na década de 1950.

Seu filho, Itsuo Nakashima, que também é animador, diz que os motivos da vinda do pai são totalmente desconhecidos para ele, já que Yppe dispunha de uma vida financeira confortável antes de imigrar, atuando como cartunista. “Desenho animado ou coisa parecida ele nunca tinha feito”, ressalta Itsuo. Aqui, trabalhou em alguns jornais da comunidade japonesa e começou a estudar animação, que foi o seu passaporte para o mercado da publicidade. Nesse meio conseguiu muito sucesso, apesar da barreira da língua. Como lembra o seu filho, “ele não dominava o português. Pelo contrário, tinha muita dificuldade.”

Mesmo sem falar direito a língua local, Yppe conseguiu montar uma equipe, na maior parte amadora e, apesar da infra-estrutura precária, terminar Piconzé. Um detalhe interessante é que as letras das músicas que embalam o filme são de autoria do poeta concretista Décio Pignatari. Hélio Ishii, que pretende filmar um documentário sobre a história do animador, ressalta a capacidade de realização desse imigrante: “Você não fala a língua direito, não tem infra-estrutura. Mas junta esse povo todo, sem grana nenhuma. Como é que se faz? Eu acho muito legal retomar esse espírito do Yppe”, complementa.

Serviço

O Cinusp se localiza na Rua do Anfiteatro, 181. Cidade Universitária, São Paulo. Mais informações no site do CINUSP. Confira a programação abaixo. Todas as sessões são gratuitas.

Semana 1

Horário

Segunda
04/08

Terça
05/08

Quarta
06/08

Quinta
07/08

Sexta
08/08

16:00

PROGRAMA 1 JAPONESES NO BRASIL

Exibição de curtas

PROGRAMA 7 OS OKINAWANOS

Hia Sá Sá – Hai Yah!

Arigatô

PROGRAMA 5 CURTAS DE FICÇÃO

Exibição de curtas
Debate

PROGRAMA 10
YPPE NAKASHIMA

O Desenho de Yppe Nakashima

Piconzé

PROGRAMA 8HIKOMA UDIHARA

Exibição de curtas

19:00

PROGRAMA 2 TIZUKA YAMAZAKI


Gaijin 2

PROGRAMA 3 DEKASSEGUIS 1

Dekassegui

Permanência

PROGRAMA 9OS NIKKEIS E A DANÇA CONTEMPORÂNEA
Takao Kusuno – O Marginal Da Dança

Ecos Do Silêncio

À Flor da Pele

PROGRAMA 8 HIKOMA UDIHARA

Exibição de curtas
Bate-papo

PROGRAMA 5CURTAS DE FICÇÃO

Exibição de curtas

 Semana 2

Horário

Segunda
11/08

Terça
12/08

Quarta
13/08

Quinta
14/08

Sexta
15/08

16:00

PROGRAMA 10
YPPE NAKASHIMA

O Desenho de Yppe Nakashima

Piconzé

PROGRAMA 2 TIZUKA YAMAZAKI

Gaijin 2

PROGRAMA 3 DEKASSEGUIS 1

Dekassegui

Permanência

PROGRAMA 4DEKASSEGUIS 2

Do Brasil ao Japão

PROGRAMA 6
O BAIRRO DA LIBERDADE

Isei, Nisei, Sansei

Gambarê

Bate-papo

19:00

PROGRAMA 1 JAPONESES NO BRASIL

Exibição de curtas

PROGRAMA 6
O BAIRRO DA LIBERDADE

Isei, Nisei, Sansei

Gambarê

PROGRAMA 4DEKASSEGUIS 2

Do Brasil ao Japão
Debate

PROGRAMA 7 OS OKINAWANOS

Hia Sá Sá – Hai Yah!

Arigatô

PROGRAMA 9OS NIKKEIS E A DANÇA CONTEMPORÂNEA
Takao Kusuno – O Marginal Da Dança

Ecos Do Silêncio

À Flor da Pele

Da Agência Usp de Notícias

(M.C.)