Acostumados a aceitar que a perda de memória é um sintoma “normal” da terceira idade, muitas pessoas deixam de investigar a natureza do problema, convivendo com uma deficiência que poderia ter cura se tratada precocemente. De acordo com o neurocirurgião Fernando Campos, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, órgão ligado à Secretária da Saúde, outros sintomas como falta de equilíbrio e incontinência urinária também podem não ser, necessariamente, males incuráveis da idade adulta, e sim alertas de uma doença grave que tem tratamento: a hidrocefalia.
Normalmente, a hidrocefalia é facilmente diagnosticada em crianças, pois há um inchaço da caixa craniana. Entretanto, quando a doença ocorre em adultos, não há alterações visíveis no aspecto físico, o que dificulta o diagnóstico. “A hidrocefalia em adultos é lenta e progressiva. Os indivíduos começam a ter sintomas que se enquadram no diagnóstico de demência, pois vão desaprendendo a andar, perdem a memória, o controle da urina e, muitas vezes, até o fecal”, observa o especialista. Isso ocorre porque há uma pressão esporádica no lobo frontal do cérebro, causada pelo acúmulo de líquor no ventrículo.
Poucos idosos, portadores de hidrocefalia, recebem tratamento correto, pois não sabem que têm a doença. Segundo Campos, estudo recente realizado na Noruega comprovou essa dificuldade de diagnóstico. “Inicialmente, foi levantada a quantidade de pessoas que recebia tratamento para hidrocefalia no País. Em seguida, a mídia norueguesa convocou pessoas com mais de 60 anos, que apresentavam ao menos um dos sintomas da doença, a realizar exames. O resultado foi surpreendente: o número de idosos diagnosticados aumentou em mais de 80%”, relata, acrescentando que 50% dos pacientes não possuem necessariamente os três sintomas juntos.
No HC, o “Grupo de Hidrodinâmica Cerebral” é especializado no tratamento de hidrocefalia em adultos, atendendo 25 pacientes por semana e realizando três cirurgias no período. Campos, que chefia o grupo, explica que, no primeiro atendimento, é feita avaliação motora, sendo cronometrada a parte de marcha e equilíbrio, e uma análise do dia-a-dia do paciente. Após uma semana dos primeiros testes, é coletado o líquor e refeita a avaliação. “Comprovada a melhora no desenvolvimento do paciente, ele é indicado para a cirurgia, significando que ela deverá ser bem sucedida” completa.
Além dos sintomas já mencionados, a hidrocefalia em adultos pode ocorrer quando há algum trauma na cabeça, onde haja sangramento interno. “Um acidente vascular cerebral (AVC) ou uma meningite também podem acarretar na doença”, lembra Campos.
O tratamento
O tratamento de hidrocefalia em adultos pode ser feito por dois tipos de cirurgia. A primeira é a endoscopia cerebral, na qual é realizado um pequeno furo no crânio, onde é possível chegar à membrana que represa o líquido, liberando a pressão. A outra opção é o implante de válvula, na qual um sistema mecânico permanente é implantado debaixo da pele, no couro cabeludo, permitindo drenar o líquido. “Quando a doença é diagnosticada em até dois anos, é possível que haja reversão total do quadro”, finaliza o especialista.
Da Secretaria da Saúde
