Os frutos do amor à terra

Mulheres, crianças e jovens de assentamento se tornam multiplicadores de técnicas de compostagem e fabricação de produtos biodegradáveis

ter, 13/11/2012 - 11h11 | Do Portal do Governo

Oferecer meios para trabalhar a terra de maneira sustentável e ainda gerar renda extra é apenas uma das metas das eco-oficinas oferecidas nos últimos meses às populações de assentamentos da região do Pontal do Paranapanema. Promovida pela Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, a ação capacitou 70 pessoas, entre mulheres, jovens e crianças.

Como evitar a poluição ambiental, técnicas para melhorar a utilização dos resíduos orgânicos e eliminar os agrotóxicos, importância das matas ciliares e da vegetação natural são algumas das questões abordadas nas oficinas, todas de caráter agroecológico, realizadas nos Grupos Técnicos de Campo (GTCs) de Presidente Venceslau e Teodoro Sampaio, por meio do GTC Formação, de Presidente Prudente.

“Algumas questões ambientais, como o descarte do lixo, do óleo e o alerta sobre os riscos do uso de agrotóxicos são urgentes nos assentamentos. O meio rural ainda é carente de informação”, ressalta a analista de Desenvolvimento Agrário do Itesp, Eliane Mazzini.

Por meio das eco-oficinas, as mulheres do assentamento São José da Lagoa, município de Piquerobi, aprenderam a utilizar os princípios da agroecologia para fabricar defensivos ecológicos contra pragas a partir de produtos simples como farinha, cinza, pimenta-do-reino, óleo de cozinha, alho e plantas repelentes. Nas aulas de compostagem, conheceram a maneira correta de descartar o lixo orgânico e ainda tratar a terra com esse lixo, para utilizar nas próprias plantações ou mesmo para vender.

Aprenderam também a fabricar produtos de limpeza biodegradáveis usando vinagre, amoníaco, limão, sabão caseiro, bicarbonato de sódio. E ficaram surpresas com a funcionalidade e eficiência desses produtos. Uma das alunas identificou-se tanto com o curso de artesanato que já vende cestos feitos de papel jornal em feiras de produtores na cidade.

Multiplicar o conhecimento

Tanta habilidade e disposição para aprender surpreenderam e estimularam técnicos do Itesp e docentes. “O tema ambiental, apesar de antigo e bastante divulgado, ainda é pouco abordado em algumas localidades. Ficamos impressionados com a receptividade das mulheres assentadas, todas ávidas por conhecimento”, ressalta a bióloga e docente Lucia Regina Perego
Grupo, da Uniesp, que ministrou as oficinas nos assentamentos. De acordo com ela, as alunas tornaram-se rapidamente multiplicadoras dos conceitos, passando espontaneamente a ensinar as técnicas aprendidas a outras mulheres.

Se com as mulheres os resultados superaram expectativas, não foi diferente com as crianças e adolescentes, alunos da escola rural Santa Zélia, localizada no assentamento de mesmo nome no município de Teodoro Sampaio e com os jovens dos assentamentos Malu, Vista Alegre e Santa Angelina, do município de Caiuá.

Por meio de dinâmicas, experimentos e simulações, as crianças conheceram a composição do solo e se surpreenderam ao perceber a importância da vegetação para a defesa contra a erosão. Tiveram a oportunidade de “enterrar” diferentes tipos de lixo em potes transparentes, que permaneceram nas salas de aula para que possam acompanhar o processo de decomposição.

Divertiram-se com jogos interativos sobre a cadeia alimentar e a importância da mata ciliar para os rios. Visitaram a represa próxima à escola e fizeram uma coleta de lixo, por meio da qual puderam constatar a quantidade de resíduos “invisíveis” que havia espalhados pelo local. Os jovens plantaram mudas de árvores e visitaram a nascente de um rio próximo ao local do assentamento.

Amor à terra

Todos os grupos receberam noções básicas sobre permacultura, cujo princípio é “trabalhar com e a favor da natureza, e não contra”, de forma que aproveite toda a flora local, cuidando e associando árvores, ervas, arbustos e plantas rasteiras que se alimentam e se protegem mutuamente. Para facilitar ainda mais o processo de multiplicação dos conceitos ensinados nas oficinas, as apostilas serão disponibilizadas na internet a partir do ano que vem.

A analista Eliane atribui grande parte dos resultados positivos obtidos com as eco-oficinas ao fato de que todos os temas trabalhados se referem a questões próximas da realidade dos assentados e com as quais eles convivem diariamente. “Essas atividades ensinam àqueles que vivem na terra e da terra a amá-la e protegê-la”, justifica.

A região do Pontal do Paranapanema é a que concentra o maior número de assentamentos do Estado: 112 no total (95 estaduais e 17 federais). Nos estaduais vivem 4,6 mil famílias, o que resulta em aproximadamente 22 mil pessoas. Na região, atuam nove escritórios do Itesp.

Da Agência Imprensa Oficial