Especial do D.O.: Gaseificador desenvolvido pelo IPT aproveita resíduos da cana-de-açúcar

Equipamento pode elevar produção de metanol para atender ao mercado da União Européia

ter, 30/01/2007 - 14h08 | Do Portal do Governo

O anúncio de que a União Européia (UE) utilizará, até 2020, 20% de sua energia proveniente de fontes renováveis gerou entusiasmo e receio. O Brasil é hoje um dos principais fornecedores de álcool combustível no mundo, mas o aumento da demanda vem acompanhado da preocupação ambiental.

O cultivo de cana-de-açúcar, matéria-prima utilizada na fabricação do biocombustível, coloca o problema de o que fazer com seus resíduos, palha e bagaço de cana. Atualmente, esses resíduos são queimados, o que causa enorme poluição. Em cidades como Ribeirão Preto e Piracicaba, grandes produtoras de cana, os índices de doenças pulmonares chegam a superar os da cidade de São Paulo. Assim, se a medida reduzirá as emissões de gás na Europa, poderá aumentá-las no Brasil.

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) procura antecipar-se na busca de solução para o problema. Desde 2002, em parceria com a empresa Raudi Energia Tecnologia em Combustíveis Limpos Ltda., pesquisadores do instituto desenvolvem um equipamento capaz de aproveitar o bagaço e a palha da cana para geração de biodiesel.

O gaseificador de bagaço de cana, como é chamado, poderá até mesmo, com algumas alterações, “elevar a produção de álcool, quase dobrar, sem aumentar em um milímetro a área de cana plantada”, explica Ademar Hakuo Ushima, pesquisador envolvido no projeto. Mas os técnicos optaram pela produção de metanol, em razão da vantagem de poder ser utilizado como combustível renovável, além de entrar na composição do biodiesel, em algumas concepções de célula combustível e até na produção de plástico.

Combustível limpo

Segundo Ushima, o biodiesel tem como principais componentes o óleo vegetal ou gordura animal, um catalisador e o metanol. Este último é hoje obtido a partir do gás natural, “o que faz do biodiesel um combustível não 100% renovável”, explica. Com o metanol sintetizado a partir da palha e do bagaço de cana, além de o combustível se tornar completamente renovável, resolve-se o problema da emissão de dióxido de carbono (CO2) com a queima da palha de cana. As cinzas geradas no gaseificador podem ser utilizadas como adubo. O gás, antes de tornar-se metanol, pode também ser utilizado na fabricação de ferro, diminuindo a poluição que surge no uso do alto forno.

O pesquisador alega que, com o atual preço de venda do metanol – US$ 600 a tonelada -, torna-se viável a fabricação por esse processo, já que o custo de produção da mesma tonelada (incluídos impostos) é de aproximadamente US$ 500.

Por se tratar de combustível limpo, acrescenta Ushima, pode ser vendido até mesmo a preço acima do mercado, pois as empresas que o utilizarem se valerão do título de ambientalmente responsáveis. O especialista acredita que dentro de cinco anos o gaseificador estará à venda. No momento, é necessário financiamento, privado ou público, para a instalação da unidade de demonstração, que já será capaz de gerar cinco toneladas de metanol por hora.

Ushima reconhece que a margem de lucro ainda é pequena, mas ressalva: “O prazo para implantar combustíveis renováveis é cada vez menor. Gerar tecnologias para reduzir o efeito estufa e demais males é bastante demorado. Por essa razão é importante começar a investir agora, mesmo que com maior risco financeiro, do que chegar a uma situação climática grave e não ter alternativas”.

Proposta da UE

A estratégia de recorrer a combustíveis renováveis, anunciada pela UE, tem como objetivo minimizar os impactos da mudança climática e reduzir a dependência de petróleo. No que se refere a esta última, têm ocorrido situações de interrupção de fornecimento na Europa em virtude da instabilidade política de países do Leste do continente.

A proposta sugere redução de 20% nas emissões de gases do efeito-estufa até 2020. A UE anunciou também que, até aquele ano, 20% de toda a energia utilizada no bloco econômico europeu deverá vir de fonte renovável, e 10% dos veículos deverão usar biocombustível. A medida ainda precisa da aprovação dos mercados europeus e pode servir de base para um acordo em substituição ao Protocolo de Kyoto.

Da Assessoria de Imprensa do IPT

 

(AM)