A Escola Estadual Antonio Perches Lordello, localizada em Limeira, cerca de 150 quilômetros da capital paulista, vive um momento especial. Desde que conquistou o primeiro lugar, entre 42 concorrentes, na etapa estadual do Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar, os 1,8 mil alunos da 5ª série do ensino fundamental ao 3º ano do médio dos três períodos, 58 professores e 16 funcionários só têm feito comemorar. E, agora, se preparam para a disputa do título com concorrentes de todo o Brasil, em setembro, quando espera chegar entre as seis melhores. “São dias movimentados e de grande expectativa”, comenta a diretora, Patrícia Helena de Campos Buck.
Por conta da conquista, a escola receberá prêmio em dinheiro, além de a diretora ganhar viagem aos Estados Unidos, daqui a dois meses, para visitar escolas daquele país. Na bagagem, um calhamaço de cem páginas, em que relata, detalhe por detalhe, as várias ações sociais da instituição – projetos para limpeza, união dos alunos, solidariedade, dinâmica do aprendizado, conscientização ambiental, prevenção contra álcool e drogas, gravidez na adolescência, envolvimento da comunidade e falta de participação dos pais. “O prêmio, um intercâmbio de 15 dias, servirá para troca de idéias das nossas escolas com as americanas e vice-versa. Estamos otimistas com relação a esse encontro que muito deverá nos enriquecer”, ressalta Patrícia.
Lições de cidadania – A diretora não tem dúvida que os projetos ali desenvolvidos “são os melhores, trazem resultados positivos e integram a escola como um todo”. Um deles, o Luzes – Limpeza, União, Zelo, Educação e Solidariedade, é desenvolvido diariamente. Deu tão certo que quase sempre, após o intervalo, os funcionários nem precisam varrer o chão, livre de qualquer pedaço de papel. Outro exemplo: a Gincana da Solidariedade une diversão e cidadania, provas de arrecadação de pilhas e de alimentos. Os estudantes organizam cestas básicas que são entregues aos alunos carentes da própria escola e a instituições de caridade. Outro diferencial, o Projeto Alma constitui ação eficaz no combate às drogas, com foco no aluno e na família. “Muitas vezes, o problema se acha em casa, com os pais e irmãos”, observa a coordenadora do ensino fundamental, Maria Tereza Degan Penteado. Segundo ela, a Perches, como é carinhosamente chamada a escola, enfrenta problemas iguais aos de outras unidades de ensino de Limeira. “O diferencial é que estamos revertendo esse quadro”. A gravidez precoce era um caso problemático: entre dez e doze meninas engravidavam anualmente. Depois de palestras de especialistas, da parceria com a Secretaria Municipal da Saúde e, principalmente, do depoimento emocionado de uma ex-aluna que abandonou os estudos por causa da gestação, o índice caiu surpreendentemente. Em 2006, foi registrado apenas um caso. Hoje, o índice é zero.
Projeto sustentável – Para o aluno Gabriel Granzotto, 15 anos, cursando o 1º ano do ensino médio, a Perches ataca o problema de frente, propõe saídas, dialoga com os pais, impõe a disciplina sem autoritarismo, além de estimular a continuidade dos estudos.
A biblioteca, com 15 mil volumes, por exemplo, é ponto de encontro para estudos, troca de idéias, trabalho em grupo e, é claro, para leitura, diz ele, considerado “rato de biblioteca” e que aposta nos livros para a formação dos jovens. Orgulhoso, conta que a sua família – pai, tios, primos – estudou na Perches. “Como numa grande família, há envolvimento de todos, com projetos que se encaixam no perfil de cada um”. De olho na mecatrônica, Gabriel participa, no momento, da Feira de Ciências, com um projeto de levitação, baseado em refração e atração magnética.
As meninas Carolina Bottan, Maiara Romeiro e Tuany Vianna, também do 1º ano do ensino médio, se engajaram no Pró-Óleo, cuja equipe se encarrega de levar óleo caseiro usado todas as sextas-feiras. Na escola, é depositado em tambores de 250 litros e depois enviado para empresas que o transformam em produtos de limpeza destinados a doação. “Na minha casa, ninguém mais joga óleo no ralo da pia”, revela Carolina.
Só festa – A notícia de que a Perches foi vencedora em todo o Estado trouxe alegria e animação. A satisfação pode ser notada logo na entrada do prédio, nos cartazes Nossa escola está em festa, com destaque para o prêmio. Para a diretora, o desafio é manter a qualidade, trabalho que a Escola Estadual Antonio Perches passou a desenvolver no ano em que foi fundada, em 1969. Do Gestão Escolar participa desde 2002. Colecionadora de vários prêmios, em 2006 recebeu o principal deles pelo Acorda Cidadão, em que os estudantes mergulharam no contexto político da cidade, participando semanalmente das sessões da Câmara Municipal. Não só para entender o funcionamento do Legislativo como na cobrança de iniciativas ligadas à questão ambiental e ao uso irregular do cerol – mistura cortante de vidro moído e cola que se passa na linha para empinar pipas. “A merenda escolar foi uma conquista depois de dezenas de reivindicações,” lembra Patrícia.
Para atingir o primeiro lugar em qualidade de gestão, a Perches foi submetida à avaliação rigorosa, da qual constaram entrevistas com a direção, os funcionários, além de visitas técnicas ao estabelecimento. Cinco critérios foram levados em consideração: recursos (de que maneira a escola administra as verbas), incentivo para promoção de funcionários e professores, envolvimento de pais e comunidade, resultados educacionais (dados sobre retenção, aprovação e participação em exames como Enem e Prova Brasil) e pedagógicos (metodologia, projetos e correção de falhas no aprendizado).
O prêmio é uma realização conjunta do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), da Unesco e da Fundação Roberto Marinho.
No ar, a Rádio Perches
Esqueça a imagem de diretores sisudos, enfurnados em suas salas, preocupados com serviços burocráticos. Na Escola Estadual Antonio Perches (de Limeira), a vice-diretora Ana Maria Landgraff de Carvalho descobriu um jeito dinâmico e diferente de lidar com a garotada. Criou, num pequeno cômodo, a Rádio Perches, onde também funciona o setor de Achados e Perdidos. De seu quartel-general, Ana, professora de Educação Física, há 31 anos na escola, começa o dia com vários apelos aos alunos para que mantenham os banheiros limpos, só jogar figurinhas (bafo) no intervalo. Com música de fundo, dá lembretes sobre a importância da educação. “Queremos formar cidadãos”, enfatiza.
Maria das Graças Leocádio, da Agência da Imprensa Oficial
(M.C.)
