Detentas expõem obras de artesanato em bazar e criam grife

São 30 presas trabalhando, mas o sucesso do projeto inspira a criação de outras oficinas

ter, 16/12/2008 - 10h12 | Do Portal do Governo

Quem visitar a sede da Fundação Manoel Pedro Pimentel (Funap), na Vila Buarque, capital, até o dia 19, vai se surpreender com o Bazar Daspre – exposição instalada na loja Do Lado de Lá, que reúne artesanato feito por presidiárias de penitenciárias femininas da capital. São bolsas, bichinhos de pano, chinelos, bonecas, árvore de Natal, caixas de presente e objetos de madeira, papel e plástico, como porta-jóias, brinquedos, baús e casinhas. Tudo produzido manualmente com beleza e criatividade.

Uma caixa de presente custa de R$ 10 a R$ 40, um trenzinho de madeira, R$ 25, chinelos, de R$ 20 a R$ 35, casa de madeira, R$ 200. O dinheiro arrecadado será utilizado pela Funap para instalar oficinas de trabalho em outras penitenciárias femininas do Estado.

Daspre, abreviação de das presas, é um trocadilho que faz referência à famosa boutique paulistana Daslu. Quem teve a idéia do nome e do projeto de trabalho para as encarceradas foi a diretora-executiva da fundação, Lúcia Casali. Ela conta que imaginou o plano no ano passado, mas só conseguiu colocá-lo em prática em 2008, quando um empresário pagou uma dívida com a Funap, entregando oito máquinas de costura.

“Chegamos à conclusão de que artesanato de tecido, bem-feito e criativo, poderia virar grife”, lembra a diretora. A oficina foi montada numa sala da sede da fundação.

R$ 300 por mês – Só podem trabalhar na oficina presas em regime de semiliberdade, que apenas dormem na prisão. Assim, a fundação selecionou 15 mulheres, com experiência em costura ou por terem bom comportamento, todas da unidade Butantã.

Depois, a instituição carcerária escolheu outras 15 da Penitenciária Sant’ana, no Carandiru, que cumprem pena em regime fechado. Por isso trabalham na própria prisão, na confecção de caixas de presente, baús, casinhas, trenzinhos e outros tipos de artesanato de papel, madeira ou plástico.

As costureiras fizeram cursos de patchwork (técnica de trabalhar com retalhos de tecido). Também aprenderam a arte do fuxico – pequeno arranjo de tecido em formas variadas como flor, laços, etc., usados para enfeitar peças maiores como travesseiros, chinelos e bichinhos.

As prisioneiras trabalham de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 16h30, na Funap. Depois voltam para a prisão, como determina a lei da semiliberdade. O trajeto de ida e volta é feito de ônibus. Ganham R$ 300 por mês e um dia a menos na pena a cada três dias trabalhados.

A mestra em ofício da Funap, Isair Canuto da Silva, é quem introduz as mulheres na arte da costura, do fuxico, do patchwork e do crochê. “A gente se impressiona com a vontade que elas demonstram em aprender cada etapa do trabalho em todos os tipos de artesanato em tecido”, alegra-se Isair.

 

“Daslu todo mundo conhece, agora apresentamos a Daspre”

Maria Júlia Bellanger gosta de confeccionar bolsas, jogo americano e bichinhos de tecido que, abertos, transformam-se em travesseiro infantil. “Aprendo muito aqui na oficina da Funap”, ressalta a detenta de 43 anos, condenada a três por tráfico de drogas. Cumpriu dois anos e espera regressar para sua família em 2009. Num futuro breve, Maria Júlia pretende trabalhar como cabeleireira ou costureira.

Ela tem 43 anos e está na penitenciária há dois anos, de um total de três a que foi condenada por furto e estelionato. Alegre e falante, Elizabeth Vieira de Oliveira diz com orgulho a grife Daspre, que ela ajudou a criar com seu trabalho na Funap. “A Daslu todo mundo conhece, agora vão saber também o que é a Daspre. Vamos mostrar nossa criatividade ao público”, profetiza Elizabeth, toda contente.

Dagmar da Silva já sabia costurar antes mesmo de trabalhar na Fundação Manoel Pedro Pimentel (Funap), mas não a arte de fazer fuxico e patchwork. Assim que receber o primeiro salário, vai comprar presentes para os filhos e entregá-los pessoalmente, por ocasião do seu indulto de Natal. Dagmar está presa há 14 anos, cumprindo pena de 24 por latrocínio. “Como estou na semiliberdade, minha volta para casa não deve demorar”, espera Dagmar, de 43 anos.

Ela tem 33 anos, foi presa por seqüestro e já cumpriu metade da pena de 12 anos. Quando sair pretende montar sua própria oficina de costura. Este é o sonho de Andréia Bernardo Mendonça, que adora bordar e sabe manusear todos os tipos de máquina de costura. “Também me especializei na técnica de cortes de tecido”, garante.

Serviço

Loja Do Lado de Lá e sede da
Fundação Manoel Pedro Pimentel (Funap)
Exposição Bazar Daspre
Aberta ao público até 19 de dezembro
Das 9 às 17 horas
Rua Doutor Vila Nova, 268 – Vila Buarque – São Paulo – SP

Otávio Nunes – Da Agência Imprensa Oficial