Cultura: Museu da Língua Portuguesa será inagurada dia 20 de março

Projeto, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, está orçado em US$ 36 milhões

qua, 01/03/2006 - 14h33 | Do Portal do Governo

Dia 20 de março, a língua portuguesa ganha, enfim, um espaço para ser apreciada, divulgada e experimentada num cenário histórico, de muita beleza: a Estação da Luz. O Museu da Língua Portuguesa – Estação da Luz Nossa Língua, projeto de US$ 36 milhões da Fundação Roberto Marinho em conjunto com a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, será entregue para todos que aprenderam a admirar os versos de Camões, ou de Fernando Pessoa, a prosa de Guimarães Rosa e tantos outros que fizeram da língua portuguesa a sua forma de expressão.

Criada com o apoio da lei de incentivo à cultura, o museu também é resultado do trabalho de parceiros como o Ministério da Cultura, IBM Brasil, Correios, TV Globo, Petrobrás, Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, Vivo, Eletropaulo, Votorantim e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

É a primeira instituição totalmente dedicada ao idioma natal de um país. Seu principal objetivo é mostrar que a língua é elemento fundamental e fundador da cultura brasileira. Será um espaço multimídia, projetado para ensinar e motivar o visitante. Ocupa a ala leste do prédio da Luz, que desde 2002 está sendo preparada para abrigá-lo. Duas motivações principais respaldaram a escolha do local: o fato de o edifício ser um patrimônio histórico e estar localizado em São Paulo, a cidade com a maior número de pessoas que falam o português em todo o mundo.

O projeto museográfico é de Ralph Appelbaum, que assinou também a autoria do Museu do Holocausto, em Washington, e a Sala de Fósseis do Museu de História Natural, em Nova York. Os arquitetos brasileiros Paulo e Pedro Mendes da Rocha, pai e filho, assinam o projeto arquitetônico.

Futura diretora do Museu, a socióloga Isa Grinspun Ferraz coordenou um time composto por cerca de 30 dos maiores especialistas em língua portuguesa do País na elaboração do conteúdo. Entre eles, Alfredo Bosi, Antonio Risério, Ataliba de Castilho, Yeda Pessoa de Castro (línguas africanas), Aryon Rodrigues (línguas indígenas) e José Miguel Wisnik. A direção artística é de Marcello Dantas.

Na entrada, entre dois elevadores panorâmicos, o visitante terá um encontro com a Árvore da Língua, criada pelo designer Rafic Farh. Em suas folhas serão projetados os contornos de vários objetos e suas raízes são formadas por palavras. Ainda nela, o compositor Arnaldo Antunes criou uma espécie de mantra, com as palavras língua e palavra em vários idiomas.

Há ainda um auditório com recursos audiovisuais e a Praça da Língua, que reúne imagens e áudio, para exibir uma antologia da literatura brasileira.

No segundo pavimento está a Grande Galeria, um enorme painel (tela de 106m com projeções de imagens e trabalho sonoro) que vai apresentar língua no cotidiano com 11 filmes de seis minutos de temas variados. Dividindo o andar estão a Galeria das Influências, com totens interativos sobre os povos que contribuíram para a formação da língua, a Linha do Tempo, formada por três linhas paralelas que formam o português, e o Beco das Palavras, sala com jogos eletrônicos que permitem brincar com a criação.

O projeto Museu da Língua Portuguesa tem ainda o apoio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da Prefeitura de São Paulo, da CPTM, dos elevadores Otis e da Carrier – Sistemas de Climatização e Fundação Luso-Brasileira. A primeira mostra temporária, outra atração do local, comemorará os 50 anos do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.

A arte de tornar o antigo, novo

A equipe que trabalhou para adaptar o prédio centenário ao moderno Museu da Língua Portuguesa enfrentou o desafio de conciliar a preservação de um patrimônio histórico à funcionalidade da alta tecnologia. A proposta foi colocada em prática sob o comando dos arquitetos Paulo e Pedro Mendes da Rocha, por meio de um projeto que alia uma infra-estrutura moderna (com computadores, sistema de ar condicionado, elevadores etc) a ambientes com as características originais do prédio do início do século 20.

A receita foi tirar proveito da beleza e do porte do monumento, restaurando os elementos com valor histórico, artístico e cultural, muito presentes, por exemplo, nas salas usadas pela diretoria da companhia inglesa na época.

Já no caso da Grande Galeria, foi aprovada a idéia de explorar os 120 metros de comprimento do edifício para a instalação de um extenso telão.

Durante todo o trabalho de montagem do Museu, as estruturas foram monitoradas para que nenhuma parede pudesse ser danificada. Os trabalhos recuperaram esquadrias, cobertura e muitos elementos artísticos, como a caixa do grande relógio. O projeto de restauro gerou 100 empregos diretos, entre engenheiros, arquitetos, restauradores, pedreiros, marceneiros e outros. Eles cuidaram de 4.230 metros quadrados de alvenaria, além de 123 esquadrias e cerca de 400 elementos artísticos diferentes.

Transformar e recuperar a parte inferior do prédio da Estação não foi um trabalho menos criterioso. O engenheiro responsável pelo Integração Centro, Marcelo Machado, informa que a intervenção na Luz é fruto de reuniões quinzenais com representantes dos três órgãos que protegem as características do local. “Para fazer um furinho num tijolo era necessário chamar os representantes e pedir autorização”, relata, orgulhoso com o resultado da obra quase pronta.

Ele explica que cada detalhe dos saguões, o principal e dois laterais, e da gare foi estudado em prospecções para ser recuperado. Já a construção de dois saguões e da galeria que dá acesso ao Metrô por baixo da Estação também foi realizada sem que nada fosse alterado na superfície, com obras subterrâneas. Em cima, o passado revive, embaixo, a galeria, com o painel Epopéia Paulista, da artista plástica Maria Bonomi, reconhecida internacionalmente como uma das maiores gravuristas da atualidade, retrata a história da Estação, com muita modernidade.