Cientistas de SP integram rede de pesquisa sobre biotecnologia marinha

Iniciativa inédita no Brasil tem presença de cientistas da Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual Paulista

qua, 01/08/2018 - 13h06 | Do Portal do Governo

Profissionais de instituições de ensino paulistas, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), integram uma iniciativa inédita em território nacional: a Rede Nacional de Pesquisa em Biotecnologia Marinha (BiotecMar). A ação tem o objetivo de impulsionar os estudos na área e alcançar desafios competitivos.

É importante frisar que, em 2016, pesquisadores brasileiros descobriram um recife na foz do Rio Amazonas com 56 mil quilômetros quadrados, conhecido como o “Grande Recife Amazônico”. A novidade foi comemorada e desencadeou uma série de achados que podem servir de ponto de partida para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Um dos casos é o estudo recente que identificou novo grupo de esponjas com alto potencial biotecnológico: Arenospicula (Niphatidae). Trata-se de organismos carbonatados, como os encontrados no Grande Recife Amazônico, compostos por moléculas e genes ainda desconhecidos. Os animais podem ser fontes de nutrientes para fertilizantes do solo, medicamentos contra doenças infecciosas, câncer ou até mesmo produção de heparinas, entre outras aplicações.

“Exemplos como esses e tantos outros mostram que há ainda muito a conhecer sobre a biodiversidade marinha. Por isso, descobrir novas espécies, mapear novos genes e conhecer melhor a interação entre os microrganismos e macrorganismos são de interesse da BiotecMar”, explica Roberto Berlinck, professor no Instituto de Química de São Carlos da USP e integrante da Rede BiotecMar.

Articulação

A BiotecMar foi articulada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e conta com mais de 120 pesquisadores de todo o Brasil, vários com longa carreira na área da biotecnologia, como Wagner Valenti, da Universidade Estadual Unesp, e Paulo Mourão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A ideia é desenvolver uma pesquisa inovadora nas áreas de biodiversidade, prospecção, genômica, pós-genômica e transferência para o setor produtivo.

“Queremos também entender processos importantes como o branqueamento de corais e como esses animais produzem toxinas. Nosso objetivo é alavancar esse conhecimento que tem grande potencial inovador”, acrescenta o também membro da coordenação do programa Biota-Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Um trabalho recente, publicado na revista Cell por pesquisadores da rede, indica que a partir do material genético de esponjas, corais e rodolitos, é possível descobrir genes que codificam moléculas bioativas.

Potencial

Em artigo publicado no periódico científico Frontiers in Marine Science, pesquisadores da BiotecMar enumeram estudos e descobertas recentes, assim como o potencial para a área de inovação.

“O objetivo principal da iniciativa é desenvolver pesquisa de cunho aplicado de origem marinha, mas também novos produtos de aplicação na indústria como, por exemplo, enzimas, pigmentos, suplementos alimentares, alimentação de organismos marinhos e aquicultura marinha”, destaca o coordenador da rede, Fabiano Thompson, professor no Instituto de Biologia da UFRJ.

“A biodiversidade marinha pode ser considerada uma imensa farmácia submersa e inexplorada, que pode ser uma fonte rica para a biotecnologia”, completa. Segundo o docente, a biodiversidade é a base da biotecnologia marinha e um ativo potencial para a bioeconomia. Porém, apesar da diversidade e dos mais de 7 mil quilômetros de costa, uma parcela significativa permanece inexplorada e desconhecida no Brasil.

Para enfrentar os desafios, a criação da rede nacional já estava prevista no IX Plano Setorial de Recursos do Mar da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar. “Existem vários projetos, alguns feitos em equipe, como o Projeto Temático financiado pela Fapesp que eu coordeno, por exemplo. Outros são de caráter mais individual, mas, no geral, os pesquisadores participam da BiotecMar de diferentes maneiras”, afirma Roberto Berlinck.

É importante frisar que o pesquisador coordena o Projeto Temático “Componentes da biodiversidade, e seus caracteres metabólicos, de ilhas do Brasil – uma abordagem integrada”.