HIV é mais presente entre os jovens e contágio por ato sexual predomina

Para o médico Wladimir Queiroz, do Hospital Emílio Ribas, relação sexual predomina sobre as formas de transmissão mais comuns no passado

qui, 07/12/2017 - 8h36 | Do Portal do Governo

Jovens do sexo masculino com idade entre 15 e 24 anos que contraíram o HIV em transações sexuais com outros homens. O perfil das pessoas com resultado positivo para o vírus da aids no Brasil mudou bastante nos últimos anos, segundo o médico infectologista Wladimir Queiroz, do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo.

De acordo com o médico que também é professor da Faculdade de Medicina de Santos, a contaminação por drogas injetáveis, transfusão de sangue e transmissão verticais (de mãe para filho) foi reduzida significativamente e hoje as pessoas contraem o vírus no Brasil basicamente por meio do ato sexual, principalmente nas relações homossexuais entre homens.

“Não se fala mais em contaminação do HIV por drogas injetáveis no Brasil. Antigamente, as drogas injetáveis tinham relação direta com a transmissão. Hoje, é possível que essa relação se dê mais de forma indireta. Pode ser que sobre o efeito da droga a pessoa esteja mais propensa a fazer sexo sem a devida proteção”, afirma o médico.

Assim é com a transmissão por transfusão de sangue. Diferentemente do passado, atualmente existe segurança e controle total nos homocentros, o que não havia no passado quando a transfusão era feita por uma empresa privada que dava lanches e até pagava ao doador. Hoje, o  médico que prescreve a transfusão age com muito mais critério do que há 30 anos.

Outra forma de transmissão é a transmissão vertical. Ainda temos um contingente de crianças que hoje estão na faixa dos 30 anos que adquiriu o vírus através da mãe portadora de HIV. Os índices diminuíram em consequência de um conhecimento mais profundo, das campanhas nacionais que geram mais consciência em ginecologistas e obstetras para o uso de drogas seguras e atuação no pré-natal.

O médico defende a promoção de campanhas de conscientização mais regulares e não apenas em datas específicas como o 1º de dezembro (Dia Internacional de Luta contra a Aids) e no carnaval. “As pessoas não fazem sexo apenas nessas épocas”. Há um aumento da transmissão em todas as faixas etárias, mas o que mais chama atenção é o sexo sem proteção entre homens na faixa etária de menos de 25 anos, devido à falta de orientação, da banalização da aids, do achar que é só tomar o remédio e tudo bem.

As campanhas, segundo o médico, devem estar focadas para a mudança de hábito. No passado houve muita campanha sobre o uso de drogas, mas só funcionou até quando a droga injetável foi substituída por outras drogas cujo uso dispensa a seringa (cocaína e crack). “A minha geração perdeu amigos de escola e ídolos como o Fred Mercury, Cazuza, a atriz Sandra Bréa, o conhecimento de alguém que partiu porque contraiu o vírus HIV estava mais presente e havia um estigma físico muito forte”.

Segundo a experiência profissional do médico, essas questões não são mais predominantes. “No Emílio Ribas, a maioria dos que são atendidos pelo Pronto Socorro procuram pela Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), quando a pessoa percebe que pode ter contraído o vírus, após uma relação sem proteção. A procura quase que estourou. O PEP consiste na utilização de medicação antirretroviral durante 28 dias que se inicia até 72 horas depois da exposição ao risco”.

Essa população que se expõe ao risco, de acordo com o médico, deveria ser alvo principal das campanhas nos hospitais sobre o que fazer depois do resultado do teste, seja ele positivo ou negativo.

O Brasil que é signatário da convenção 90, 90, 90 (90% dos casos de HIV diagnosticados, 90% das pessoas com HIV em tratamento antirretroviral, 90% destas pessoas com carga viral indetectável), deveria, segundo o médico, fazer mais esforços para se aproximar das metas estabelecidas pela UnAids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids).

“São metas ambiciosas, difíceis de serem alcançadas, cuja ideia principal é acabar com a transmissão do vírus pela via sexual. Os dados mostram que a carga viral é indetectável quando é inferior a 50 partículas de vírus por mm³ de sangue”, afirma o médico.

O uso da camisinha nas relações sexuais continua sendo o método mais seguro. O Brasil, segundo Wladimir, está muito longe de saber qual o número de pessoas contaminadas pelo HIV. De acordo com ele, o melhor acerto é tratar o indivíduo para que ele não transmita o vírus.

O médico chama atenção de que o 90,90,90 é basicamente um cálculo matemático. Entre os homens a gente não consegue chegar aos 50% de convencimento para fazer o diagnóstico, manter a adesão ao tratamento e tomar corretamente os medicamentos (aderência ao tratamento). O ideal, segundo o médico, é se aproximar o máximo possível das metas.