Parceria da Unicamp investiga materiais em benefício da saúde

Transferência de tecnologia possibilitará criar kits diagnósticos para a Doença de Chagas e a diarreia infantil

qui, 13/09/2018 - 17h42 | Do Portal do Governo

A interação entre Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o setor privado ampliou, em 2017, a perspectiva de desenvolvimento de tecnologias voltadas para o controle da Doença de Chagas e da diarreia infantil, entre outras patologias. Vale destacar que um dos setores que mais gera benefício para a sociedade a partir do contato universidade-empresa é o da saúde.

Novas propostas para o enfrentamento de desafios relacionados às doenças negligenciadas, por exemplo, encontram na academia o ambiente propício para florescer. A parceria da Unicamp, nesse caso, ocorreu a partir do licenciamento de cinco hibridomas de camundongos para a Rheabiotech, empresa-filha da Unicamp que atua na produção de soros imunes para uso em laboratórios de pesquisa.

Entre outros benefícios, a transferência de tecnologia possibilitará criar kits diagnósticos para a Doença de Chagas (anti-T.cruzi), para causadores de infecções genitais e da boca (anti-SAP) e para a diarreia infantil (anti-PCFO). Com mais estudos, os anticorpos anti-IL-6 poderão ainda ser utilizados para fins terapêuticos contra tumores malignos e doenças autoimunes. Na Unicamp, os estudos foram conduzidos pela professora Wirla Maria da Silva Cunha Tamashiro, do Instituto de Biologia (IB).

“Os anticorpos monoclonais são reagentes altamente específicos que auxiliam no diagnóstico e tratamento de diversas doenças. Embora alguns grupos no Brasil venham produzindo hibridomas para fins de pesquisa desde a década de 1980, foram feitos pouquíssimos licenciamentos desse tipo de material para uso mais amplo” revela Luís Peroni, sócio-diretor da Rheabiotech. “Vimos no grupo de hibridomas a oportunidade de desenvolver o diagnóstico para algumas doenças negligenciadas”, acrescenta.

Pesquisa

Graduada pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp), a empresa licenciada atua em três frentes: na produção de insumos para pesquisa e desenvolvimento, na produção de kits diagnósticos para as áreas agrícola, veterinária e de saúde humana e na prestação de serviços na área de imunoquímica.

Entre os materiais biológicos transferidos, o anti-IL-6 é um anticorpo monoclonal promissor para o desenvolvimento de biofármaco com grande potencial terapêutico no tratamento de alguns tipos de cânceres, como o de colo de útero, o de mama e mielomas, e no tratamento de doenças crônicas, como a artrite reumatoide.

“Trata-se de um anticorpo contra uma citocina muito importante nessas doenças, pois seus portadores vão produzi-la em quantidade elevada. Essa molécula, se neutralizada, diminui muito os sintomas”, explica a docente Wirla Maria da Silva Cunha Tamashiro, do IB.

Foco

O desenvolvimento de um remédio para essa doença autoimune é o foco atual da companhia. “No caso da artrite, o combate é feito por meio de fármacos sintéticos, como o corticoide, para controlar a inflamação. A doença é um problema para a vida toda. A ideia do terapêutico é melhorar a qualidade de vida do paciente”, avalia o sócio-diretor da empresa.

Estima-se que a artrite reumatoide afete uma a cada 100 pessoas. Em estágio avançado, o paciente chega à incapacidade física permanente. Luís Perroni conta que anticorpos monoclonais contra artrite, em especial os específicos para o receptor da IL-6, são usados em pacientes com resultados relevantes e eficácia comprovada.

O objetivo da empresa licenciada é fornecer anticorpos para a realização de testes em laboratório, para exames rápidos. Entre os principais benefícios da utilização desses anticorpos nos laboratórios de diagnósticos está a diminuição no custo dos exames. “Atualmente, utilizam-se anticorpos importados para o diagnóstico. Assim, os anticorpos que vamos fornecer diminuirão o custo dos exames laboratoriais em até 40%”, afirma Luís Perroni.

Para o fornecimento dos anticorpos a uso clínico, é necessária a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que deve levar cerca de dois anos.