Zona Leste já vê mudanças com a chegada da USP

O Estado de S. Paulo - Quarta-feira, 1º de junho de 2005

qua, 01/06/2005 - 10h05 | Do Portal do Governo

Novo campus mexe tanto com a oferta de produtos melhores em supermercados quanto com os planos de pavimentação de ruas

Laura Diniz

Às favas com a tradição. O microempresário José Francisco da Assunção Estimado quer mesmo é aproveitar as oportunidades abertas no bairro de Engenheiro Goulart e arredores pela inauguração do campus da Universidade de São Paulo (USP) na zona leste. Nos toldos do seu boteco, ainda se lê 1º Bar da Lingüiça, mas a razão social já mudou para Estação USP Lanches Ltda.

‘Quero transformar o bar num ponto de encontro dos estudantes. No segundo semestre, vou repintar a fachada’, afirma Estimado. O lugar é ideal: em frente da estação de trem Engenheiro Goulart, onde os alunos da USP Leste, aberta há cerca de três meses, pegam ônibus para chegar ao campus. ‘Os alunos são exigentes. Caprichamos mais na limpeza e colocamos lanches no cardápio. Antes só havia lingüiça.’

Assim como o bar, toda a região começa a se repaginar para receber os estudantes. Em algumas vans de lotação, a música sertaneja dos operários foi substituída pelo pop rock dos universitários. Nos supermercados, marcas pouco conhecidas deram lugar a produtos consagrados. Lojas abriram em busca do público diferenciado e, segundo a Subprefeitura de Ermelino Matarazzo, Engenheiro Goulart atraiu novos moradores nos últimos meses.

E as novidades não se resumem à USP. O Governo do Estado pretende construir, até junho de 2006, uma estação de trem dentro do campus, para transportar cerca de 5 mil pessoas por dia. A obra é parte do projeto de remodelação da Linha F (Brás-Calmon Viana) da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que prevê também a construção de duas estações e a reforma de outras duas: Itaim Paulista e Ermelino Matarazzo.

O subprefeito de Ermelino, Eduardo Camargo Afonso, comemora as mudanças e já fala em novos investimentos do poder público. ‘A Prefeitura e o Estado estão negociando a instalação de um posto policial, um posto de saúde e uma creche próximos à universidade.’

A subprefeitura fez também um levantamento sobre as ruas do Jardim Keralux, vizinho da USP, que precisam de pavimentação. Para asfaltar as 19 vias, seriam necessários R$ 15 milhões. ‘Como não temos esse dinheiro todo, vamos pavimentar as duas maiores – Rua Arlindo Bettio e Rua Bisp E. Martins. Esperamos apenas a liberação dos R$ 3,2 milhões para começar as obras, que já estão aprovadas na Prefeitura’, afirmou Afonso.

‘São Paulo só tende a crescer na zona leste. Se sonharmos um pouquinho, podemos ser um Tatuapé melhorado’, afirmou o subprefeito, referindo-se à guinada sofrida pelo bairro, que virou pólo de investimentos imobiliários e ganhou status de área nobre depois da chegada do metrô.

O campus e as novas estações de trem vão mesmo tornar a região mais dinâmica, acredita a urbanista Marta Grostein, coordenadora do Laboratório de Urbanismo da Metrópole (Lume), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. ‘O Tatuapé emergiu como espaço privilegiado de uns dez anos para cá, pela facilidade de acesso trazida pelo transporte público de massa, pela boa localização na zona leste e proximidade do centro’, afirmou Marta. Segundo a urbanista, a região do campus principal da USP, na Cidade Universitária, Butantã, zona oeste – ‘hoje próspera, antes distante’ – é outro exemplo de que a concentração de jovens exige serviços de apoio, novas moradias e estimula o desenvolvimento no entorno.

Na área imobiliária, a mudança já é evidente. Há várias placas de pensões para estudantes e os imóveis próximos do campus são muito mais disputados. ‘A procura por apartamentos para alugar este ano cresceu 30% em relação aos primeiros cinco meses de 2004’, estima Arthemus Pires Barbosa, diretor-executivo do Grupo Atual Imóveis, empresa que atende a toda a zona leste. ‘O preço dos aluguéis ainda não aumentou, mas a tendência é valorizar bastante.’