Vitamina C faz faxina dupla no organismo

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 10 de abril de 2007

ter, 10/04/2007 - 13h03 | Do Portal do Governo

De O Estado de S.Paulo

O papel da vitamina C no corpo humano é alvo de controvérsia. A maioria das pesquisas mostra que ela faz bem à saúde, mas vira e mexe algum estudo sugere o contrário – em altas quantidades ela poderia ser maléfica. Polêmicas à parte, recentemente um grupo de pesquisadores brasileiros apresentou dados reforçando que não só ela protege o organismo como o faz de modo ainda mais eficiente do que se imaginava antes.

A equipe da Universidade de São Paulo e do Instituto Butantã desvendou uma nova função da molécula que amplia o seu papel de faxineira do metabolismo. Já se sabia que ela age como antioxidante, combatendo os temíveis radicais livres, substâncias que provocam lesões em moléculas e estão envolvidas no envelhecimento celular.

O novo estudo, publicado em março na revista científica PNAS, mostra que, além de ter essa ação direta de neutralização, a vitamina C também age indiretamente sobre os radicais livres, ao acelerar as reações de um grupo de enzimas que impedem a formação deles.

“Quando o corpo humano está em perfeito funcionamento, há um balanço entre substâncias oxidantes e antioxidantes. Mas, se por algum motivo os primeiros aumentam de quantidade ou os segundos diminuem, temos o chamado stress oxidativo que, em excesso, pode ser bastante tóxico para o organismo”, explica o bioquímico Luis Eduardo Soares Netto, do Instituto de Biociências da USP.

Movimentando-se pelas células, os radicais livres, que são substâncias bastante instáveis porque têm um número ímpar de elétrons, tentam desesperadamente se ligar a uma outra molécula. Os alvos preferenciais são DNA e proteínas, que acabam sofrendo lesões após essa união e se tornam disfuncionais. O resultado são doenças dos mais diversos tipos.

AÇÃO DUPLA

Para retomar o equilíbrio, o ideal é diminuir a formação dos oxidantes e aumentar a presença dos antioxidantes. É aí que a vitamina C entra. “Nosso estudo mostra que ela cerca pelos dois lados”, afirma Netto. Na ação direta, ela neutraliza um precursor dos radicais livres, o peróxido de hidrogênio (mais conhecido como água oxigenada), transformando-o em água.

No mecanismo indireto, ela estimula a ação de uma enzima denominada peroxirredoxina, que, como o próprio nome diz, também decompõe os peróxidos em H2O e evita a formação dos radicais livres. Essa reação química, na presença da vitamina C, fica mais rápida, uma vez que a enzima “rouba” elétrons da vitamina.

“Antes imaginávamos que essa aceleração só podia ocorrer na presença de moléculas conhecidas como tióis, mas mostramos que a vitamina C também tem essa função. Sem a interferência de uma dessas duas moléculas, a reação da peroxirredoxina é muito lenta e difícil de ocorrer”, explica.

Esse sistema de faxina que ocorre nos seres humanos após a ingestão da vitamina C está presente também em vários outros organismos, como plantas, insetos, mamíferos, bactérias e parasitas. Isso sugere, segundo Netto, que o mecanismo foi selecionado evolutivamente porque conferia uma vantagem. Considerando os danos que podem ser provocados pelo excesso de radicais livres, é fácil entender por quê.