Viciados em internet são atendidos em SP

Folha de S. Paulo - Quarta-feira, 16 de julho de 2008

qua, 16/07/2008 - 9h37 | Do Portal do Governo

Folha de S. Paulo

Um professor universitário usa a internet para abastecer sua coleção de fotos de mulheres obesas. Ao longo de um ano, acumula 4 milhões de arquivos. Um adolescente de 17 anos passa 35 horas conectado à internet, sem intervalo.

Os casos são reais e foram tratados pelo Centro de Estudos de Dependência da Internet, ligado ao Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso, do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Em três anos de funcionamento, o centro já atendeu 30 pessoas. Uma nova turma começará em agosto.

Para se submeter ao tratamento, que dura 18 meses, é preciso se encaixar em pelo menos cinco dos oito tópicos apresentados na página do centro (www.dependenciadeinternet.com.br).

Entre eles, necessidade de aumentar o tempo conectado para ter a mesma satisfação de antes, colocar trabalho e relações sociais em risco pelo uso excessivo da rede e mentir para os outros em relação ao tempo que passa conectado.

Uma vez aceito, o paciente é submetido à psicoterapia de grupo. “Funciona para que eles possam reconhecer o que têm. Eles são apresentados ao problema e recebem indicações do que fazer além de usar a internet. Ao contrário do álcool e das drogas, que o paciente tem que prometer que não vai mais usar, os dependentes precisam aprender a dosar o tempo”, afirma Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do centro.

Segundo ele, em geral, os pacientes apresentam quadros de depressão, fobia social ou transtorno bipolar do humor. “São pessoas mais fechadas, introspectivas, que preferem a internet porque têm dificuldade de se relacionarem com outras pessoas. Mas também há gente extrovertida que acaba ficando dependente.”

Durante o tratamento, a equipe do centro tenta fazer um “desmame” da internet, para que o paciente tenha experiências na vida real. “Em vez de entrar no MSN, sugerimos que ele pegue o telefone. Em vez de marcar um encontro virtual, indicamos um real. Às vezes entramos com medicação para tratar de depressão”, completa.

Doença mental

O vício em internet pode ser uma doença mental, segundo Jerald Block, médico que defende que essa dependência entre no livro de referência da Associação Americana de Psiquiatria, que categoriza e diagnostica doenças mentais.

Em artigo publicado em março, no “American Journal of Psychiatry”, o psiquiatra da Universidade de Ciências e Saúde de Oregon, em Portland, diz que os sintomas do vício por uso excessivo de internet são associados à perda da noção do tempo, à negligência de impulsos básicos e aos sentimentos de irritação, tensão ou depressão caso o computador esteja inacessível.

A necessidade de micros melhores ou mais horas de uso, além de reações negativas como brigas, isolamento social e fadiga, também são apontados como indicadores de vício. (DA)