Viciado agora usa mais de uma droga

Jornal da Tarde

qua, 23/09/2009 - 8h22 | Do Portal do Governo

De acordo com estudo de clínica pública de tratamento, dependentes usam várias drogas 

A dependência em mais de uma substância química é a nova característica dos usuários de álcool e drogas da Grande São Paulo, segundo pesquisa com 96 dependentes químicos avaliados pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, ligada à Secretaria Estadual da Saúde. Entre as substâncias mais consumidas pelos dependentes estão o crack, cocaína, maconha, álcool e o cigarro. 

Conhecidos como ‘poli usuários’, os dependentes costumam associar, principalmente, o uso do crack ao consumo de bebidas alcoólicas. “O perfil do usuário de droga mudou. Agora ele é o chamado ‘total flex’, pois funciona com qualquer substância. A bebida foi substituída, virou um gatilho para o crack, hoje a principal droga”, diz a diretora da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas, Alessandra Diehl. 

A médica afirma que há cerca de nove anos, os estudos e perfis traçados dos usuários de drogas eram individualizados para cada substância. “Fazíamos o perfil do dependente de álcool, da maconha, do ecstasy.” Hoje os perfis se misturam devido ao consumo de mais de uma substância. 

Ela atribui a mudança no consumo das drogas à facilidade de acesso e às características psicológicas dos dependentes. “São pessoas mais impulsivas e, somado ao fácil acesso, os dependentes se tornam poli usuários.” 

A Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas, a primeira clínica pública para dependentes de álcool e drogas do País, traçou o perfil do viciado: homem, cerca de 34 anos, solteiro, desempregado, ensino médio completo e renda familiar de 2 a 3 salários mínimos. 

Apenas 11 mulheres foram acompanhadas no estudo, fato que segue a realidade brasileira. “A mulher demora mais para procurar ajuda e é mais estigmatizada pelo vício. O homem é ‘carregado’ pela família para se tratar. Já a mulher é abandonada.” 

Outra tendência observada pela pesquisa é a presença de outras doenças associadas à dependência. Os pacientes apresentavam transtornos bipolar, de personalidade, depressão, esquizofrenia, déficit de atenção, jogo patológico e hiperatividade. 

O tratamento de um poli usuário é considerado complexo pelos médicos (leia mais ao lado). “É o grande desafio clínico. São os pacientes cruzados, em que cada droga entra num contexto: ou para aliviar a tensão ou a calmaria. Os poli usuários sofrem mais danos cerebrais e têm pior prognóstico e aderência aos tratamentos.” 

Apesar das dificuldades, a unidade pública diz que, dos 96 pacientes, 72 já tiveram alta e três abandonaram o tratamento. O atendimento é gratuito e os pacientes devem ser encaminhados por prontos-socorros, UBS, ambulatórios de hospitais públicos ou Centros de Atenção Psicossocial.