Verão sem dengue

Correio Popular - Sábado, 19 de novembro de 2005

seg, 21/11/2005 - 11h28 | Do Portal do Governo

Luiz Roberto Barradas Barata

O Corinthians caminha rumo ao título do campeonato brasileiro de futebol deste ano? Pelo menos essa era, até esta semana, a perspectiva dos torcedores do clube e dos cronistas esportivos. Mas a derrota para o São Caetano na última quarta-feira pode comprometer a luta alvinegra em busca do tetra nacional.

Na saúde pública, a analogia com o esporte, por vezes, explica como um descuido pode colocar em risco um trabalho eminentemente bem feito. Por isso, torna-se imperioso voltarmos nossas atenções para a dengue, especialmente agora, com a proximidade do período de chuvas.

É preciso, antes, contextualizar o problema. O quadro epidemiológico da dengue no Estado de São Paulo atualmente é muito mais “confortável”, por assim dizer, do que a situação em 2001, quando nada menos que 51.668 pessoas contraíram a doença em território paulista. Neste ano, foram 5.062 casos confirmados até agora, isto é, menos de 10% do total registrado há quatro anos.

A queda no número de casos foi observada ano a ano. Em 2002, tivemos 42.368 ocorrências de dengue no Estado. No ano seguinte, a quantidade de casos caiu pela metade — 20.292 casos. Em 2004, despencou para 3.049. A curva declinante foi interrompida neste ano, acendendo o sinal amarelo.

No início do segundo semestre de 2005, alertada pelo aumento do número de casos de dengue, a Secretaria de Estado da Saúde imediatamente mobilizou sua vigilância epidemiológica para, com o fundamental apoio das 645 prefeituras paulistas e de toda a população, propor um plano integrado para conter a doença, evitando um novo quadro epidêmico.

O “Dia D” de combate à dengue, que acontece hoje é um resultado prévio da força dessa mobilização estadual. Cerca de 15 mil pessoas, entre agentes da Secretaria, prefeituras e sociedade civil estarão nas ruas orientando a população e abrindo uma nova temporada de “guerra” contra o mosquito Aedes aegypti, causador da doença.

Em todo o Estado, foram programadas atividades de conscientização e prevenção, com participação da população. Vistorias a residências e praças, distribuição de panfletos, exposições, feiras de saúde, peças teatrais, passeatas e varreduras estão entre as ações previstas.

A campanha paulista será aberta em Santos. O motivo da escolha foi o número de casos registrados na Baixada Santista neste ano — 2.057 —, que representa cerca de 40% do total registrado no Estado. Para essa região, a Secretaria inicia hoje a distribuição de 80 mil folhetos de orientação à população. Mas, em todas as áreas do Estado, as Direções Regionais de Saúde (DIRs) estarão alertas e contribuindo para o “Dia D”.

Por meio de parceria com o Sindicato dos Empregados em Edifícios de Santos e Cubatão, a Associação de Administradores de Condomínio de Santos e Guarujá e o Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios de São Vicente, os folhetos chegarão aos prédios e casas de toda a Baixada Santista — na região, um dos principais problemas é o grande número de residências que ficam fechadas durante quase todo o ano (casas de veraneio).

Para o litoral norte, a Secretaria irá enviar 20 mil folhetos explicativos. A distribuição será para todas as cidades da região, aproveitando a chegada dos turistas nas férias. Na capital, haverá atividades em todos os bairros, incluindo apresentações de teatro, sessões de vídeo, gincanas e estandes para tirar dúvidas da população sobre a dengue.

Em cada município paulista, haverá, hoje, ecos do alerta sobre a necessária e fundamental prevenção à dengue. O auxílio da população, o trabalho de campo das prefeituras e o devido suporte técnico do governo do Estado são os três pilares da vitória nesta batalha por um verão sem dengue em São Paulo.

Luiz Roberto Barradas Barata é médico sanitarista e secretário de Estado da Saúde de São Paulo.