Veneno da jararaca age contra pré-eclâmpsia

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

qua, 16/01/2008 - 15h08 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Uma nova aplicação do veneno da jararaca desponta do laboratório. Dois pesquisadores do Instituto Butantã testam a substância para tratar a pré-eclâmpsia, um tipo de hipertensão que acomete uma em cada dez gestações no Brasil.

O estudo ainda está em fase inicial, mas os resultados preliminares são tão animadores que o instituto já entrou com pedidos de patente nacional e internacional, nos Estados Unidos e na Europa. Os detalhes do estudo serão publicados só depois da obtenção das patentes.

A pré-eclâmpsia atinge especialmente mulheres na primeira gravidez. Também há certa predisposição quando elas apresentam doenças como hipertensão crônica, diabete e problemas renais, entre outras.

Além da pressão alta, a pré-eclâmpsia se caracteriza pela retenção de líquidos e a eliminação de proteínas na urina. Se não for tratada, ela pode evoluir para convulsões e coma, a eclâmpsia. Apesar de evitável, essa condição responde por até 25% das mortes maternas no Brasil. “É um selo de incompetência do sistema de saúde”, diz o médico Marcelo Zugaib, diretor da Divisão de Obstetrícia do Hospital das Clínicas. Ele prescreve o uso de remédios para controlar a pressão arterial, como a droga em pesquisa.

Os farmacêuticos Juliano Guerreiro e Claudiana Lameu, do Centro de Toxicologia Aplicada do Butantã, sintetizaram um dos peptídeos presentes no veneno para tratar ratos com pré-eclâmpsia. Ele estimula indiretamente enzimas do endotélio (a camada mais interna dos vasos) a produzirem óxido nítrico. O gás, por sua vez, difunde-se por essa camada e atua nas células. Ele promove uma queda na concentração de cálcio intracelular, o que faz o músculo liso – então contraído, na hipertensão – a relaxar.

Guerreiro espera a aprovação de um novo financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para continuar testes toxicológicos com animais. “Para se fazer ensaios com humanos, precisamos de uma parceria com algum laboratório, porque é um passo muito caro”, diz.

Zugaib comemora o estudo. “Especialmente por não dizerem que querem curar a pré-eclâmpsia. Como curar algo que não se sabe por que surge?”