Vale do Paraíba investe em orgânicos

O Estado de São Paulo - Quarta-feira, dia 22 de novembro de 2006

qua, 22/11/2006 - 15h54 | Do Portal do Governo

Pequenas propriedades predominam na região, própria para o cultivo sem agrotóxicos

João Carlos de Faria

O Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo, tem 80% das propriedades com menos de 100 hectares. A maioria gerenciada por famílias. São sítios e chácaras caracterizadas pelo sistema de agricultura familiar, segundo a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento paulista. A predominância da agricultura familiar também é apontada, por técnicos e produtores, como uma das explicações para a tendência de crescimento dos cultivos orgânicos observada no Vale do Paraíba, principalmente nos últimos cinco anos.

Outros motivos para esse crescimento podem ser as características ambientais e de relevo específicas da região, que limitam grandes extensões de cultivo, como cana-de-açúcar ou grãos, ou a própria tendência de expansão da agricultura orgânica no País, na base de 40% ao ano, segundo a Associação de Agricultura Orgânica (AAO). “Há mais consumo do que produto, o que torna a atividade boa alternativa para pequenos”, diz o conselheiro da AAO, Tiago Biusse.

TENDÊNCIA MUNDIAL

“É uma tendência mundial”, acrescenta o engenheiro agrônomo João Bosco de Andrade Pereira, diretor da regional da Cati, em Pindamonhangaba. Ele aponta também um crescimento espontâneo de produtores que, embora adotem os procedimentos da agricultura orgânica, não são certificados.

Embora sem ter em mãos estatísticas oficiais, Pereira acha que a expansão da agricultura orgânica no Vale do Paraíba é claramente perceptível.

Boas iniciativas não faltam para ratificar essa constatação, seja por parte de instituições, associações e entidades representativas, ou por parte de empresários-agricultores. Um exemplo interessante é o da Prefeitura de Ubatuba, no Litoral Norte, que dá prioridade a produtos orgânicos na merenda.

Outra proposta está sendo desenvolvida por meio do Sistema Agroindustrial Integrado (SAI), parceria que reúne o Sebrae, a Cati e os sindicatos rurais locais, para estimular a produção orgânica na região. Idealizado para promover a certificação de 28 bananicultores, que, associados, pretendem produzir banana-passa orgânica, o projeto vai se estender para outras culturas.

“Apesar do foco na banana, vamos estimular o produtor a diversificar as culturas e, além disso, abrigaremos outros produtores”, afirma o engenheiro agrônomo Luis Fernando de Paula Rocha, também produtor orgânico e coordenador do projeto. A meta é instalar uma agroindústria, de olho no mercado externo. No ano que vem os orgânicos serão beneficiados com a criação de uma cadeia específica dentro do SAI, nos 23 municípios da área do Sebrae em Guaratinguetá.

Também em Taubaté, um grupo de produtores está se organizando em uma associação para ampliar o mercado. Por enquanto, eles se reúnem numa feira de orgânicos, às terças e quintas-feiras, numa praça da região central da cidade.

CAFÉ ORGÂNICO

Embora recente no Vale do Paraíba, a agricultura orgânica já tem fortes referências, como o Sítio Boa Esperança, localizado quase no topo da Serra da Mantiqueira, no Bairro dos Pilões, em Guaratinguetá (SP).

Com 8 hectares de área cultivada com frutas e hortaliças, o sítio investe agora na busca de parcerias para o plantio de café orgânico na região. Seria uma nova chance para o café no Vale do Paraíba, onde esse produto já valeu ouro, mas também foi o responsável pela degradação de boa parte das terras, que viraram pastagem.

Totalmente dedicada à agricultura orgânica, a propriedade deve iniciar a colheita daqui a dois a três anos, de 5 mil pés plantados sob o sistema orgânico. O café produzido já tem destino certo. “Temos compradores japoneses que já arremataram essa produção, ainda insuficiente, porém”, diz o proprietário do sítio, Paulo Goshiyama.