UTI para pacientes crônicos de SP triplica número de leitos

O Estado de S.Paulo - Sábado, 28 de julho de 2007

sáb, 28/07/2007 - 11h44 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

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Eles estão longe dos hospitais particulares de ponta, não têm planos de saúde e não podem viver com suas famílias desde que tinham poucos meses de vida. Há cerca de um ano, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, suas histórias se confundem todos os dias.

Hoje, eles são nove pacientes crônicos, com idades entre 1 e 12 anos. Ali, dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Doutor Arnaldo Pezzuti Cavalcanti, da Secretaria de Estado da Saúde, crescem presos a uma cama. Nasceram com síndromes degenerativas congênitas, como atrofia muscular espinhal aguda, ou vítimas das seqüelas de doenças como meningite infantil.

A partir da próxima semana, 20 novos internos devem começar a chegar. Depois, mais 20, porém adultos, considerados clinicamente irreversíveis, assim como as crianças. Os novos internos virão por conta da reforma e expansão da UTI feita pela secretaria. Os 16 leitos se transformaram em 44, divididos em alas adulta e pediátrica.

Aberta em 2006, a unidade passou por uma expansão que será oficialmente inaugurada na quinta-feira. Com um quarto à disposição, as mães podem passar ali noites seguidas.

Batizado de UTI para Moradores, o projeto recebeu investimentos de R$ 3,7 milhões e é uma tentativa de reunir o maior número possível dos 45 pacientes que vivem nos hospitais mantidos pelo governo estadual. A transferência não é obrigatória e deverá ser decidida pela família. O governo paga a passagem para deslocamentos diários até a cidade.

HUMANIZAÇÃO

A não ser pelas camas e monitores que não param de piscar, o local pouco lembra uma UTI convencional. O quarto onde os novos leitos estão instalados tem sistema de som, televisores com aparelhos de DVD, além de um aquário na entrada. Do lado de fora, um jardim de inverno para os que conseguem deixar o leito em cadeiras de roda, com respiradores artificiais.

Como E.S., de 9 anos, que passeia ao lado das enfermeiras pelo jardim quase todas as manhãs. Foi internado pela primeira vez com 2 meses. Mudou de hospital e de UTI duas vezes e nunca mais voltou para casa.

Com uma doença degenerativa muscular congênita, E.S. consegue se comunicar, mas não consegue fazer mais nada sem ajuda. Uma traqueostomia lhe permite respirar. Alimentar-se, só com sonda.

Sua mãe, Maria Jardilina da Silva, de 53 anos, é um exemplo de todas as outras que passam mais tempo na UTI do que em casa. Humilde, com pouca instrução e sem perspectivas de ver o filho um dia ter uma vida normal. Apesar de tudo, faz questão de dizer que poderia ser pior: “Quantos não morreram e ele continua aqui até hoje?”

Para o secretário estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, o projeto dará condições de outras mães compartilharem experiências. “A centralização nos permite aprender e ganhar experiência no tratamento desses pacientes e das famílias que precisam de cuidados especiais constantes.”

Silvana Aprígio Lucena, de 36 anos, é um exemplo. Há dez meses, sua filha E.L.G., de 4 anos, ocupa um dos leitos da UTI. Hoje, ela fala sobre a doença da filha – uma degeneração muscular congênita – com a desenvoltura de um profissional de saúde. Estimulada pelos médicos, decidiu fazer curso de auxiliar de enfermagem para “cuidar melhor da menina”.

Apesar de o quadro de E.L.G. ser considerado irreversível, a mãe não se deixa abater. Continua acreditando que um dia a medicina trará respostas para as mães da UTI. “Talvez a cura não chegue para ela, mas chegará para outras crianças”, diz.

O pediatra Angelo Roberto Júnior, coordenador da UTI, explica que o trabalho na unidade é diferente do realizado nas UTIs convencionais, onde o objetivo é que o paciente passe o menor tempo possível internado. “Aqui temos de dar condições para que tenham vida digna.”

Para Keila Alves Franchin, diretora do hospital, a aproximação da equipe médica com as mães é fundamental para ajudá-las a enfrentar as angústias de sua condição. Mensalmente é realizada uma reunião com as famílias para ouvir sugestões – e mesmo as mães de crianças que morreram na UTI costumam aparecer. “A essência desse trabalho é o envolvimento com os pacientes e com as famílias”, diz Keila.