USP transforma células de dente em ossos, músculos e neurônios

Folha de S. Paulo - Terça-feira, 20 de julho de 2004

ter, 20/07/2004 - 9h46 | Do Portal do Governo

Salvador Nogueira, enviado especial a Cuiabá

Já que ainda não podem desenvolver suas próprias linhagens de células-tronco embrionárias, vários pesquisadores brasileiros atualmente se voltam para suas parentes menos polêmicas, as células-tronco adultas. No último avanço, cientistas da USP conseguiram fazer com que células-tronco adultas extraídas da polpa de dentes se transformassem em vários tipos de tecido.

Entre eles estão osseoblastos – células ligadas à formação de ossos -, células musculares e até células nervosas. ‘Resta saber se elas são funcionais in vivo, mas é uma linhagem promissora’, contou Lygia da Veiga Pereira, que lidera o esforço, ao apresentar seus resultados, durante simpósio na 56ª Reunião Anual da SBPC.

Embora a legislação hoje obrigue a uma concentração da pesquisa nacional em torno das células-tronco adultas, Pereira não desistiu da causa. Ela aponta a incoerência no atual projeto da Lei de Biossegurança. ‘Ele aprova a clonagem terapêutica, ou seja, o desenvolvimento de terapias com células-tronco embrionárias, mas veta o uso de embriões, o que é uma contradição’, diz.

Pereira e seu grupo na USP estão já desenvolvendo pesquisas com células-tronco embrionárias. Mas elas não foram obtidas aqui, e sim nos EUA. Em março de 2004, um grupo da Universidade Harvard anunciou o desenvolvimento de 17 novas linhagens de células-tronco e se dispôs a distribuí-las mundo afora. Entre os grupos que adquiriram linhagens americanas está o da USP.

Para Pereira, a pesquisa com células-tronco – adultas e embrionárias – é promissora, mas ainda traz mais dúvidas do que respostas. Não se sabe, por exemplo, se no final as células adultas não serão tão eficientes quanto às embrionárias para o desenvolvimento de terapias celulares.

‘Apesar de as células -tronco adultas terem mostrado uma surpreendente plasticidade, a gente não pode dizer que elas têm as mesmas capacidades que as embrionárias’, diz ela.