USP pode ter sua primeira reitora

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 9 de novembro de 2005

qua, 09/11/2005 - 14h06 | Do Portal do Governo

A atual pró-reitora de Pós-Graduação, Suely Vilela, encabeça a lista tríplice escolhida em eleição marcada por protesto de estudantes

Renata Cafardo

A Universidade de São Paulo (USP) pode ter sua primeira reitora em quase 72 anos de história. A farmacêutica Suely Vilela, atual pró-reitora de Pós-Graduação, foi escolhida ontem como a primeira da lista tríplice para reitor da instituição. Os outros dois são Adilson Avansi e Hélio Nogueira da Cruz. Ela chorou ao constatar seus 154 votos entre 269 possíveis. A eleição foi marcada por protestos de alunos contra a forma indireta do processo. Eles quebraram a grade que protegia a portaria e tentaram derrubar uma porta de vidro blindada da reitoria, onde ocorria a eleição.

‘Isso mostra que a universidade está mudando paradigmas’, disse Suely, referindo-se à sua escolha. Pelas regras da eleição, o candidato que conseguisse a maioria dos votos no escrutínio inicial ficaria no topo da lista que é enviada ao governador Geraldo Alckmin. A prerrogativa da escolha do reitor é do governador, mas ele tradicionalmente opta pelo primeiro colocado. A lista foi entregue ao vice-governador Cláudio Lembo ainda ontem, para que fosse repassada a Alckmin antes de seu embarque para Israel, às 22h30. A nova reitora ou reitor toma posse no dia 26.

Durante a tarde, outros três escrutínios ocorreram até que saíssem os nomes de Avansi e Cruz. Até hoje, apenas uma mulher, em 1997, a então vice-reitora e professora da Faculdade de Educação Miriam Krasilchik, havia entrado na lista, mas em segundo lugar.

Nascida em Ilicínea, interior de Minas, Suely entrou na USP nos anos 70 para cursar Farmácia Bioquímica em Ribeirão Preto, unidade onde foi eleita diretora em 1998. Fez mestrado, doutorado, pós-doutorado, livre-docência na USP e, em 1996, tornou-se professora titular do departamento de Análises Clínicas, Toxicológicas e Bromatológicas. Suely tem 51 anos, um filho e ficou conhecida por combater os cursos pagos de pós-graduação, como MBAs e especializações. Ela tirou o status que tinham, transferindo-os para a categoria de curso de extensão.

PRIORIDADES
Na sua primeira entrevista depois do resultado, disse ser contra as cotas raciais e revelou um possível futuro projeto chamado Universidade na Escola Pública, com atuação da USP na formação dos alunos e professores do ensino básico. ‘Minhas prioridades serão a graduação e a inclusão social’, disse. Mesmo sem uma posição oficial, sabe-se que Suely era a candidata do atual reitor Adolpho José Melfi. ‘Fiquei feliz porque a eleição ocorreu normalmente, apesar do protesto’, disse ele.

A manifestação reuniu cerca de cem alunos, vestidos com fantasias que lembravam cardeais na escolha do papa. ‘Esse processo eleitoral é tão absurdo que só pode ser comparado à Igreja’, disse o diretor do Diretório Central Estudantil (DCE) da USP, Rodolfo Vianna. Segundo ele, a violência dos estudantes não foi uma determinação do DCE. Por cerca de meia hora, alguns alunos esmurraram a porta blindada, segurada pela guarda universitária. Líderes do movimento estudantil pediam que seus colegas parassem. A Polícia Militar foi chamada, mas depois que apuração foi transferida para outra sala trancada eles desistiram.

Podiam participar do segundo turno 301 eleitores – membros do Conselho Universitário e de conselhos centrais. Cerca de 85% deles são professores; o restante é de representantes de estudantes e de funcionários. No primeiro escrutínio, Suely teve maioria. No segundo, nenhum obteve. No terceiro, não era mais necessária a maioria dos votos e ficaram na lista, em segundo e terceiro lugares, Avansi, pró-reitor de Cultura e Extensão, e Cruz, atual vice-reitor.

QUALIDADE: Colocar mais dinheiro nas escolas, seja para gastar com equipamentos, seja para pagar professores, não melhora o nível de ensino. A melhor forma de aumentar a qualidade da educação é medir o desempenho das escolas de forma comparativa, com sistemas gerais de avaliação dos alunos. Além disso, esses resultados devem ser divulgados e deve-se premiar as melhores escolas e punir as piores. A recomendação é do economista americano Eric Hanushek, considerado um dos maiores especialistas do mundo em pesquisas sobre qualidade de educação. ‘Apenas irrigar as escolas com mais dinheiro e esperar que elas façam algo com esses recursos não adianta’, diz.

Hanushek chegou ao Rio ontem e participa hoje e amanhã do Seminário Internacional sobre Qualidade de Educação, no Hotel Glória, organizado pelos professores Aloisio Araújo e Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas no Rio (FGV-Rio). O economista afirmou ao Estado que uma das dificuldades para avaliar o desempenho das escolas, e introduzir planos de premiação das melhores, é justamente a resistência dos professores, que são uma categoria fortemente sindicalizada nos Estados Unidos, o que, acha ele, também é o caso no Brasil.

Ainda assim, continuou Hanushek, os Estados Unidos começaram a mover-se na direção que ele defende. ‘Pelo sistema, as escolas bem-sucedidas recebem mais recursos, que podem ser aplicados no aumento do salário dos professores ou na própria escola. As piores são obrigadas a financiar um reforço extra na educação dos alunos, a ser fornecido fora da escola.’