USP pode fazer a Zona Leste renascer

Jornal da Tarde - São Paulo - Quarta-feira, 2 de março de 2005

qua, 02/03/2005 - 13h00 | Do Portal do Governo

Iniciativas do poder público devem estimular a economia da região, atrair indústrias e comércio e renovar o parque imobiliário. O novo campus, que fica em Ermelino Matarazzo, recebe 1.020 alunos de seu primeiro vestibular. Tendência é o surgimento de empreendimentos residenciais horizontais.

Rodrigo Pereira

A USP Leste é parte de uma série de medidas públicas que devem impulsionar o desenvolvimento da Zona Leste. O novo campus, que fica em Ermelino Matarazzo, receberá os 1.020 alunos de seu primeiro vestibular. Em Cidade Tiradentes foram aprovados cursos técnicos na área de Saúde, que atraiu 7.600 candidatos para as 350 vagas das primeiras turmas, já nesse início do ano.

Além da educação, estão previstas melhorias viárias da Jacu-Pêssego e do entorno com a Operação Urbana Rio Verde-Jacu e atração de comércio e indústria pela oferta de incentivos fiscais.

O novo pólo educacional impulsiona o surgimento de um novo dinamismo socioeconômico que deve alterar as características da região. ‘O parque imobiliário existente deve se renovar a médio e longo prazos com imóveis para a classe média e média-baixa, de 2 a 3 dormitórios compactos’, aposta o diretor do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Eduardo Della Manna. Ele se refere às áreas mais distantes do centro e vincula tal expansão aos financiamentos, ‘hoje restritos à Caixa Econômica Federal’, e ao cumprimento das intervenções públicas.

Paulo de Melo Menezes, da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), diz que a tendência é a construção de imóveis de alto padrão nas áreas próximas ao centro e esse padrão deve cair quanto mais próximo estiver da periferia. Della Manna limita o alto padrão aos bairros da Mooca, Tatuapé e Anália Franco, ‘mesmo a longo prazo’.

Menezes diz que a tendência é existir muitos empreendimentos residenciais horizontais, principalmente por ainda existirem glebas de terrenos. ‘Constroem-se condomínios, espécie de vilas, com espaços comuns, uma piscina, por exemplo’.

No entanto, ambos atrelam tal desenvolvimento ao cumprimento coordenado das promessas da prefeitura e do governo estadual. ‘Os projetos existem, mas são de médio a longo prazos e precisam ser feitos conjunta e continuamente pelos governos estadual e municipal’, diz Manna.

Ele se preocupa em como a Prefeitura vai conseguir recursos para realizar obras. ‘Não há o mesmo interesse das outras operações urbanas, como a do centro ou a da Faria Lima. Não vai ter esse dinheiro, vai ser difícil vender Cepac (Certificados de Potencial Adicional de Construção) da região’, explica. ‘Então a prefeitura vai ter de injetar dinheiro. Mas pelo menos são do mesmo partido (prefeitura e governo estadual, do PSBB), o que deve facilitar as ações’.

Menezes também está receoso com a Operação Urbana Rio Verde-Jacu. ‘Fora a da Faria Lima, nenhuma Operação Urbana foi bem sucedida’, avalia.

Mas acredita que o Plano Diretor forçará novos usos de imóveis e terrenos ociosos, como o aumento progressivo de impostos e até a desapropriação, o que pode impulsionar o mercado imobiliário e valorizar urbanisticamente a região, com a preservação de áreas verdes e criação de espaços coletivos.

Hoje a Zona Leste abriga cerca de quatro milhões de habitantes, mas é a área com maior déficit de empregos, e por isso é chamada de região dormitório – concentra moradores que diariamente vão para outras regiões da cidade trabalhar.

O desenvolvimento da zona leste seria assim benéfico para toda cidade, ao desafogar as outras regiões.

E o novo campus da USP é a primeira grande esperança para esse desenvolvimento. Della Manna acredita que a vinda dos estudantes, professores e pesquisadores de outras regiões da cidade e do País, ‘como na Cidade Universitária, polariza uma série de inteligências e atrai indústrias de ponta, dinamiza a economia local’.

‘Cursinho já estão lá, foram criados bares, restaurantes e comércio diferenciados, voltados para o público jovem, mesmo antes de iniciar suas atividades’, observa Manna, para demonstrar o potencial de mudanças que a nova unidade da USP carrega.

Emurb vai revitalizar a região

Provocar o desenvolvimento de uma região da capital, urbanizar, criar mais empregos e qualidade de vida. Estes são alguns dos objetivos de uma operação urbana, que pode fazer uma intervenção na infra-estrutura de uma região, abrir avenidas, erguer viadutos, viabilizar investimentos imobiliários, desenvolver projetos e incentivos fiscais para atrair empresas e indústrias e, conseqüentemente, empregos.

A região periférica da Zona Leste vai ser alvo da Operação Urbana Rio Verde-Jacu. Segundo a Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), este é um planejamento urbano, sob a forma de lei municipal, que tem o objetivo de desenvolver a região com a formação de Centros de Comércio e Serviços, implantação de sistema de áreas verdes, retirada das favelas que ocupam as margens do rio e construção de novas habitações.

Um dos objetivos é incentivar o mercado imobiliário a produzir imóveis para a faixa de renda média. Seria usadoo padrão de habitação para o mercado popular, com apartamentos de até 70 metros quadrados.

Este é um mercado, que segundo a Emurb, não foi atendido nos últimos 30 anos, por conta da Lei de Zoneamento. Para o diretor do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Eduardo Della Manna, as vias da região do Jacu-Pêssego tem graves problemas de acesso, ponto que a operação urbana já prevê solucionar. ‘As medidas que estão sendo tomadas traz centralidade para a zona leste, deixando-a mais dinâmica; cria uma demanda pela renovação imobiliária, explica.