USP Leste se adapta à região

Jornal da Tarde - 3/11/2003

seg, 03/11/2003 - 10h23 | Do Portal do Governo

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USP Leste se adapta à região

Os 10 cursos que serão implementados no câmpus da Universidade de São Paulo (USP) na Zona Leste foram escolhidos especialmente para atender aos anseios da população local. Na nova unidade, escolheu-se por oferecer carreiras modernas (todas citadas nas pesquisas feitas junto à população local), como ciências da natureza, enfermagem geriátrica e obstétrica. Cursos mais tradicionais, como administração e marketing, não foram esquecidos. Carreiras com grande demanda, como a de informática, poderão ter turmas nos três períodos. O novo câmpus será aberto em 2005.

MARICI CAPITELLI


Estão praticamente definidos os 10 cursos que serão oferecidos no câmpus da Universidade de São Paulo (USP) na Zona Leste. São eles: administração e políticas públicas, artes, ciências da natureza, enfermagem geriátrica e obstétrica, esportes e saúde, lazer e turismo, sistemas de informação, marketing e gestão ambiental.

O número de vagas ficará entre 1,3 mil e 1,4 mil. O novo câmpus será inaugurado em 2005 e o primeiro vestibular para esses cursos ocorreem 2004.

Algumas carreiras com grande demanda, como a de informática, poderão ter turmas nos três períodos, com um total de 180 vagas. A maioria dos cursos será à noite, com duração de 4 a 6 anos. Os diurnos serão de 4 anos.

Todo o planejamento das carreiras foi entregue na semana passada para a Pró-Reitoria de Graduação da USP, que está analisando os aspectos técnicos, pedagógicos e legais, além de fazer os ajustes finais. A comissão central de implementação de projetos da USP Leste espera a aprovação final dos cursos com a máxima urgência.

“Alguns ajustes vão ser feitos nos cursos, mas acreditamos que todos serão aprovados”, afirmou o professor Wanderley Messias da Costa, um dos coordenadores do projeto da USP Zona Leste.

Costa explicou que os cursos oferecidos na nova unidade são profissões modernas e que foram citadas nas pesquisas feitas junto à comunidade. Ficaram de fora carreiras apontadas como importantes pela população local – como direito, medicina e engenharia – porque um dispositivo no regulamento da USP não permite a repetição de carreiras na mesma cidade.

“Estamos satisfeitos com a relação final dos cursos porque são profissões com boas expectativas de mercado e que atendem as nossas necessidades”, avaliou o engenheiro Ademir Gimenes Peres, coordenador de um curso pré-vestibular para carentes e umdos integrantes da comunidade no grupo que discute a implementação da universidade na região.

Segundo Peres, o mercado já está saturado de médicos, advogados e engenheiros. “E o acesso dos estudantes da região a esses cursos seria muito difícil.” A comunidade comemorou principalmente a criação das carreiras de enfermagem. Isso porque é grande o número de moradores que cursaram a carreira em nível técnico.

A enfermagem geriátrica é uma das carreiras mais esperadas. Um dos motivos é que na Zona Leste existem cerca de 80 centros de atendimento a idosos. “Isso vai abrir um campo de trabalho muito grande para os estudantes dessa área”, ressaltou Peres.

O curso de gestão ambiental é visto também com a perspectiva de que possa contribuir com o desenvolvimento sustentável da região.

Tanto o professor Costa como os representantes da comunidade afirmaram que vai existir integração entre as carreiras e os projetos locais. “No caso do cursos de enfermagem, os alunos vão estagiar em hospitais da região”, garantiu o representante da USP. O primeiro ano dos cursos na USP Leste será de ciclo básico. Os estudantes de todas as faculdades terão disciplinas comuns e algumas específicas de suas habilitações.

Assim que os cursos forem aprovados definitivamente, o próximo passo da USP será a contratação de professores para o novo câmpus. Será aberto um concurso para docentes (o número de vagas não está definido). “Mas o perfil do professor dessa unidade tem de ser diferenciado. Vamos exigir um profissional cujo trabalho tenha relação com a Zona Leste. Tem de estar comprometido com a região e ter olhos para ela”, disse o professor.

O sonho de estudar perto
Os olhos e os corações dos estudantes já estão voltados para a USP da Zona Leste mesmo antes da inauguração do câmpus. No cursinho comunitário Educafro – Luz de Ermelino, em Ermelino Matarazzo, os coordenadores estimam que pelo menos 15% dos estudantes não vão prestar vestibular neste ano porque estão esperando a inauguração. Muitos já pensam em mudar a escolha de suas carreiras para estudar perto de casa. O cobrador de ônibus Marcos Paulo Rossi, de 29 anos, detesta seu trabalho, pois não tem perspectivas e é vítima constante de assaltos. “A única saída para melhorar de vida é cursar uma universidade”, garante ele, que ganha R$ 600. Ele pretendia cursar Economia, mas como não haverá o curso no câmpus Leste, ele não descarta outra carreira. Por três anos consecutivos, Eduardo Bruno dos Santos Costa, de 20 anos, tentou ser aprovado em Medicina. Não conseguiu. No ano passado, ele chegou a cursar três meses de Fisioterapia em uma faculdade particular. Mas teve que sair por não conseguir pagar a mensalidade de R$ 820. Esse ano, ele tem estudado seis horas por dia em casa e mais três no pré-vestibular. Eduardo vai tentar Fisioterapia e Farmácia. “Se não for aprovado na USP vou fazer Sistema de Informação no câmpus da Leste.” Segundo ele, a nova USP vai evitar discriminação. “No câmpus do Butantã existe preconceito contra os mais simples.” Vilma Novaes, de 20 anos, discorda. Há três anos ela economiza o o salário de secretária para cursar uma universidade. O seu sonho é estudar Letras na USP. “Morar na periferia não me desanima. Não me sinto discriminada.”