USP elabora teste para hantavírus

Folha de S. Paulo - São Paulo - Quarta-feira, 25 de agosto de 2004

qua, 25/08/2004 - 9h39 | Do Portal do Governo

Proteína isolada de vírus paulista deve acelerar diagnóstico da doença

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo uma versão nacional do teste de laboratório capaz de identificar a presença no organismo do hantavírus, parasita causador de uma séria síndrome pulmonar e cardiovascular.

A proteína, identificada pelos cientistas depois de mais de seis anos de trabalho, vem de uma versão regional do vírus, denominada Araraquara. ‘É a nossa ‘Tabajara”, brinca Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, pesquisador da USP em Ribeirão Preto que coordena o esforço. Com o procedimento, que já está sendo patenteado pelos cientistas, será possível expandir a rede de laboratórios que faz o diagnóstico com amostras de sangue de pacientes.

‘Hoje em dia, só dois laboratórios no Brasil fazem isso. O Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas, em Belém’, diz Figueiredo. ‘Eles fazem isso com amostras de uma proteína que vem dos CDC [Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA] e da Argentina, mas é pouco. Se conseguirmos produzir a proteína aqui, poderemos distribuir para todo lugar.’

O que os cientistas brasileiros fizeram foi identificar uma proteína do hantavírus similar à importada que fizesse o corpo reagir à presença do micróbio. Eles identificaram o código genético responsável pela produção dessa proteína e então o introduziram numa bactéria, para que ela servisse de fábrica natural da substância.

As razões para a adoção desse procedimento foram duas. Primeiro, é muito perigoso manipular o vírus em laboratório. ‘Não tínhamos estrutura para isso’, diz Figueiredo. Com uma bactéria produzindo a proteína, o trabalho dos pesquisadores ficou bem mais seguro. A segunda razão foi a taxa de produção da substância, bem mais alta nas bactérias.

A partir da produção da proteína, o teste é feito de forma simples. Basta fazê-la reagir com o sangue do paciente e ver se há anticorpos para ela na amostra. Em caso positivo, é sinal de que a pessoa já havia sido exposta ao vírus.

‘É um método comum. Em um dia você pode fazer o teste e saber o resultado’, afirma o cientista.

O hantavírus pode ficar até dois meses incubado no organismo antes dos primeiros sintomas. Depois que eles começam, no entanto, o paciente pode morrer em poucos dias. Tanto que, mesmo com testes rápidos de laboratório, a instrução para os médicos é internar o paciente assim que surge a suspeita, deixando os exames apenas como confirmação.

A hantavirose ataca principalmente o pulmão, causando crescente insuficiência respiratória. No Brasil, a doença fez vítimas recentemente em Brasília e seu entorno. Desde o primeiro caso registrado, em maio, já foram 11 os mortos por hantavirose.

Vacina

A inovação brasileira foi feita em meio a um grande projeto de estudos de vírus financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Só em Ribeirão Preto, foi investido R$ 1,6 milhão, em estudos e na criação de um laboratório de segurança de nível 3, especialmente para manipular o hantavírus.

E a descoberta pode levar a vôos mais altos. No futuro, os cientistas querem investigar a possibilidade de a proteína servir como uma vacina. ‘Vamos testar em animais para ver se eles, ao serem inoculados com a proteína, desenvolvem anticorpos contra o vírus.’