USP e Unesp buscam aluno da escola pública

Folha de S.Paulo - Quinta-feira, 8 de setembro de 2005

qui, 08/09/2005 - 10h27 | Do Portal do Governo

Sem aderir às cotas, universidades aumentam isenções da inscrição para o vestibular e vão a colégios tentar atrair estudantes

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem uma posição definida sobre a adoção de cotas, a USP e a Unesp preferiram implementar medidas menos radicais para atrair estudantes da escola pública neste ano. A estratégia é levar alunos do ensino médio público a se inscrever no vestibular por meio de visitas e do aumento das isenções da taxa de inscrição.

Essas ações foram consideradas insuficientes por movimentos que reivindicam a inclusão social no ensino superior.

Atualmente, 80% dos estudantes do ensino médio são da rede pública, mas eles não chegam a 45% dos inscritos nos processos seletivos das universidades mantidas pelo Estado.

‘O sujeito pensa: ‘Isso não é para o meu bico’, diz o diretor acadêmico da Vunesp (fundação que aplica o vestibular da Unesp), Fernando Prado. ‘Mas, se ele nem presta [o vestibular], como vai saber se pode ou não entrar na universidade?’

Na tentativa de ao menos aliviar essa resistência de possíveis candidatos, a Unesp formou uma equipe com 68 professores, que farão palestras a 120 mil estudantes em 400 escolas públicas.

O resultado do questionário respondido pelos vestibulandos no processo seletivo para ingresso neste ano mostra que 56% dos inscritos tomaram conhecimento da prova no local onde estudam (escola ou cursinho).

A idéia é apresentar o vestibular e mostrar, como incentivo, dois dados: 38,6% dos ingressantes na universidade em 2005 estudaram em escola pública, e 27,9% foram aprovados sem ter feito cursinho.

A outra medida adotada pela Unesp é o aumento do número de isenções da taxa de inscrição, que custa R$ 105, incluindo o manual. Serão 34 mil, sendo 26 mil de uma parceria com o governo do Estado. A parceria oferece isenções para dois alunos de cada classe de 3º ano das escolas estaduais.

Caberá aos diretores dos colégios escolher os nomes. A universidade e o governo recomendam que sejam considerados o desempenho escolar e o interesse dos candidatos pelos estudos. O diretor acadêmico da Vunesp admite que há a possibilidade de haver arbitrariedade nas indicações. ‘Mas, no geral, esperamos ter um bom resultado’, disse.

Com as medidas, a universidade espera que aumente o número de estudantes da rede pública inscritos no seu vestibular e, conseqüentemente, suba a participação deles entre os aprovados, atingindo 50% do total.

Cartas

A USP também aumentou o número de isenções, que chegou a 65 mil -como na Unesp, a taxa está em R$ 105. Em 2004, quando foram oferecidas 60 mil isenções, só 39,5 mil foram preenchidas.

A universidade entende que um dos fatores para essa sobra foi justamente a falta de divulgação do seu vestibular nas escolas públicas. Por isso, neste ano, a instituição afirmou que foram enviadas cartas para todos os colégios estaduais de São Paulo para apresentar o vestibular e convidar professores a visitar a universidade.

‘Queremos tornar a USP mais próxima, familiar ao aluno da escola pública’, disse a pró-reitora de graduação, Sonia Penin. ‘A auto-exclusão é uma questão terrível, socialmente falando.’

Para Penin, mesmo que o candidato do ensino médio público avalie que tem poucas chances de ser aprovado, ele deve prestar o vestibular. ‘Ao fazer a prova, ele fica mais bem preparado para o próximo ano’, disse.

Tanto a USP quanto a Unesp estão discutindo a adoção ou não de cotas para alunos da rede pública. As duas universidades, por enquanto, vão analisar o impacto das medidas já adotadas, para verificar se foram suficientes.
Entre as universidades públicas mantidas pelo Estado, a Unicamp foi a única que já alterou seu vestibular visando a inclusão de estudantes do sistema público. A partir deste ano, esses estudantes ganharam pontos extras.

A instituição também busca aumentar o número de candidatos da escola pública. Além das isenções da taxa, a universidade anualmente convida as escolas a visitarem seu campus.

No entanto, anteontem, a Unicamp aprovou um documento que critica a exigência de reservar 50% das vagas de universidades federais a estudantes da escola pública, como prevê o texto da reforma universitária.