O Estado de S.Paulo
A Universidade de São Paulo (USP) vai realizar em setembro ou outubro uma prova no 3º ano do ensino médio de escolas públicas do Estado, que contará pontos na Fuvest. A idéia é criar uma espécie de avaliação seriada, mas que não substituirá o vestibular. O desempenho do aluno na prova vai representar um bônus de até 3% na nota do vestibular, índice que deve aumentar nos próximos anos quando serão incluídas provas para estudantes de 1º e 2º ano do ensino médio. A mudança no mais concorrido vestibular do País foi aprovada no fim de março e representa a segunda etapa de um programa de inclusão da USP, o Inclusp.
Além disso, candidatos oriundos de qualquer escola pública do Brasil receberão um acréscimo de até 6% em suas notas conforme seus resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O exame, feito pelo Ministério da Educação (MEC), já dá pontos adicionais na Fuvest para todos os concorrentes, medida que não será alterada. Com os outros 3% que já são dados desde 2006, serão até 12% de bônus na Fuvest para alunos de escolas públicas a partir deste ano.
Segundo a pró-reitora de graduação da USP, Selma Garrido Pimenta, a logística e o custo das provas do Programa de Avaliação Seriada (PAS-USP) ficarão por conta da Secretaria de Estado da Educação. O exame será voluntário, com possibilidade de adesão da escola e do aluno. A nova prova será elaborada por uma equipe da pró-reitoria e ainda não há definição sobre quantidade ou formato das questões.
De acordo com Selma, o conteúdo levará em conta os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino médio. “A finalidade da Fuvest é a de selecionar para as vagas da USP. No novo programa, a intenção é contribuir com a escola pública e reverter uma cultura de auto-exclusão desses alunos”, diz Selma.
No fim de 2010, a avaliação seriada poderá ser feita por todos os alunos do ensino médio das escolas estaduais, num total de 1,5 milhão de estudantes. Neste ano, a nova prova da USP poderá ser aplicada aos cerca de 380 mil estudantes do 3º ano. A aluna Mariana de Mendonça, de 17 anos, gostou das mudanças. “Podemos diminuir um pouco mais a nossa desvantagem com relação aos alunos da rede particular”, diz ela, que estuda numa escola estadual e quer cursar Relações Internacionais. “É uma medida paliativa e conservadora”, diz Gilberto Alvarez, diretor do Cursinho da Poli, que atende principalmente alunos de escolas públicas. Para ele, não se trata de um “sistema seriado verdadeiro” já que as provas não substituem o vestibular, como ocorre no programa da Universidade de Brasília (UnB), desde 1995. Lá, são feitas provas ao fim de cada ano no ensino médio e as notas compõem o resultado que definirá ou não a aprovação do aluno.
“Esse tipo de medida não pode encobrir o que o Estado não está fazendo nas escolas públicas”, diz a educadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Maria Marcia Sigrist . Para ela, o governo precisa investir na qualidade de todo o ensino básico público para que esses alunos possam almejar estudar numa instituição como a USP. “O ensino médio está abandonado, com alta evasão e uma necessidade de revisão do currículo”, completa a educadora.
O Inclusp foi lançado há dois anos com o objetivo inicial de chegar a 50% dos alunos da USP oriundos de escolas públicas. Os dados mais recentes mostram que hoje eles são 26,3% ou 2.713 estudantes. Em 2007, o número era um pouco menor, 2.448, e, em 2006, maior (2.719). “O programa tem resultados positivos e conseguiu conter uma tendência de queda causada principalmente pelo ProUni (Programa Universidade para Todos)”, diz a pró-reitora. Ela se refere ao impacto do programa do MEC que dá bolsas para alunos de escolas públicas em universidades privadas.
O QUE MUDA Prova: Neste ano, haverá um exame para alunos do 3.º ano do ensino médio de escolas estaduais paulistas. Quem tiver bom desempenho poderá ganhar bônus de até 3% na nota da Fuvest. A partir do ano que vem, a prova será aplicada para os que cursam os 2.º e 3.º anos. Em 2010 será feita no 1.º, 2.º e 3.º ano, completando um sistema de avaliação seriada
Enem: O desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) renderá também até 6% de bônus para os alunos da rede pública. Hoje, o Enem já é considerado para todos os estudantes,
o que não mudará Em vigor: Atualmente, oriundos da escola pública recebem bônus de 3%. A partir deste ano, eles poderão chegar a um acréscimo de até 12% da nota
