USP aprova facilidades para alunos da rede pública na Fuvest

O Estado de São Paulo - Quarta-feira, dia 24 de maio de 2006

qua, 24/05/2006 - 9h59 | Do Portal do Governo

Eles ganharão 3% a mais de pontos e devem chegar a 30% dos aprovados



Renata Cafardo


A Universidade de São Paulo (USP) aprovou ontem a maior mudança da história de seu vestibular. A partir deste ano alunos de escolas públicas ganharão 3% a mais de pontos na sua nota na primeira e na segunda fase da Fuvest. Com isso, estima-se que ingressariam cerca de 600 estudantes da rede pública a mais na USP, o que equivale a 30% dos aprovados. As inscrições para o vestibular começam em agosto. Na última prova, participaram cerca de 170 mil candidatos.


O projeto, chamado Inclusp, foi votado pelo Conselho Universitário ontem à tarde e teve 79 manifestações a favor, 2 contra e 6 abstenções. Pela manhã, cerca de 100 integrantes da ONG Educafro, que oferece cursinhos comunitários para negros e carentes, invadiram a reitoria. Portas foram quebradas e dois integrantes da Guarda Universitária ficaram feridos.


Com sangue, um manifestante escreveu na porta que dava acesso à reunião do conselho “cotas já”. “Foi um ato de indignação do povo pobre e negro”, disse o coordenador da Educafro, Eduardo Pereira Neto. Eles reivindicavam que o projeto fosse ampliado. O protesto só acabou quando a reitoria se comprometeu a estudar o assunto.


O projeto aprovado dará o benefício a estudantes que cursaram todo o ensino médio na rede pública. “O ideal seria chegarmos a 50% de alunos de escolas públicas na USP”, disse a reitora Suely Vilela. Segundo ela, a universidade rejeita a idéia de um sistema de cotas e preferiu fazer “inclusão com mérito acadêmico”. A USP informou que “foram feitos estudos” para se chegar aos 3% de bônus, mas não detalhou como esse número foi determinado.


O número de questões da prova caíra de 100 para 90, mantendo o mesmo tempo de cinco horas. “É algo que ajuda alunos de escolas públicas e particulares”, disse a reitora. Algumas das questões serão interdisciplinares, mas não está definido quantas. A idéia é que o exame se torne menos conteudista e cobre competências como relacionar conhecimentos, analisar contextos e comparações.


Uma avaliação seriada, com provas no fim de cada ano do ensino médio público e notas incorporadas à Fuvest, também está prevista no projeto, mas só deve começar em 2007. Este ano, as provas serão em 26 de novembro. Haverá 10.202 vagas na USP, sendo que 3.602 no período noturno. O aumento de cursos à noite também está previsto no documento. O Inclusp prevê bolsas para os estudantes carentes e incentivo à iniciação científica.


Os integrantes do conselho que representam o Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE) se abstiveram de votar o projeto porque não concordam com alguns pontos e defendem um bônus maior, inclusão de negros e um recorte socioeconômico dos beneficiados.


A medida foi bem recebida por diretores dos cursinhos Etapa, Anglo e Objetivo. “As ações mostram a sabedoria da universidade em não fazer nada de forma descontrolada. É o mesmo raciocínio que a Unicamp adotou”, diz Carlos Eduardo Binde, diretor do Etapa. “A USP está fazendo a parte dela, mas o governo deveria melhorar o ensino público, para o aluno não precisar dessa esmola”, afirma Eduardo Figueiredo, do Objetivo.



COLABOROU: SIMONE IWASSO