USP abre centro cultural na Casa de Dona Yayá

O Estado de S. Paulo - Segunda-feira, 15 de março de 2004

seg, 15/03/2004 - 8h58 | Do Portal do Governo

Imóvel de 1870 estava abandonado e foi restaurado com o mínimo de intervenção

MÁRCIA GLOGOWSKI

Muita gente se pergunta o que há no casarão, quase escondido, em cima daquele paredão na esquina das Ruas Jaceguai e Major Diogo, na Bela Vista. É uma casa antiga, com uma densa história. A Casa da Dona Yayá, que ficou tantos anos abandonada. Agora, restaurada, vira centro cultural. Não, não é mais um centro cultural qualquer numa cidade cheia deles. É a nova sede do Centro de Preservação Cultural (CPC) da Universidade de São Paulo (USP), que funcionava no prédio da reitoria na Cidade Universitária.

A abertura oficial será amanhã, com um ciclo de palestras a partir das 19 horas. A diretora do CPC, Ana Lana, destaca a importância desse imóvel, cujo restauro foi bancado pela universidade. ‘É uma restauração conservativa, com o mínimo de intervenção, pois é um bem tombado.’

De fato, dava para ver o cuidado que os restauradores e os próprios guardas tinham durante os trabalhos para manter a casa o mais fiel possível ao que era. O imóvel começou a ser construído em 1870, inicialmente como um chalé de tijolo. Em 1902, ganhou as linhas atuais. O frontão tem a data marcada, hábito bem prático, perdido nos dias de hoje.

Nos anos 50, a casa ganhou um ‘narigão’ – uma construção em pedra, que forma um jardim suspenso ligado apenas à casa e distoa completamente do seu estilo.

Tragédia – Esse jardim foi o ‘cativeiro’ de Yayá, ou Sebastiana de Mello Freire, que em menos de quatro anos perdeu duas irmãs e os pais, Manuel e Josefina de Mello Freire. Órfã aos 12 anos, ela e o irmão, Manuel de Almeida Mello Freire Júnior, de 17, passaram a ser criados pelo senador Albuquerque Lins, amigo da família. O irmão morreu poucos anos depois, durante uma viagem à Europa, na companhia de Yayá.

Sozinha, ela voltou a São Paulo e se tornou figura polêmica na sociedade.

Uns diziam que era avançada demais para a época. Outros, que era recatada – apenas ligada às artes. O fato é que, após outra viagem à Europa, ela começou a dar sinais de desequilíbrio emocional.

Internada durante algum tempo, ela voltou à casa da família na Major Diogo em 1918. Lá viveu até sua morte, em 1961, aos 74 anos. E desde os anos 50, passava a maior parte do tempo confinada no ‘narigão’. Em A Casa de Dona Yayá (Edusp), a historiadora Marly Rodrigues conta sua trajetória.

Yayá não deixou herdeiros. Sua herança foi disputada por parentes distantes e amigos, mas, em 1969, a Justiça decidiu entregar os bens de Yayá à USP, como prevê lei estadual, no caso de quem não tem herdeiros. Em 1982, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) aprovou o tombamento do imóvel.

Com apoio da Associação de Moradores do Bexiga, a USP iniciou no ano passado a restauração da casa. A idéia, diz Ana, é justamente organizar atividades culturais para o público. ‘Dialogar com o espaço e atrair a atenção da população com uma troca entre a cidade e a universidade’, diz a diretora do CPC.