Urbanidade: Kart-escola

Folha de S. Paulo - Quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

qua, 10/12/2003 - 9h48 | Do Portal do Governo

Gilberto Dimenstein, colunista da Folha

O engenheiro mecânico desempregado Wagner Fernandes jamais poderia imaginar que seu kart, sem ganhar nenhuma corrida – aliás, sem nem sequer disputar uma corrida -, faria tanto sucesso. Não precisou nem mesmo pisar em uma pista: bastou ir para uma escola.

A história do kart se inicia bem distante da engenharia mecânica. Começou em outro tipo de movimento: uma aula de balé. Uma filha de Wagner Fernandes se ofereceu para dar aulas de balé como voluntária em um colégio estadual na zona leste (Blanca Zwicker). Neste ano, as escolas estaduais passaram a abrir nos finais de semana para o desenvolvimento de atividades extracurriculares que envolvem a comunidade.

O pai resolveu seguir os passos de sua filha e se propôs ensinar o que já faz há tanto tempo: montar carros. Na frente dos boquiabertos estudantes, para os quais ciências é um amontado de fórmulas desconectadas da realidade,
Wagner ia falando sobre química, física e matemática, enquanto montava, peça por peça, o kart. ‘Pelos olhos deles, era como se eu estivesse fazendo mágica.’ Aprendeu-se ali, em meio aos ruídos do acelerador, o que é, por exemplo, combustão ou octanagem.

Mas os olhos brilharam mesmo quando os estudantes não apenas viram mas sentiram como aqueles princípios de física e de química produziam movimento. Pilotaram, eletrizados, o kart. No sábado passado, o veículo foi apresentado como uma espécie de troféu na escola. Seria a despedida -mas, pelo jeito, foi a largada.

Quando começou a frequentar a escola, Wagner estava convencido de que o projeto talvez ajudasse a formar jovens para trabalhar em oficinas mecânicas, onde eles poderiam ganhar algum dinheiro. Nada mais do que isso. O projeto mudou de rumo e se transformou em um modelo de aprendizado de ciências. ‘É uma experiência genial’, entusiasma-se o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que conheceu pessoalmente os efeitos pedagógicos do kart.

Os educadores, afinal, buscam desesperadamente meios de tornar mais atrativo o ensino das ciências, aproximando-as do cotidiano. O secretário estadual da Educação, Gabriel Chalita, está estudando os meios de fazer o kart educativo correr. ‘É o caso de levar o projeto a mais escolas’, compromete-se o secretário.