Unicamp vai aperfeiçoar suas patentes

Gazeta Mercantil - Segunda-feira, 22 de março de 2004

seg, 22/03/2004 - 9h16 | Do Portal do Governo

Agnaldo Brito

Não bastou criar a Agência de Inovação da Unicamp (Inovacamp) para tornar viável a transferência ao setor produtivo de patentes engavetadas nos escaninhos da academia. A Inovacamp, uma estrutura focada em mercado – inédita dentro de uma universidade pública no Brasil –, terá de se ocupar de uma tarefa adicional: tornar as patentes mais ajustadas à demanda de mercado, ou mais encorpadas para as negociações de licenciamento.

E é para detalhar as potencialidades das patentes que a agência criará o Programa Diligência da Inovação (PDI). Formado por pelo menos 40 pessoas, esse grupo terá a missão de indicar eventuais falhas nas patentes, ou mesmo incorporar informações para que se tornem mais completas e atrativas para empresas e investidores.

São vários os tipos de ajustes, mas todos têm como objetivo ampliar as chances de uma inovação se tornar negócio. ‘Quando se negocia um licenciamento, as empresas, principalmente as pequenas e médias, ou investidores têm muitas dúvidas sobre a viabilidade do negócio. Com as grandes, sobretudo as multinacionais, as negociações são mais diretas e fáceis. Em geral, possuem áreas que fazem esse trabalho preliminar de avaliar as potencialidades de uma patente’, explica Roberto Lotufo, diretor de parcerias e propostas colaborativas da Inovacamp. A dificuldade, afirma o diretor, foi observada durante as várias negociações já iniciadas pela agência. ‘A atividade da agência é muito nova no Brasil; não temos modelos em que podemos nos basear. Essa necessidade foi constatada posteriormente’, explica Lotufo. Se a agência aspira ser um modelo brasileiro para aproximar o conhecimento gerado na academia do mercado, esse novo adendo deve ser considerado.

O programa já foi lançado, mas será implantado gradualmente. A coordenação geral ficará por conta da Inovacamp e do Instituto Inovação (II), empresa criada por ex-alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que criou a idéia da ‘diligência’ da inovação. A empresa tem como objetivo levar o pesquisador e sua invenção às portas de uma empresa.

Para testar a idéia, a agência e o instituto tocarão um projeto-piloto como demonstração. Ambos farão a adequação de uma patente de um pesquisador da Unicamp que criou uma nova tecnologia de catalisadores de automóveis. A experiência tem como meta dotar essa patente de todas as informações necessárias para se tornar atrativa a uma indústria. O projeto-piloto deve ser concluído em dois ou três meses.

Paralelamente a essa experiência, a Inovacamp e o Instituto da Inovação concluem um edital de convocação para pesquisadores da Unicamp. A meta é atrair os responsáveis pelo conjunto de 276 patentes da Unicamp. Quem tiver a disposição de participar do PDI terá de fazer a adesão formal. O grupo de 40 pessoas que checará as patentes entrará em ação no segundo semestre, já com a lista de patentes indicadas no processo de convocação que vai de abril a junho. Para isso, a coordenação do programa quer buscar financiamento para tornar viável a operação. A Unicamp contribuirá com R$ 100 mil. O restante dos recursos (R$ 200 mil) será captado em outras agências de fomento, Sebrae, CNPq, Finep, Fapesp. A verba será usada para custear as bolsas para os estudantes.

A distribuição das patentes entre os grupos ainda não está totalmente definida. Mas a idéia é que os 40 estudantes sejam divididos em grupos e cada equipe fique com a responsabilidade de indicar eventuais deficiências e virtudes de um grupo de patentes. Essa operação será desenvolvida ao longo de todo do segundo semestre e, provavelmente, poderá gerar negócios a partir de então.

A meta da Unicamp é licenciar cerca de dez patentes por ano. Ao longo da história da Universidade, apenas sete foram licenciadas, o que gerou nos últimos oito anos cerca de R$ 1 milhão em royalties para a instituição. A criação do programa Diligência da Inovação não tem a pretensão, afirma Lotufo, de tornar viável a meta deste ano, mas faz parte de um conjunto de ações que cria condições para que os licenciamentos se tornem um movimento perene a partir de agora.