Unicamp testa terapia contra a incontinência em crianças

Correio Popular - Domingo, dia 2 de julho de 2006

dom, 02/07/2006 - 11h55 | Do Portal do Governo

Objetivo da pesquisa é buscar nos exercícios uma alternativa ao tratamento com medicamentos

Delma Medeiros

DA AGÊNCIA ANHANGÜERA

delma@rac.com.br

Uma pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) investiga se a prática de exercícios para reforçar a musculatura pélvica pode substituir o uso de medicamentos para controle da incontinência urinária infantil, também chamada de enurese polissintomática.

O estudo, coordenado pela mestranda e fisioterapeuta Renata Martins Campos, vai avaliar 40 crianças entre 5 e 10 anos que apresentem quadro de perda urinária pelo menos três vezes ao dia e também à noite. O estudo, que teve início há cerca de dois meses e deve ser concluído até outubro, ainda está selecionando candidatos para completar o total previsto de 40 crianças.

Renata explica que a musculatura abdominal, dos adutores da coxa e dos glúteos tem interrelação direta com a musculatura do períneo (assoalho pélvico). Os exercícios de membros inferiores reforçam o períneo e permitem que a criança tenha maior controle da urina.

O estudo vai dividir as crianças em dois grupos: um com tratamento medicamentoso e outro com o convencional, baseado em fisioterapia associado com orientação higiênico-dietética, que consiste em estabelecer intervalos para as idas ao banheiro e a ingestão de líquidos. Segundo Renata, bebidas como como leite, refrigerante, café e chá hiperestimulam a bexiga e, portanto, devem ser evitados à noite por crianças com enurese.

Ela destaca que é importante ingerir muito líquido durante o dia (os adultos em torno de dois litros e crianças de acordo com a idade), especialmente água. Já à noite, o ideal é restringir a ingestão a um copo de água e um de suco natural para prevenir as várias idas noturnas ao banheiro ou fazer xixi na cama.

Renata orienta que o ideal é ir ao banheiro em intervalos de três ou quatro horas. “Orientamos também sobre a forma correta de urinar”, diz a especialista, ressaltando que a micção deve ser realizada sempre com muita calma e paciência.

A incontinência atinge entre 15% e 20% das crianças na faixa etária pesquisada, que durante o dia ou noite manifestam “pressa em ir ao banheiro” e muitas vezes não conseguem controlar a liberação da urina. “As alterações, em geral, ocorrem entre os 5 e 10 anos. Depois dos 10 anos, muitas vezes o organismo resolve a questão”, diz Renata. Ela cita que nesta idade as crianças estão iniciando seus relacionamentos sociais e a enurese polissintomática afeta diretamente a sociabilidade. “As crianças que enfrentam este problema se retraem e evitam o convívio social por vergonha ou timidez.”

A fisioterapeuta diz que muitas vezes os pais punem indevidamente a criança, o que não resolve. “Às vezes, os pais não percebem que os gestos infantis, como sentar de cócoras várias vezes ao dia e cruzar as pernas com freqüência, podem estar relacionados ao problema”, diz o professor de urologia Carlos D’Ancona, orientador da tese de mestrado.

“A intenção da pesquisa é estabelecer uma forma alternativa de tratamento para a enurese polissintomática”, afirma Renata. D’Ancona reforça que os tratamentos com remédio têm custo significativo, apresentam diversos efeitos colaterais, como boca seca, distúrbio da visão e intestino preso, e nem sempre resolvem. “A expectativa é que com três meses de tratamento fisioterapêutico a criança melhore os sintomas das perdas urinárias”, diz Renata, acrescentando que os exercícios são relativamente simples e podem ser feitos em casa.

DICAS

A forma correta de urinar

Para mulheres

Sentar no vaso e abaixar a calcinha até os pés. Inclinar o tronco para frente, apoiar os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos, e urinar com paciência, para uma micção completa.

Para homens

O ideal é também sentar no vaso para urinar e a orientação é a mesma dada às mulheres. Se optar por urinar em pé, deve fazê-lo sem pressa, com muita calma e paciência.

Menina de 11 anos já sente efeitos positivos

Há dois meses em tratamento com a fisioterapeuta Renata Campos, Lisandra do Couto, de 11 anos, diz que já sente os efeitos benéficos dos exercícios e orientações dietéticas. “Antes, a calcinha ficava molhada e tinha que levantar várias vezes à noite para ir ao banheiro. Agora, isso acabou”, comemora.

Ela afirma que segue direitinho as orientações da fisioterapeuta e vem periodicamente a Campinas — Lisandra mora em Extrema, Minas Gerais — para consultas. “Vou ao banheiro a cada três horas, tomo um litro de água durante o dia e à noite só tomo um copo de água e um de suco”, conta.

A mãe de Lisandra, Cláudia Barbosa Magalhães do Couto, diz que a menina fez xixi na cama até os 6 anos e, depois, sempre foi vítima de infecções urinárias. “Ela já fez um monte de exames, mas só foi detectado uma pequena cicatriz no rim. Não sabemos a causa de tantas infecções nem da falta de controle de liberação de urina”, diz a mãe. “Agora, ela está aprendendo a educar a bexiga e os problemas já diminuíram.”

SAIBA MAIS

A primeira etapa da pesquisa consiste no cadastramento das crianças que apresentem o problema. Os interessados podem buscar informações no Ambulatório de Urologia do Hospital de Clínicas, que funciona às quartas-feiras, das 9h às 12h para marcação do atendimento. O código da pesquisa é 38.282. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (19) 3788-7481.