Unicamp privilegia aluno da rede pública

Folha de S. Paulo - Quarta-feira, 26 de maio de 2004

qua, 26/05/2004 - 8h59 | Do Portal do Governo

Na fase final do vestibular de 2005, estudante de escola do governo
vai receber até 40 pontos de bonificação

Fernanda Bassette, free-lance para a Folha Campinas

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) aprovou ontem um sistema para o ingresso na instituição que prevê benefícios para a inclusão de alunos vindos de escolas públicas. O método é inédito no Estado de São Paulo.

Segundo a Unicamp, 32% de seus matriculados fizeram o ensino médio na rede pública.

O Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social foi aprovado ontem pelo Conselho Universitário. Estabelece a adoção de pontuação extra no vestibular para os secundaristas da rede pública. Também dá bonificação para os de escolas públicas que sejam negros, pardos ou índios. Passará a vigorar já no vestibular 2005.

Na prática, todos os que comprovarem que cursaram os três anos do ensino médio em escolas públicas terão 30 pontos extras na classificação final da prova.

Os candidatos que, no ato da prova, se autodeclararem negros, pardos ou índios -e que cursaram o ensino médio exclusivamente em escolas públicas- terão dez pontos extras, além dos 30, o equivalente à metade dos 80 pontos máximos que podem ser obtidos na prova de redação.

De acordo com o professor Renato Pedrosa, coordenador de pesquisas da Comissão de Vestibulares da Unicamp, a estimativa da universidade é aumentar em 230 o número de alunos originários de escolas públicas matriculados na primeira chamada. No último vestibular, foram 690.

A pontuação extra para os candidatos será aplicada somente na segunda fase do exame, após o aluno ter computado a somatória de pontos do vestibular. A primeira fase inclui 12 questões dissertativas e a redação. ‘Não vamos aplicar na primeira fase do vestibular porque ela é eliminatória e vale apenas 120 pontos’, explicou o professor Pedrosa.

O reitor da universidade, Carlos Henrique de Brito Cruz, frisou que o programa tem como fundamento o resultado do estudo de desempenho dos alunos da universidade, feito com todos os estudantes entre 1994 e 1997.

‘O estudo apontou que os alunos que vieram de escolas públicas apresentaram desempenho acadêmico melhor do que os alunos que vieram de escolas particulares e, com isso, estamos aprimorando o processo de seleção.’

O critério de benefício étnico para alunos vindos de escolas públicas foi colocado em votação em cima da hora após pressão de grupos organizados. Pelo documento elaborado para ser levado a votação ontem, a questão seria deixada para discussão em 2005.

O critério étnico será feito por autodeclaração. ‘Vale o que estiver escrito. Se o candidato se autodeclarar negro, vale o que ele escreveu’, afirmou o reitor.

Dados da universidade apontam que, dos 50 mil candidatos inscritos para o vestibular deste ano, 6.800 eram negros. E, dos 2.810 candidatos aprovados, 317 eram negros. ‘A expectativa é ampliar isso’, destacou o reitor.

O coordenador-geral do STU (Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp), João Raimundo Mendonça de Souza, considerou um avanço a posição da Unicamp.

‘Apesar de considerar o benefício tímido, acho que conseguimos convencer a universidade da importância de existir benefícios para os negros’, disse.

Colaborou FERNANDO CAPELLÃO, das Regionais