Unicamp lança 1º remédio no mercado

O Estado de S.Paulo - Quarta-feira, 12 de setembro de 2007

qua, 12/09/2007 - 12h35 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Chegou ontem ao mercado brasileiro o primeiro medicamento comercial desenvolvido a partir de pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Uma das 500 patentes registradas pela universidade desde a década de 1980, o medicamento é o primeiro dos fármacos licenciados pela agência Inova Unicamp, criada em 2003, que chegou até agora às prateleiras das farmácias.

Feito à base da isoflavona da soja, o medicamento custa entre R$ 40 e R$ 50 e tem como função diminuir os efeitos do climatério – o período que abrange a menopausa -, como irritabilidade, insônia, stress e calores.

De acordo com dados da Embrapa Soja, a isoflavona é um fitoestrógeno que pode ser usado na prevenção de doenças crônico-degenerativas, como o câncer de mama, de colo de útero e de próstata. Sua estrutura química é semelhante à do estrógeno (hormônio feminino) e, por isso, é uma substância capaz de aliviar os efeitos da menopausa e da tensão pré-menstrual, além de ajudar a reduzir riscos decorrentes de outra deficiência hormonal, a osteoporose.

SEM EFEITO COLATERAL

“A vantagem é que estamos falando agora de um medicamento eficaz”, diz a farmacêutica Helena Meneguetti Hizo, diretora de pesquisa e desenvolvimento da Steviafarma Industrial, laboratório responsável pela produção em série do remédio desenvolvido pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. “Há muitos produtos feitos a partir da isoflavona da soja no mercado, mas com isoflavona glicosilada, com moléculas de açúcar agregadas que não são absorvidas pelo organismo. A vantagem neste caso é o uso da isoflavona aglicona, que é absorvida sem os efeitos colaterais do estrógeno sintético.”

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o mercado brasileiro oferece 18 drogas cujo princípio ativo é o glycinemax, usado no medicamento desenvolvido pela Unicamp e produzido pela Steviafarma. O laboratório, de Maringá (PR), não divulgou o valor do investimento em pesquisa e produção do remédio, mas informou que o produto está disponível em farmácias de todo o País e que a empresa já prepara lotes para exportação. O uso do medicamento é indicado para mulheres na pré-menopausa ou na menopausa, mas sempre com a prescrição de um médico. Por se tratar de produto vendido só com prescrição médica, o nome do remédio não pode ser divulgado.

Segundo o professor Yong Park, pesquisador da FEA responsável pelo projeto, o medicamento traz em sua composição aproximadamente 100% de isoflavonas de soja, na forma ativa. Essa concentração permite, segundo o pesquisador, a absorção da droga pelo organismo e a obtenção dos efeitos terapêuticos com segurança e rapidez.

PARCERIA

Para os agentes da Inova Unicamp, o medicamento é o primeiro resultado concreto da relação entre a universidade e a iniciativa privada no incentivo à transferência de tecnologia na área farmacêutica. “É importante a universidade ter uma agência de inovação responsável pela interface entre as pesquisas na prateleira e o mercado”, afirmou a agente de parceria da Inova Unicamp, Vera Crósta. “Essa parceria envolve uma série de desenvolvimentos complementares até transformar uma pesquisa embrionária em produto.”

ISOFLAVONA O que é: Um hormônio natural extraído da soja (fitoestrógeno) que atenua os efeitos do climatério, período de transição que abrange a menopausa, quando ocorre o último ciclo menstrual

Diferencial: O remédio desenvolvido pela Unicamp é absorvido sem os efeitos colaterais do estrógeno sintético, que tem moléculas de açúcar agregadas não absorvidas pelo organismo

Sintomas atenuados: Ondas de calor; insônia; irritabilidade; ressecamento vaginal; aumento de peso e da gordura abdominal, que favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares