Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estão em fase final de estudos e de preparativos para introduzir, de forma experimental no Brasil a partir de 2007, uma nova modalidade de transplante de medula óssea, voltada ao tratamento de pacientes portadores de leucemias agudas.
Segundo a Assessoria de Imprensa da Unicamp, a técnica chama-se transplante haploidêntico. Ele consiste em manipular as células de um doador parcialmente compatível (não precisando ser totalmente compatível, como é hoje em dia) garantindo que o organismo do receptor tolere a medula transplantada com sucesso.
A assessoria informa que resultados da técnica nos Estados Unidos e na Europa estão sendo promissores. De acordo com informações do professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp Cármino Antonio de Souza, que — conforme a assessoria — é um dos coordenadores da pesquisa, a nova técnica tem sido empregada experimentalmente em importantes centros de pesquisa do mundo.
No Brasil, ela tem sido estudada por dois grupos: um da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto e outro formado por especialistas do Hemocentro e da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp.
Identificação
No transplante haploidêntico, a identificação do doador fica facilitada, visto que ele pode ser parcialmente compatível. Para compreender melhor, tome o exemplo de dois irmãos. Ao nascerem, ambos recebem uma carga genética do pai e outra da mãe.
Assim, na hipótese de um deles ter que se submeter ao transplante haploidêntico, bastará que o outro, para ser o doador da medula óssea, apresente características análogas em apenas um dos dois haplótipos (combinações de polimorfismos que são transmitidos em bloco de geração para geração) do HLA, que é o antígeno de compatibilidade leucócita.
Ou seja, a probabilidade disso ocorrer é maior do que a de encontrar um doador totalmente compatível. E para que não haja rejeição do material transplantado, é necessário, ainda segundo a Unicamp, uma manipulação das células.
O que os médicos fazem no transplante haploidêntico é coletar do doador uma dose elevada de células-tronco e reprimir as células imunologicamente competentes, ou seja, aquelas responsáveis pela defesa do organismo.
Com esse material, os especialistas fazem uma espécie de enxerto, administrado no receptor. Os cuidados pós-transplante, porém, devem ser os mesmos, para evitar infecções.
Antes de a modalidade ser incluída entre os procedimentos do Hemocentro e da Unidade de Transplante de Medula Óssea do HC da Unicamp, será necessário cumprir etapas de aprovação por parte do Conselho de Ética e Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da universidade.
Outra etapa é a obtenção de recursos para o aparelhamento de laboratórios. Projeto nesse sentido já foi encaminhado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).