Unicamp é a 1ª a reproduzir pele humana

Folha de S.Paulo - Quinta-feira, 23 de junho de 2005

qui, 23/06/2005 - 10h27 | Do Portal do Governo

MEDICINA DO FUTURO

Inédita, experiência abre caminho para tratamento de queimaduras sem rejeição; falta de verba ameaça trabalho

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) conseguiram pela primeira vez no país reproduzir a pele humana em laboratório. A descoberta abre caminho para o tratamento sem rejeição em pacientes com úlceras, queimaduras e lesões ou em testes farmacológicos e de novos cosméticos.

O estudo é também o primeiro a ser publicado sobre o tema na literatura mundial, segundo a coordenadora da pesquisa, a dermatologista Beatriz Puzzi. O método foi apresentado em dois congressos, entre eles o 4º Congresso Mundial de Banco de Tecidos, em maio no Rio -o estudo recebeu o prêmio de pesquisa inovadora.

A pele é o maior órgão do corpo humano e responsável por, em média, 16% do peso corpóreo. A pesquisa levou cinco anos e teve início com estudos desenvolvidos pela dermatologista com cultura de células da pele.
Atualmente, os procedimentos são diversos e são feitos desde enxertos com substitutivos dérmicos e até peles de cadáver fornecidas por bancos de pele. Esses métodos, no entanto, apresentam risco de rejeição ao paciente. ‘A vantagem do novo método é que um pedaço da pele é retirado do próprio paciente, eliminando o risco de rejeição’, disse Puzzi.

Para ser posto em prática, o método ainda precisa passar por testes em pelo menos 20 pessoas. No entanto, a equipe que desenvolveu o processo diz não ter verbas para prosseguir as pesquisas.

‘Estamos tentando obter verbas tanto da iniciativa privada como de instituições públicas de fomento de pesquisas. Mas, se não tivermos recursos, a pesquisa será paralisada’, disse Puzzi.

Nos cinco anos de estudo -que consistiram na implantação de um laboratório e início da cultura de células- foram investidos cerca de US$ 60 mil (R$ 142 mil). ‘Não dá para avaliar quanto de recurso seria necessário para continuar as pesquisas.’ Mesmo após a fase de testes, Puzzi diz que será preciso autorização do paciente e do hospital para o implante.

Pele

Basta uma pequena amostra da pele do próprio paciente ulcerado ou queimado para a reconstrução. O material é levado para um sistema estéril em laboratório. Esse processo deve ser feito sem que haja possibilidade de contaminação, tanto na retirada quanto no transporte da amostra.

Em seguida é feita a separação da pele (em derme e epiderme) e a cultura primária de células de melanócitos e queratinócitos (presente na epiderme) e de fibroblastos (presentes na derme).

Em seguida, as culturas de fibroblastos (células que fazem parte da derme), são implantadas em colágeno bovino estéril, que servirá como base para a reprodução dos fibroblastos.

Todo o processo para chegar a todas as camadas de pele necessárias leva entre 20 dias e 30 dias.