Unicamp desenvolve relógio atômico

Correio Popular - 4/12/2002

qua, 04/12/2002 - 10h18 | Do Portal do Governo

Pesquisadores do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) concluem a construção do primeiro relógio atômico óptico do Brasil, o mais preciso feito até hoje. Só existem outros dois equipamentos do gênero no mundo, um nos Estados Unidos (National Institute of Standards and Technology, o NIST) e outro na Alemanha (Instituto de Metrologia). Há uma dezena de grupos envolvidos com projetos do gênero em todo o planeta.

O relógio será capaz de informar os segundos em até 16 algarismos, ou seja, em quatrilhões de partes de um segundo. Tanta precisão não é necessária no cotidiano das pessoas, mas o equipamento da Unicamp terá muitas outras aplicações.

Segundo o professor Flávio Caldas da Cruz, do Departamento de Eletrônica Quântica, autor do projeto, os pesquisadores terão em mãos, um oscilador extremamente estável, aplicável à física e à engenharia.

A tecnologia vai contribuir, por exemplo, com a navegação aérea e marítima, hoje dependentes de sinais de satélite para a definição da posição de aeronaves e embarcações.

O relógio atômico também vai servir nas telecomunicações ópticas, em que a transferência de dados é altíssima, e exigem equipamentos precisos para o direcionamento de fluxos e sincronização de redes.

Será útil, também, no gerenciamento da distribuição de energia elétrica. A tecnologia permite, neste caso, a medição precisa das oscilações e detecta falhas na transmissão de uma estação a outra. O relógio atômico permite medir possíveis variações em fundamentos da física, como a estrutura fina (combinação entre a luz e a carga de elétron).

Até a origem das pesquisas no setor, no século passado, a medida oficial das horas era feita por observações astronômicas. Mas o modelo baseado na rotação da Terra não é tão estável. A desaceleração do movimento exige uma correção de segundo de tempos em tempos.

Precisão

Os relógios atômicos mudaram a definição de segundo, que se baseia agora em uma transição específica do átomo de césio. A hora mundial é atualmente registrada pela média de diversos relógios atômicos instalados no mundo. Um deles funciona no Observatório Nacional, no Rio de Janeiro.

A previsão dos pesquisadores é que o equipamento da Unicamp esteja operando no segundo semestre de 2003. De acordo com Eliane Valente, responsável pela divulgação dos projetos do Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica (CePOF), se existir patrocínios privados, o relógio atômico óptico poderá ser produzido em escala, e as unidades instaladas em qualquer lugar.

O que está sendo concluído, com 30 metros quadrados, vai permanecer no laboratório Gleb Wataglin, do Instituto de Física. A execução do projeto começou no começo deste ano, e envolveu 11 pesquisadores do instituto. São dois pós-doutorandos, dois doutorando, três mestrandos, dois profissionais em iniciação científica e dois técnicos em laboratório (só estes dois de nível médio).

Rogério Verzignasse