Unesp na Barra Funda

Jornal da Tarde - Terça-feira, dia 22 de agosto de 2006

ter, 22/08/2006 - 10h48 | Do Portal do Governo

ARYANE CARARO, aryane.cararo@grupoestado.com.br

Uma das regiões mais degradadas da Barra Funda se prepara para dar uma grande virada. A Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) começou há uma semana a construir seu campus ao lado do terminal de ônibus e metrô Barra Funda.

O terreno com aspecto de abandono já recebe o agito de máquinas que vão retirar os montes de terra e nivelar tudo com a Rua Dr. Bento Teobaldo Ferraz. Daqui a um ano e meio, o mato e o entulho vão dar lugar a cerca de 1.100 pessoas, entre estudantes, professores, funcionários e visitantes.

“Vai ser uma coisa muito boa para a região. E o mais importante é que a Unesp está criando campus em São Paulo, em uma área bem localizada, ao lado do metrô”, diz o vice-reitor, Herman Voorwald. As obras da primeira etapa vão durar 18 meses.

A intenção da Unesp é, tão logo acabe a construção, transferir o Instituto de Artes (IA) do Ipiranga para a Barra Funda.

A princípio, serão construídos três prédios, criada uma passagem para pedestres, ligando a Rua Federação Paulista de Futebol ao terminal, e o muro pré-moldado de concreto, hoje semidestruído, será substituído por alambrado.

Será o fim da escuridão e do matagal que espantam os pedestres, à noite, da região.

“É muito escuro e perigoso, o pessoal morre de medo”, conta Walter Barbosa de Lima Jr., 22 anos, fiscal de ônibus, que trabalha até as 22h na Rua Dr. Bento. ” Ninguém pega ônibus aqui, eles preferem se juntar em grupo e ir até o terminal”, diz. Ele não tem dúvidas de que a região vai valorizar com a chegada dos universitários.

Mas são os comerciantes os mais otimistas. “Acredito que vai abrir mais comércio e a Barra Funda vai crescer bastante”, diz o dono da lanchonete Magnata, Paulo Afonso Silva, 44.

Se depender dos moradores, imóvel para alugar e vender vai ter bastante. “Vou colocar logo minha casa à venda. Ela foi avaliada em R$ 300 mil, mas por causa desse terreno ninguém dá. Na hora em que construir a faculdade, talvez dêem até mais”, diz a moradora Érica Borges Azanha, 30.

Ela acha que a universidade vai estimular o desenvolvimento da região, que já tem uma característica comercial e de serviços, mas vai espantar os moradores. “Já morei perto de universidade e não foi nada agradável. Era só barzinho e bagunça, sem falar que a molecada jogava litros de uísque e vinho no meu quintal”, explica.

Esperança

Érica não é a única que não quer esperar o movimento chegar. A pensionista Neide de Melo, 71, tenta há dois anos vender sua casa. Informada de que as obras já começaram, Neide renovou as esperanças. “Começou mesmo? Até que enfim! Vai ser ótimo. Quem sabe agora eu consigo vender a casa”, diz a pensionista. Mesmo que não consiga vender a casa, na rua em que mora há 67 anos, Neide fica feliz.

“Já não fica uma coisa descampada. Nesse terreno entra maloqueiro e ladrão, é perigoso. E os ratos, então?”, comenta a pensionista, filha de ferroviário.

Mas nem todos estão contentes. “A nossa preocupação é que isso interfira na vida da vila. Se hoje já está complicado porque as pessoas estacionam nos nossos portões, imagina com alunos de faculdade. Eles vão invadir nossa privacidade”, queixa-se o aposentado Marcos Barbosa, 65, morador da Rua Gaspar Ricardo Jr. Ele e os vizinhos queriam que a rua fosse fechada com cancela.