Unesp de Araraquara estuda biodiesel da cana-de-açúcar

Tribuna Impressa/Araraquara

seg, 08/06/2009 - 9h56 | Do Portal do Governo

Pesquisadores usam casca de camarão e sabugo de milho para tirar biodiesel da cana; projeto tem apoio da Fapesp

Uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista de Araraquara (Unesp) está desenvolvendo, há quatro meses, pesquisas para a produção de biodiesel a partir do bagaço da cana-de-açúcar. Desta forma, além do açúcar e do álcool (primeiro biocombustível produzido no País), também seria extraído da cana mais um produto.

Júlio César Vinueza, estudante de Doutorado, é um dos integrantes da equipe orientada pelo professor Rubens Monti. Ele explica que o laboratório da Unesp local é o de número 14 de um total de 18 que estão sendo utilizados pela instituição. “Fazemos parte da cadeia produtiva do programa Bioen, desenvolvido pelo Governo do Estado”, conta. O Bioen é o programa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) voltado para pesquisas em bioenergia.

O estudo de Vinueza e do professor Monti visam à imobilização de enzimas de produtos como a casca do camarão e o sabugo de milho de forma que eles ajudem na obtençao de biodiesel.

O principal objetivo da pesquisa realizada na cidade é obter meios alternativos e mais baratos em relação às substâncias comercializadas, como a agarose, para a imobilização de enzimas (xilanase, celulase, entre outras), reduzindo os custos da geração desse biocombustível. “Essas enzimas quebram a celulose da cana, cujo bagaço pode ser utilizado, assim, viabilizam a produção de combustível. As substâncias vendidas no mercado têm eficácia comprovada para imobilizar enzimas, mas são muito caras. Por isso, o reaproveitamento de substâncias baratas, como casca de camarão, pode reduzir os custos e também o impacto ambiental da produção”, aponta Vinueza.

Processo

O processo é iniciado com a extração das enzimas. “Fungos encontrados na natureza as produzem. Elas devem ser extraídas, isoladas e imobilizadas para que possam ser reproduzidas e reutilizadas até que suas atividades se esgotem”, relata o pesquisador.

Como forma de cultivar os fungos, é utilizado óleo de cozinha reciclado.

Para utilizar a casca de camarão, por exemplo, é necessário lavá-la, triturá-la e depois processá-la quimicamente. “É um processo simples e barato, que envolve basicamente ácido clorídrico e hidróxido de sódio. Depois da fase química, a casca se torna uma substância chamada quitina, que é novamente processada e se torna um gel chamado quitosana. É com ele que se torna possível isolar as enzimas”, detalha Vinueza.

De acordo com o pesquisador, o estudo ainda está no estágio inicial e deve durar até dois anos. “Ainda são necessários muitos investimentos. Mas, com o avanço tecnológico, é possível que os custos diminuam ao longo do tempo. Além disso, as enzimas extraídas por esse processo ficam mais baratas do que as comercializadas no mercado”, pontua.

Vinueza ressalta a importância do apoio à pesquisa científica. “Com a conciliação dos interesses de empresas e universidades, é possível ter os recursos necessários para o desenvolvimento de pesquisas como esta”, destaca.

A produção do novo biodiesel entrou na pauta brasileira em abril de 2008, quando a Santelisa Vale fechou um acordo com a Amyris Biotech, uma empresa de biotecnologia do Vale do Silício, para se tornar a primeira produtora do mundo de um novo tipo de biodiesel, produzido a partir da cana-de-açúcar. O acordo prevê a produção de 4 bilhões de litros do novo combustível, a partir de 2011, e é a primeira grande união entre uma empresa de alta tecnologia dos Estados Unidos e um produtor de álcool e açúcar do País. Até então, dentro do programa de produção de biocombustível, o Brasil já extraía óleo diesel de oleaginososas como mamoma e girassol.

Programa de Pesquisa em Bioenergia também estuda impacto dos biocombustíveis

O Programa de Pesquisa em Bioenergia da Fafesp foi lançado em julho do ano passado, com o objetivo de apoiar estudos básicos e aplicados sobre biocombustíveis, criando conhecimento fundamental para a produção sustentável e aplicações baseadas principalmente em etanol de cana-de-açúcar.

O Bioen inclui pesquisa acadêmica básica e pesquisa aplicada em colaboração entre universidades e empresas e também financia projetos com cinco diferentes abordagens: melhoramento de cultivares para produção de biomassa de cana e de outras plantas; pesquisa sobre processos de produção de bioetanol e de outros compostos de interesse da indústria; aplicações do etanol para motores automotivos (motores de combustão interna e células-combustível); biorrefinarias e alcoolquímica; e pesquisas sobre os impactos sociais, econômicos e ambientais do uso e da produção de biocombustíveis.

Combustível é obrigatório no País desde 2008

Desde 1o de julho de 2008, o óleo diesel comercializado em todo o Brasil passou a conter, obrigatoriamente, 3% de biodiesel. Esta regra foi estabelecida pela Resolução no 2 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), publicada em março de 2008, que aumentou de 2% para 3% o percentual obrigatório de mistura de biodiesel ao óleo diesel. A elevação para 3% da adição de biodiesel ao diesel evidencia o sucesso do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel e mostra que o Brasil tem condições de continuar sendo líder na produção e no uso em larga escala de energia obtida a partir de fontes renováveis. O Brasil já é o terceiro maior produtor e consumidor de biodiesel do mundo com uma produção anual, em 2008, de 1,2 bilhões de litros e uma capacidade instalada, em janeiro de 2009, de 3,7 bilhões de litros.

O biodiesel é um combustível produzido a partir de óleos vegetais ou de gorduras animais.