Uma supermáquina contra o crime

Jornal da Tarde - São Paulo - Quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

qui, 09/12/2004 - 9h27 | Do Portal do Governo

Importado da Itália, o equipamento Phoenix promete revolucionar o serviço de inteligência da Polícia Civil. Com ele, será possível identificar ladrões no momento do registro da ocorrência

RITA MAGALHÃES

Você já imaginou ir a uma delegacia para dar queixa de um roubo e, no final do registro da ocorrência, após fornecer apenas algumas características do ladrão, deparar com o rosto dele na tela do computador a sua frente? É exatamente isso o que promete a tecnologia que a Polícia Civil de São Paulo acaba de importar da Itália para revolucionar seu serviço de inteligência.

O equipamento, chamado Phoenix, só não sabe falar. Nos moldes do que se vê nos filmes policiais americanos, o aparelho mede, fotografa em vários ângulos, ouve e grava a voz, as características físicas, digitais e os dados pessoais e criminais do indiciado para futuras comparações.

Apelidado de ‘cadeira elétrica’, por causa de sua aparência, o Phoenix também será utilizado para confecção de retratos falados e para identificar pessoas por meio de nomes ou apelidos, digitais ou fragmentos de digitais, características ou sinais identificadores (como tatuagens e cicatrizes), maneira de praticar o crime e até mesmo pela voz.

E isso não é sonho para ser realizado apenas em 2010. Dezessete supermáquinas já estão sendo instaladas nas principais unidades policiais do Estado desde 2002: o Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), o de Homicídios DHPP, Crime Organizado (Deic), as cinco delegacias seccionais da Capital, os sete Departamentos de Polícia Judiciária do Interior (Deinter) – Santos, Campinas, Bauru, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São José dos Campos e Sorocaba – da Capital (Decap) e da Grande São Paulo (Demacro).

A estimativa do Departamento de Inteligência (Dipol), que coordena a instalação do sistema no Estado, é de que os equipamentos estejam em pleno vapor já em março de 2005. ‘Vamos tirar em três anos um atraso de 30 anos na tecnologia policial’, afirmou o diretor do Dipol, Massilon José Bernardes.

O delegado André Dahmer, da Divisão de Tecnologia do Dipol, explica que as máquinas vão trabalhar integradas a outros dois sistemas: o Registro Digital de Ocorrência RDO e o Ômega, um projeto desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina capaz de capturar e confrontar dados de vários bancos de dados distintos como, por exemplo, do Detran, IIRG (Instituto de Identificação), Phoenix, Pessoas Desaparecidas e até da Junta Comercial.

O RDO é um sistema avançado que padroniza o registro dos boletins de ocorrência em todo o Estado. Para cada natureza de crime existem campos diferentes a serem preenchidos – por exemplo, roubo de notebook. Ao preencher o documento, o escrivão vai ter, obrigatoriamente de perguntar à vítima as características físicas do ladrão, cores da roupa que usava, se estava a pé ou de veículo, tipo de veículo, entre outros itens.

‘Dessa forma, se um criminoso roubar um banco em Rosana (no extremo oeste do Estado) com um Alfa Romeo branco, e depois usar o mesmo veículo para um outro crime em outro município, o próprio sistema vai apontar a coincidência’, explicou Dahmer.

Projeto já custou R$ 43 milhões

Iniciado em outubro de 2002, o Programa de Modernização do Departamento de Inteligência da Polícia Civil consumiu até agora R$ 43 milhões, sendo R$ 13 milhões gastos somente com a aquisição de equipamentos de ponta como o Phoenix e o Guardião – só este último é capaz de interceptar simultaneamente 1.600 linhas telefônicas.
Além dos Phoenix fixos nas 15 unidades policiais, a Polícia Civil comprou outros dois aparelhos – um portátil e um móvel instalado numa van -, que ficarão circulando para atender os casos graves e importantes.

Uma utilidade da supermáquina móvel será localizar procurados em locais de aglomeração, como num campo de futebol.

Nesse caso, basta a Polícia Civil inserir um CD com os dados dos procurados e instalar o equipamento, com leitura de digitais, no portão de entrada.

Se uma das pessoas procuradas for localizada, a máquina emite um sinal positivo avisando o policial. O cronograma da Polícia Civil prevê informatizar todas as delegacias do Estado até o final de 2006. O primeiro passo será a instalação do Registro Digital de Ocorrência RDO e do Infocrim (Serviço de Informações Criminais) em todos os Departamentos de Polícia Judiciária do Interior (Deinter).

Para isso, nos últimos dois anos, o Dipol comprou mais de 1.500 microcomputadores, impressoras laser e matriciais, scanners de mesa, etc. A informatização total das delegacias custará R$ 143 milhões.