Uma noite com os caça-ratos do metrô

O Estado de S. Paulo

seg, 29/06/2009 - 7h43 | Do Portal do Governo

Operação de limpeza se repete diariamente nas estações paulistanas

Todas as 55 estações do metrô paulistano estão fechadas entre 1h e 4h40. Engana-se, entretanto, quem pensa que o silêncio reina absoluto nos túneis, plataformas de embarque e áreas operacionais. Na madrugada, o corre-corre dos cerca de 2,3 milhões de passageiros por dia dá lugar a uma multidão de funcionários: equipes de limpeza, operários de manutenção e os caçadores de ratos, baratas, cupins, aranhas e escorpiões. São esses últimos que a reportagem do Estado acompanhou por uma madrugada.

O esquadrão antipragas tem um mapa próprio do metrô. Seus 32 integrantes dividem os 30 milhões de m² ocupados pelas estações e pelo entorno – um raio de 50 metros – em 76 trechos. Em média, quatro trechos são percorridos por noite. “É um trabalho constante”, define o supervisor da área, Eduardo Moraes de Souza. É a essa constância, aliás, que a companhia atribui o baixo número de animais recolhidos. São apenas seis carcaças de ratos encontradas por mês – encaminhadas a um incinerador. Acredita-se, entretanto, que muitos não são encontrados porque morrem envenenados nas tocas.

“Vivo é difícil achar mesmo. Mas morto até que a gente encontra às vezes”, afirma Benedito Bueno, que há três anos integra a equipe. Quando a reportagem acompanhou o trabalho, realizado na Estação da Sé, nenhum animal foi encontrado – nem vivo nem morto. Para a decepção de repórter e fotógrafo.

Há mais de 30 anos, o método de extermínio dos bichos indesejados do metrô é coordenado pelo médico veterinário e higienista ambiental Angelo Boggio. “Um animal precisa de três condições básicas para sobreviver: água, alimento e abrigo”, resume. “O segredo é eliminar um ou mais itens desse tripé.”

As armas desse combate são ratoeiras adesivas, inseticidas líquidos – no ano passado, foram aplicados 5,6 mil litros -, gel tóxico – 1,8 mil peças por ano – e sachês com iscas de veneno – 240 mil por ano. “Usamos três fórmulas diferentes, alternadas, para que a praga não crie imunidade”, explica Souza.

O combate às pragas não é apenas uma questão de saúde pública ou de higiene. Se não forem tomados cuidados, esses indesejados animais tornam-se um problema operacional. “Os ratos podem roer os cabos de eletricidade e, consequentemente, causar danos operacionais”, exemplifica o supervisor. “Já as baratas são condutoras de energia elétrica. Podem causar um curto-circuito.”

De acordo com o esquadrão antipragas, estações abertas, que ficam no nível da rua, em geral são mais vulneráveis aos bichos. O acesso é facilitado e o ambiente, menos inóspito. “Na Estação Tatuapé, por exemplo, é mais comum encontrarmos iscas roídas”, diz Souza. Baratas e ratos aparecem em proporções iguais nas 55 estações paulistanas. Alguns animais, entretanto, predominam em regiões peculiares. É o caso dos escorpiões, vistos mais vezes nas Estações Tucuruvi e Patriarca.

Operação

Nos trechos escolhidos a cada noite, a operação se divide em duas frentes: há o trabalho no entorno, uma área de cerca de 50 metros de diâmetro ao redor da estação; e a ronda na estação, nos trilhos – que são desenergizados, sempre à 1h – e nas áreas operacionais.

Do lado externo, os funcionários realizam a aplicação de inseticida líquido e colocam, nos bueiros, sachês com iscas de veneno para os ratos. “É um bichinho que perturba, né?”, diz Idelmir Costa Silva, para justificar o ofício de matador de ratos. Divididos em grupos de dois ou três integrantes, os funcionários têm à mão um kit com lanterna, balde, óculos de proteção, máscara, bomba – para esguichar veneno – e um bom estoque de sachês. Vestem capacetes e luvas.

Mas é dentro da estação que a operação é mais interessante e instrumentos como a lanterna são mais úteis. Pelos trilhos, sachês são depositados a cada 40 metros. E o trabalho não termina aí. Há uma segunda etapa, em que o serviço é feito nas galerias – que ficam embaixo das plataformas de embarque e servem como estrutura aos trilhos. São apertadas, escuras, de difícil acesso – em algumas estações, é preciso descer por uma escada tipo marinheiro – e cheias de cabos de energia elétrica. Algumas são tão estreitas que obrigam o funcionário a andar se arrastando.

“A pior é a da Consolação”, conta Jeferson Passos de Brito. “Lá você entra branco e sai preto.” Ao lado, o colega Marcelo Nascimento da Silva apenas balança a cabeça, concordando. Na Estação São Bento há um vão que fica a 40 metros de profundidade. Para acessá-lo, a equipe precisa passar por túneis de 1,5 metro de diâmetro.

Os 117 trens do metrô também são desinsetizados. Painéis elétricos, cabine do operador, base de bancos e bolsas de portas recebem os produtos a cada três meses.